Quem passa pela Praia do Sonho, em Palhoça, ao lado do posto policial, nem imagina que no prédio com mais de mil metros quadrados deveria funcionar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) 24 horas. A construção, que já custou mais de R$ 1 milhão, está completamente abandonada há quase dois anos, com o mato tomando conta e até a placa da obra desapareceu. Enquanto isso, o atendimento de urgência e emergência mais próximo para os moradores da região fica a 35 quilômetros de distância.
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Rachaduras, infiltrações, reboco desmanchando, paredes, portas e pisos tomados pelo limo, água empoçada, goteiras e até parte do forro caído. Esta é a situação da obra que deveria ter sido concluída em outubro de 2016, mas está parada desde maio daquele ano. O pedreiro Eduardo de Simas, 58 anos, chegou a trabalhar na construção do prédio entre 2015 e 2016. Morador do bairro, ele, assim como todos os vizinhos, quer saber quando a UPA será entregue à comunidade.
– A saúde está jogada, isso é dinheiro público e faz falta para nós, ia ser útil para toda a região. Alguém tem que responder por que fizeram isso aqui e não terminaram. Essa obra tem que ficar pronta e ser entregue ou alguém tem que responder pelo dinheiro que foi gasto aqui dentro – diz o pedreiro.
Segundo Simas, o prédio, além de abrigar alguns animais, como insetos e roedores, possui caixas com equipamento de radiografia, o mesmo que foi mostrado no Jornal do Almoço em julho do ano passado.
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– Esse aparelho chegou em dezembro de 2015, até achei que iam inaugurar. Mas até agora nada. Um dia fui fazer um raio x na UPA do Bela Vista e não tinha o aparelho, mas esse continua aqui se deteriorando.
O enfermeiro André Vilson Francisco, 36, acrescenta que parte do material da obra, como ferros e blocos de concreto, foram roubados e que a situação só não está pior porque há um posto policial ao lado. Quando a reportagem da Hora esteve no local, uma das janelas da construção estava aberta e qualquer pessoa poderia entrar.
De acordo com André, que trabalha na área da saúde, o pronto atendimento mais próximo da região fica a 35 quilômetros.
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– Depois das 21h a gente não tem atendimento nenhum e, devido à distância, o Samu demora uma hora, uma hora e meia e, dependendo do caso, pode levar a óbito. Um cálculo renal, por exemplo, não tem risco de vida, mas é uma dor insuportável. Se ataca isso às 22h e a pessoa não tem carro, tem que pegar dois ônibus até a UPA no Bela Vista, e depois das 23h não tem ônibus, imagina, até lá tu morre de dor. Coisa básica que ninguém dá valor – relata.
Equipamentos já estão lá
Sobre os equipamentos que estão no prédio, a Secretaria de Saúde afirma que as caixas guardam uma impressora radiológica, acessórios e geradores de energia. Os materiais foram entregues no local com o auxílio de guindastes porque são muito pesados, por isso não foram retirados. “O aparelho principal, responsável pelo exame, está sob os cuidados da gestão da pasta”.
Até o momento, foram gastos aproximadamente R$ 1,26 milhão na obra. Os recursos são do Ministério da Saúde, que já pagou duas parcelas e a última, de R$ 140 mil, deve ser repassada após a conclusão da obra. De acordo com a prefeitura, 80% da obra está concluída e vai, assim que estiver pronta, expandir o serviço de urgência e emergência na região sul do município.
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Nova licitação
A Prefeitura de Palhoça informa que um novo edital de licitação será lançado para contratar outra empresa que concluirá a obra. O município conseguiu que o Ministério da Saúde prorrogasse o prazo para entregar a UPA até junho de 2018. A obra deveria estar pronta desde outubro de 2016 e já teve o prazo prorrogado para fevereiro deste ano. Segundo a prefeitura, a antiga construtora não cumpriu os prazos previstos em contrato. Além disso, teria se negado a receber as notificações, sendo a última publicada no Diário Oficial do Município em dezembro de 2017.
Em julho do ano passado, a secretária de Saúde, Anna Paula Heiderscheidt, disse que a obra estava parada porque fiscais da prefeitura perceberam irregularidades na execução do projeto e a empresa tinha sido notificada. O contrato com a antiga empresa está em processo de rescisão. Enquanto isso, a prefeitura finaliza os projetos e orçamentos para a abertura de um novo edital de licitação.
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