Um projeto de lei em tramitação na Câmara de Vereadores de Joinville propõe obrigar estabelecimentos a usarem e fornecerem aos clientes apenas canudos de papel biodegradável ou reciclável. A regra passaria a valer para restaurantes, lanchonetes, bares e similares, barracas de rua, food trucks e vendedores ambulantes.
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A pauta já foi aprovada nas comissões de Legislação e Urbanismo, mas ainda precisa passar pelas de Saúde e de Economia. Caso receba parecer positivo em ambas, ficará disponível para ir à votação em plenário. O projeto é de autoria do vereador Fabio Dalonso (PSD). Na justificativa da proposta de lei, ele afirma que a cidade não poderia ficar de fora de uma discussão que está sendo feita em todo o mundo.
— Ninguém ficará sem o canudinho. Ele não vai deixar de existir, só vai passar a ser feito de um material sustentável, biodegradável — ressalta o texto.
O projeto também prevê pena de multa para quem não cumprir a obrigatoriedade. Os valores teriam de ser determinados pela Prefeitura durante a regulamentação da lei. A proposta ainda estabelece que o Executivo teria 180 dias para regulamentar o texto.
Em São Francisco do Sul, uma lei que também prevê apenas o uso de canudos recicláveis ou biodegradáveis foi aprovada no Legislativo e sancionada pelo prefeito. Ela foi publicada em 1º de outubro e agora há 90 dias para entrar em vigor.
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Estabelecimentos já começaram a fazer mudanças
Mesmo antes da definição em relação ao projeto em análise na Câmara de Joinville, alguns estabelecimentos já se anteciparam e aboliram os canudos de plástico. Há cerca de três meses, um café da região central da cidade passou a usar apenas canudinhos biodegradáveis. Segundo o gerente Otávio Wienhage, todas as grandes cafeterias brasileiras e do exterior estão seguindo este mesmo caminho da sustentabilidade.
— É um custo mais alto para a gente, mas se for colocar na ponta do lápis não tem um impacto tão grande. Se colocar em grande escala e contar os novos clientes que recebemos só por causa dessa mudança, é algo que acaba se pagando — explica.
A vendedora Jéssica Fernanda Vieira, 27 anos, é uma frequentadora assídua do café e notou a diferença logo quando recebeu o novo canudo, principalmente por ter uma embalagem diferente da comum. Ela conta que sempre teve o hábito de aceitar os canudos quando bebia algo. Atualmente, nem pega mais dependendo do que for beber, mesmo sendo biodegradável.
— Eu gostei da mudança porque hoje a gente está querendo cuidar mais do meio ambiente. Ainda são alguns anos para se decompor, mas é muito menos do que um de plástico — defende.
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Especialista aprova uso de alternativas ao plástico
A discussão sobre a proibição do uso de canudos de plástico já vem acontecendo em diversos países do mundo. O principal tópico é o impacto que o material causa no meio ambiente. Segundo o Fórum Econômico Mundial, existem 150 milhões de toneladas métricas de plásticos nos oceanos e cientistas apontam que essa presença será maior do que o número de peixes até 2050.
Além de impactar diretamente na vida dos animais, os canudos de plástico podem levar mais de 100 anos para se decompor. Por outro lado, dependendo da composição dos biodegradáveis, eles podem levar meses, semanas ou até poucos dias para acontecer a decomposição do material.
Segundo a bióloga e professora da Univille, Michele Cristina Formolo Garcia, a troca para canudos de papel já seria um grande benefício para a velocidade na degradação desse material. Eles são mais acessíveis economicamente para serem aplicados comercialmente na cidade do que os biodegradáveis, por exemplo.
— O de papel é mais em conta porque já tem empresas produzindo e uma linha estruturada. Os biodegradáveis que estão no mercado hoje acabam sendo mais caros, até porque têm processos de produção diferenciados.
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A pesquisadora ainda aponta que o canudo é pequeno e talvez não cause um impacto tão grande no meio ambiente, como outras coisas que também são feitas de plástico. No entanto, ela acredita que a discussão sobre o uso desse material pode ser o início de um debate a respeito do impacto de outros materiais no meio ambiente.
Estudos com bactérias que aceleram degradação
Hoje, os canudinhos de plástico são feitos com um polímero (composição química) petroquímico. A química e professora da Univille, Ana Paula Testa Pezzin, é uma das profissionais que trabalham na universidade com o desenvolvimento de biopolímeros sintetizados por bactérias.
Segundo ela, essa composição se apresenta como uma solução ecologicamente mais viável. A pesquisadora explica que quando esse material é depositado no solo, as bactérias produzem enzimas que comem o polímero, reduzindo o tempo de degradação.
— Dependendo do polímero com que você trabalha, a degradação pode levar de cinco a dez dias. A gente trabalha com a celulose bacteriana, que além de ser biodegradável também é comestível — explica.
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A especialista explica que um canudinho produzido com essa celulose poderia ter o acréscimo de algum sabor e, no final, ainda se tornar comestível. Apesar de não fazer parte da linha de pesquisa do grupo na Univille, esse tipo de produto já existe e tem um preço mais elevado.