Planejamento. Este é o segredo da Chapecoense segundo seu presidente, Sandro Pallaoro. O paranaense que adotou Chapecó para morar há cerca de 15 anos, esteve presente em todas as conquistas dos últimos seis anos e também teve algumas decepções. Diretor de futebol que ajudou um time “Sem Série” a conquistar o vice-campeonato Catarinense de 2009, que deu vaga para a Série D. No mesmo ano, a Chapecoense subiu para a Série C. Foi lançada então a “Operação Série B”. Só que no ano seguinte a Chapecoense quase foi para a Segundona do Catarinense. Só não caiu graças a uma desistência “salvadora” do Atlético de Ibirama no final do campeonato. A má campanha custou o pescoço do então presidente e dos diretores de futebol, entre eles Pallaoro. No final do mesmo ano, Pallaoro voltava ao clube, então como presidente. Foi campeão em 2011. Mesmo assim enfrentou alguma resistência e, em 2012, surgiu até uma chapa de oposição, que desistiu após a conquista do acesso para a Série B. Ainda inexperiente na Série A mas já com alguns calos no mundo do futebol, Pallaoro diz que vai seguir a mesma receita para não faze feio na Série A. E já sabe com quem contar para isso. Com a força da torcida da Arena Condá. Confira a seguir a entrevista exclusiva que ele concedeu ao Diário Catarinense, dias antes de confirmar o acesso.

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Diário Catariensne – O que representa subir para a Série A?

Sandro Pallaoro – Vai mudar tudo. Para começar a cota de tevê passa de R$ 3 milhões para R$ 20 milhões. Vamos estar entre os 20 maiores clubes do Brasil no ano da Copa do Mundo. O mundo inteiro vai estar voltado para o Brasil. O legal é que há alguns anos o objetivo da Chapecoense era disputar o campeonato estadual. Não é uma crítica, pois eram outros tempos. Em 2009 começamos a projetar que o clube tinha que ter calendário o ano inteiro. Os jogadores não queriam vir porque o contrato era só por quatro ou cinco meses. O torcedor não queria se associar porque só tinha jogos quatro ou cinco meses. Isso também não atraía o patrocinador. Nós traçamos o objetivo de disputar a Série D e logo subimos para a Série C. E o grande feito foi depois ter subido para a Série B. Aí foi um salto e hoje vai disputar a Série A contra Corinthians, Inter, Flamengo, Grêmio, São Paulo, Cruzeiro e Atlético-MG. Antes nós tínhamos que pagar para esses times virem aqui. Ou então torcer para pegar eles na Copa do Brasil. Agora toda a região vai poder ver esses times jogando aqui. A cidade ganha, o comércio ganha e Chapecó terá visibilidade no mundo inteiro.

DC – Além disso é um momento histórico.

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Pallaoro – Muitas pessoas vão valorizar isso daqui a cinco, dez anos. A gente sabe da importância que é isso. Mas o mais importante é ver a alegria do povo. Isso não tem preço.

DC – Como a Chapecoense conseguiu saltar de uma Série D em 2009 para a Série A, tendo dois acessos seguidos nos últimos dois anos?

Pallaoro – É o fenômeno verde e branco que o Brasil inteiro está querendo saber. Esses dias estivemos em Passo Fundo e dirigentes de lá disseram que querem nos visitar para saber como fizemos. Sinal que estamos no caminho certo. A Chapecoense cumpre suas obrigações. Não contratamos jogadores com salários astronômicos. Está para sair uma lei que pune com perda de pontos clubes que não pagam suas dívidas. A Chapecoense começou na frente de todos. Ficou provado que, com poucos recursos, mas com planejamento, pode dar ótimos resultados. O grande feito é que a região abraçou. Temos torcedores no Oeste Catarinense, no Norte do Rio Grande do Sul e no Sudoeste do Paraná. Em Pato Branco-PR temos torcedores que vão se associar na Série A.

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DC – Quais outros fatores? Vocês tem um teto salarial para evitar disparidades, isso?

Pallaoro – Não dá para ter um cara que ganha R$ 100 mil e os outros que ganham R$ 10 mil. Isso é ruim para o grupo. Mas o primeiro passo é planejar. Depois tem que cumprir o planejamento. Não vamos trocar o treinador se ele perde duas partidas seguidas. Claro que às vezes é inevitável mas a gente procura contratar bem para não precisar trocar. Depois cada um faz sua parte no clube. Além disso há uma simplicidade em fazer as coisas. Não há uma parede entre o presidente, jogadores e a tia que lava a roupa. Fizemos jantares de aniversário onde vão dirigentes, jogadores e familiares. Minha esposa está nos jogos e as mulheres se reúnem para ver os jogos fora. Temos esse negócio família. E quem chega é acolhido. O mérito é essa simplicidade com comprometimento.

DC – Nesse período teve um ano que não deu certo, 2010, em que o clube foi quase rebaixado, o que houve e que lições que tiraram disso?

Pallaoro – Eu era diretor de futebol desde 2008. Fomos vice-campeões em 2009 e conquistamos a vaga na Série D, e, no mesmo ano, a vaga para a Série C. No ano seguinte a Chapecoense fez uma campanha ruim. Naquele ano cometemos um erro de demitir o técnico Mauro Ovelha em vez de mandar embora três ou quatro jogadores. Isso ficou de lição. Outro aprendizado é que a política é boa e tem nos ajudado, mas fora de campo. Também aprendi a conhecer as pessoas que estão do teu lado. Depois que o time foi quase rebaixado, só não foi porque o Atlético de Ibirama desistiu do campeonato, houve uma pressão para que o Nei (Nei Mohr, conhecido como Nei Maidana) renunciasse. Eu e o Jandir Bordignon, que éramos de confiança dele, pedimos que nos demitisse. No final do ano teve eleição e eu assumi como presidente. Posso dizer que participei de todos os acessos.

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DC – O objetivo da Chapecoense era permanecer na Série B, quando vocês viram que dava para subir?

Pallaoro – Como a Série B era um campeonato novo para nós, o planejamento era para nos mantermos, pois era muito bom continuar nesse patamar. Quando deu a parada da Copa das Confederações e nós estávamos líderes vimos que tínhamos condições de brigar para subir. Aí fomos buscar mais alguns jogadores.

DC – Esse momento também foi o de maior risco, com propostas para a comissão técnica, Bruno Rangel, Fabinho Alves….

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Pallaoro – Por isso fomos firmes em não liberar ninguém. Depois o Rafael Lima, no vestiário, falou -Eu quero jogar a Série A, todo mundo quer, então vamos subir todos juntos.

DC – Também foi importante manter a base que propiciou uma boa arrancada, certo?

Pallaoro – No nosso planejamento o objetivo era manter uma base de um ano para o outro. Quando subimos da Série C para a Série B conseguimos manter a base. No time titular que iniciou a Série B só o Fabinho Gaúcho e o Fabinho Alves, depois o Bruno Rangel, que não estavam na Série C.

DC – Como está a montagem do grupo para a Série A?

Pallaoro – Já estamos conversando com os jogadores e a comissão técnica. Penso que há a intenção da comissão em permanecer. Claro que a gente não vai conseguir segurar todo mundo. Mas tem que ficar algumas peças principais. Temos que fazer um esforço para mantermos dez a 12 jogadores. Já temos contratos com o Fabiano e o Fabinho Alves, até o final de 2014, e com o Rafael Lima e Soares, até maio.

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DC – Quais os planos para 2014?

Pallaoro – Temos um novo ônibus, que foi doado, o Centro de Treinamento fica pronto em fevereiro, a prefeitura vai ampliar o estádio e nós vamos profissionalizar alguns setores, como o marketing e o departamento jurídico. Confirmando o estádio para 20 mil pessoas, queremos aumentar os sócios para 12 mi a 15 mil. Vamos renegociar placas e patrocinadores. Mas já temos a confirmação da Caixa, Aurora e Unimed. Contratamos uma empresa para fazer a avaliação da marca para fixar os valores.

DC – Quanto vai aumentar o orçamento?

Pallaoro – Devemos passar dos R$ 12 milhões para algo entre R$ 30 milhões e R$ 36 milhões.

DC – Como fazer frente aos grandes clubes que tem orçamentos milionários?

Pallaoro – Tem que ter força dentro de casa. Serie A e Serie B tem que ter um bom aproveitamento em casa.

DC – Como evitar o bate e volta?

Pallaoro – Planejando e tendo uma equipe forte dentro de casa. Vamos usar a força do torcedor. Nos últimos anos temos um aproveitamento de mais de 70% em casa. No ano passado perdemos só duas partidas aqui e, neste ano, só uma.

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