Graças à precipitação da internet, já vazou nos melhores piratas do ramo o novo disco do Teenage Fanclub. Isso quer dizer que não é preciso mais esperar até a data oficial de lançamento, 9 de setembro, para escutar Here de cabo a rabo, familiarizar-se com cada refrão e restaurar a fé na humanidade. Enquanto a banda estiver em atividade, a promessa de um mundo menos descartável nunca deixará de ser cumprida. Pois pouquíssimos representantes da cena atual podem batizar um single de I’m in Love sem ironia e não parecer meio bobocas. Esses escoceses podem. E a gente acredita, sofre e sonha com eles.
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O Teenage Fanclub é como aquele carinha que, na época da universidade, não era valorizado porque havia concorrentes mais bonitos, mais fortes e/ou mais ricos. Com o passar dos anos, porém, só ele manteve o mesmo manequim e a mesma quantidade de cabelos. Da estreia em 1990 até agora, o grupo viu o grunge surgir, o rap se popularizar, a eletrônica virar axé – e, salvo um ou outro arroubo de guitar band, continuou a beber de The Byrds e Big Star até forjar sua própria concepção de pop. Ora bucólico, ora faceiro, mas sempre naquela cadência que, neste décimo trabalho, desemboca em Hold on ou em I Have Nothing More to Say.
O que se configura em um problemaço para a maioria dos artistas – parar no tempo -, no Teenage Fanclub funciona como uma bênção. É justamente essa certeza que a torna tão adorada; essa garantia de que, não importa a moda vigente, em qualquer álbum da banda haverá um punhado de canções extemporâneas como Steady State. Para Norman Blake, Raymond McGinley e Gerard Love, os três remanescentes da formação original, “zona de conforto” é onde escolheram ficar. Seja qual for, deve ser um lugar imune aos solavancos da indústria da música, terno & quentinho como o mais belo poente.
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Ladainha estéril
A nova série do Netflix, The Get Down, parte de um drama fictício tendo como pano de fundo o surgimento do hip hop. Imagine como um enredo desses poderia ser embalado com pioneiros como Grandmaster Flash, Sugarhill Gang, Kurtis Blow e demais bambas do período. Mas nenhum deles aparece na trilha sonora, recheada de nomes irrelevantes. Tirando uma Donna Summer aqui, um Fatback Band ali – exemplos da disco e da black music na transição para o ritmo e poesia das ruas -, impera uma ladainha estéril. Não dava mesmo de se esperar muita coisa de uma coletânea que abre com Jaden, filho de Will Smith.
LANÇAMENTOS
Thee Oh Sees, A Weird Exists – A guitarreira de garagem faz do grupo de San Francisco um dos mais cults da nova safra. Nova, vírgula: o grupo perambula por aí desde 1997 e, a cada lançamento, reforça sua crença inabalável na zoeira. Ouça o single Plastic Plant e descubra que barulho e melodia podem atordoar juntos.
The Outs, Percipere – Em seu primeiro disco cantado totalmente em português, a banda carioca aborda a percepção como tema principal. O conceito, para lá de abstrato, fica bem claro em Ainda me Lembro, psicodelia setentista que desarma a mente e prepara o espírito (ou vice-versa) para a diversidade de estilos que vem a seguir.