Carioca da gema, Rui Godinho (PSL), novo presidente da Fesporte, foi criado em uma das maiores favelas da cidade maravilhosa, no bairro Jacarezinho. Filho de um barbeiro e de uma empregada doméstica, ele conheceu o jiu-jitsu e se apaixonou pelo esporte.
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Viu que pelo tatame poderia conquistar coisas inimagináveis para alguém nascido em uma comunidade. Veio para Blumenau passear em 2002 e gostou da cidade. Decidiu se mudar e deu aula de História na rede estadual de ensino, até que passou em um concurso público e virou policial civil, em 2006.
Foi candidato à Câmara de Vereadores blumenauense em 2016 pelo PSD, onde conquistou 1.675 votos. Neste ano, concorreu à Câmara dos Deputados pelo PSL e teve 56.785 votos. Em entrevista à coluna, Godinho falou sobre as ideias à frente da Fesporte e como deve ser a gestão. Confira:
Como foi receber o convite e por que aceitou ser presidente da Fesporte?
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Minha vida toda foi dentro do esporte. Sou oriundo do jiu-jitsu, comecei a praticar a modalidade em dezembro de 1991. No ano seguinte já fui campeão estadual, com 17 anos já era líder do ranking de Santa Catarina e sei a dificuldade que é se manter no esporte, que é uma das áreas que mais sofre. Quando falta dinheiro, é do esporte que se tira. O esporte mudou minha vida. Nasci dentro de uma comunidade no Rio de Janeiro, não tinha expectativa de que minha vida pudesse ser diferente do meu pai e da minha mãe. O esporte me deu metas e me mostrou que se eu pudesse vencer dentro do tatame, com pessoas que estavam lá há mais tempo e com condições financeiras melhores, eu poderia vencer qualquer coisa. A oportunidade que eu tive, quero dar a outras pessoas, e mostrar que o esporte pode estar lado a lado com a educação e que além de ser saúde, também é um meio de prevenção em segurança pública. Aceitei para isso. Não foi por dinheiro.
O que vai marcar a gestão de Rui Godinho à frente da Fesporte?
Vou fazer com que o dinheiro chegue onde realmente precisa. Para o atleta, para a modalidade. Nós vimos que o dinheiro estava sendo gasto de forma indevida. Não estou aqui para acusar ninguém, mas acredito que eu possa fazer de forma diferente. Reduzir cargos lá dentro, usar a tecnologia. Hoje a gente não pode mais fazer chaveamento de campeonato de forma manual. Existem programas que podem ser utilizados e que podem facilitar a vida. Não há necessidade de tanta gente junta para executar a mesma função. Vamos trazer a Fesporte para dentro da comunidade, da associação e reaproximar a fundação da educação.
O senhor falou que o dinheiro era mal gasto. O que significa isso na prática?
Fui à Fesporte para dar uma olhada no que se gasta lá. Tem eventos que envolvem poucas pessoas e que recebem muito dinheiro, cujo retorno não é grande e onde a iniciativa privada poderia estar junto. Acho que a Fesporte poderia usar esse dinheiro para fomentar projetos sociais e fazer com que as pessoas que não têm condições de entrar no esporte, pratiquem alguma modalidade. Não dá para a gente gastar dinheiro com aqueles que não precisam. Hoje se eu comprar uma bola de futebol, não vou entregá-la para um clube profissional, e sim para uma associação de moradores, por exemplo, onde as crianças não têm condição de comprar uma bola. Se dá muita coisa para quem não precisa e para quem realmente precisa, não chega.
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Se eu comprar uma bola de futebol, não vou entregá-la para um clube profissional, e sim para uma associação de moradores.
Sempre se fala que a estrutura da Fesporte é inchada e que lá existe um grande cabide de empregos para comissionados. Como essa questão vai ser tratada na sua gestão?
Com certeza haverá cortes. Uma das coisas que vamos implementar é a informatização, para que façamos muito mais, com muito menos, isso tanto em recursos financeiros, como em pessoal. Não tem condição de eventos da Fesporte começarem só em abril ou maio. Temos que encher o calendário. Se é para continuar as mesmas pessoas que estão lá dentro, não tem problema. Mas elas vão trabalhar o dobro do que trabalham hoje.
Quando o senhor fala em cortes, podemos imaginar o quê?
Tem muitas coisas que a gente pode cortar até no material que está sendo utilizado lá. O dinheiro tem que ser usado em modalidades esportivas, e não para trazer luxos para quem tá lá dentro. Isso não dá. Estou indo para lá para que o atleta possa desempenhar a atividade dele, e para isso precisa de dinheiro. Não vamos gastar com dirigentes.
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O que quer dizer com “luxo”?
Lá na Fesporte, por exemplo, têm garrafinhas de águas à disposição. Para que ter isso se há bebedouros? Não podemos pegar água, colocar em uma jarra, cada um ter sua caneca, trazer garrafinha de casa? É um exemplo pequeno, mas são coisas poucas assim, mas que somados é demais e que poderia chegar ao atleta. É um exemplo pequeno só para mostrar o que dá para fazer.
Vai ter exoneração?
Não há funcionários efetivos na Fesporte, então algumas pessoas voltarão para suas origens, sim. Hoje muitos dos funcionários que estão lá são cedidos pelo Estado. Até por isso queremos fazer um concurso público e colocar efetivos dentro da Fesporte, para que mesmo com mudanças de governos não haja impacto na gestão da fundação. Queremos também cortar parte dos terceirizados e informatizar tudo que possa ser informatizado. O site da Fesporte, por exemplo, só funciona no computador. Via celular, as configurações ficam erradas.
O senhor pensa em alguma mudança na estrutura dos Jogos Abertos, ou mantém da forma que está?
Os Jogos Abertos têm dado certo até hoje. O que nós vamos fazer é fomentar para que as pessoas tenham mais interesse pela competição. Eu aguardava dos Jasc para poder participar. Hoje não se vê mais isso. Em algum momento houve uma falha. Como nós podemos recuperar o glamour dos Jogos Abertos? Antigamente nós tínhamos vários veículos de comunicação que cobriam as competições. Hoje a gente só sabe que os Jasc estão acontecendo. Mas não sabe quem ganhou, como foram os jogos. É diferente. Os Jogos Abertos não têm mais glamour e eu quero recuperar isso. O incentivo ao atleta, à iniciação esportiva, e a manutenção das atividades durante o ano quem sabe sejam o incentivo para que os Jogos Abertos voltem a ter aquele charme.
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Temos que reduzir gastos e cortar coisas que possam parecer ser privilégios.
O discurso do PSL é muito de “abrir caixas pretas” em contas públicas. Tem farra de diárias na Fesporte?
Antes que eu entre lá vai ser feita uma auditoria para averiguar o que foi gasto, onde foi gasto. Minha intenção não é fazer uma caixa às bruxas, mas tudo que aparecer, independente da gestão, e for errado, o Ministério Público e governo do Estado terão noção. Temos que reduzir gastos e cortar coisas que possam parecer ser privilégios. Não estamos lá para perseguir ninguém, estamos lá para fazer com que o dinheiro público seja utilizado por quem é de direito, que é a sociedade.
Quais são as metas?
Ampliar as modalidades que são atendidas pela Fesporte. Aproximar a Fesporte das federações e das fundações municipais de esporte. Reduzir gastos com reuniões que são feitas. Não tem necessidade de fazer seis, sete reuniões no mês. Tem que ser uma no máximo, com assuntos condensados. O dinheiro tem que ser gasto de forma devida.
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Esse estilo de gestão que o senhor promete fazer não pode gerar um baque em quem já está na Fesporte há mais tempo? Pessoal não vai querer a cabeça do senhor por lá?
Vou parafrasear o Bolsonaro. Soldado que vai para a guerra e tem medo de morrer é covarde. Estou indo lá para fazer o que é certo. Querer minha cabeça? Pode querer. Tem muita gente que está lá acostumada com um determinado tipo de gestão e nós estamos indo lá para fazer algo diferente. Fazer aquilo que o cidadão mostrou nas urnas que quer que aconteça. Se quiserem me tirar por eu estar fazendo o certo, aí teremos que levar isso para a população e mostrar o que está acontecendo. Não vou para lá por dinheiro. Meu salário na Polícia Civil é equivalente ao salário de presidente da Fesporte. O que eu quero é fazer a diferença. Não tenho nenhum receio. Mas já tem resistência pelo meu nome. Sei disso.