A memória de Cenira Sampaio é quase que o único prestígio que lhe resta por ter sido uma das pioneiras da seleção feminina de futebol. A camisa 8 entrou em campo nas Copas de 1991 e 1995 e carregou a braçadeira de capitã da amarelinha. Mais de 30 anos depois, ela vive em Joinville, trabalha na padaria de um minimercado e vende bilhetes da Trimania para complementar a renda. A falta de oportunidades fez com que a meio-campista ficasse longe dos holofotes — situação praticamente inimaginável na modalidade masculina. Mas, como bem traduziu o escritor uruguaio Eduardo Galeano certa vez, o futebol é o espelho do mundo.
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Em 1930, no Uruguai, foi disputada a primeira Copa do Mundo, um evento exclusivo para equipes masculinas. Neste período, apesar de poucos registros, algumas mulheres também já jogavam futebol, mas a prática era vista como espetáculo e chegou até a ser atração circense.
Uma década depois, em 1941, um decreto do então presidente Getúlio Vargas proibiu as brasileiras de praticarem o esporte sob a justificativa de que a atividade era incompatível com a natureza feminina. Em outras palavras, poderia afetar as “funções” de dona de casa e mãe. Caso fossem flagradas jogando de forma clandestina, as atletas poderiam até ser detidas.
A lei só foi revogada em 1979 e, a proibição que perdurou por quatro décadas, interferiu diretamente no desenvolvimento da modalidade no país. A regulamentação da prática para mulheres só saiu três anos depois e, ao final dos anos 80, aconteceu o primeiro torneio internacional de futebol feminino, realizado na China em caráter experimental. Mas mesmo com aval da Fifa, o espaço continuava dominado pela hegemonia masculina e, além da falta de apoio, as meninas lidavam com uma estrutura precária e preconceituosa.
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— A gente tinha que reaproveitar os uniformes masculinos e, só depois de muita briga, é que conseguimos tirar pelo menos as estrelas da camisa, que não eram nossas. Chamavam muito a gente de “sapatão” também, ou diziam “vai pegar um tanque de roupa pra lavar, aí não é o teu lugar” — relata Cenira.
À época, Cenira atuava pelo Esporte Clube Radar, do Rio de Janeiro, time que serviu como base para a formação da Seleção das pioneiras. A meio-campista lembra que a equipe era uma das mais temidas daquele período e foi montada por atletas que não passaram por peneira nem nada, mas que carregavam disposição e amor pelo esporte.
— A gente ganhava 40 dólares quando éramos convocadas para jogar na Seleção. No masculino, eram mil dólares — complementa.
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Assista ao vídeo com a história de Cenira
“Se eu não jogo, ninguém joga”
A relação de Cenira com o futebol começou quando ela tinha sete anos de idade e morava em Niterói (RJ), Estado de nascimento. Ela lembra que sempre observava os primos chutando bola na rua e, certo dia, pediu pra jogar. De pronto, recebeu a resposta: “mas você nem sabe jogar”. Pela insistência, conseguiu entrar na partida e surpreendeu.
Até então, conta que jogava apenas com familiares e decidiu por comprar uma bola para tentar jogar com outros garotos no campinho do bairro, mas não foi escolhida por nenhuma equipe. Chateada, acabou com a brincadeira.
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— Eu falei “ah, é? Então ninguém vai jogar”. Botei a bola embaixo do braço e fiquei deitada no meio da quadra. “Se eu não posso, ninguém joga”, conta, aos risos.
Essa determinação da pequena Cenira a manteve no esporte e a fez até enfrentar o próprio pai, Jerônimo, que era contra a profissão escolhida pela filha. Em certa ocasião, o homem chegou até a arrastá-la para fora do gramado e a levou para substituir a irmã em uma partida de basquete. “Eu, com essa altura toda” diz, destacando seus 1,55 cm de altura. Chorando, entrou na quadra e venceu o jogo, mas se manteve convicta na ideia de fazer arte com os pés.
Ainda na adolescência, Cenira teve passagens rápidas pelas equipes do Flamengo e Madureira, mas foi no futebol de areia do Leminho que a lançou para o mundo. Em 1982, foi artilheira do time e, inclusive, contribuiu para tirar a invencibilidade do tão temido Radar, que conforme relato no livro “As pioneiras pedem passagem”, de imediato, a convocou para defender o clube. A transferência só seria possível sob uma condição: que as atletas do Leminho fossem junto. A exigência foi atendida pelo presidente do Radar à época, Eurico Lira.
Ali, a Coelha, apelido que ganhou no time, já deixava à mostra sua personalidade. Além de pioneira na Seleção, Cenira também assumiu um papel de combate ao preconceito e chegou a enfrentar importantes nomes do futebol na defesa da modalidade feminina. Em um dos episódios, após uma partida que aconteceu em Belém do Pará, cobrou Lira por ter ido de avião e ter deixado as jogadoras viajarem de ônibus que, segundo ela, estava cheio de baratas e impediu que as meninas dormissem durante o percurso.
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Já vestindo a amarelinha, teve diversos desentendimentos com Paulo Dutra, dirigente da CBF e então responsável pela Seleção, o que resultou na perda da braçadeira de capitã no Mundial da Suécia, em 1995. No ano seguinte, ela foi deixada de fora da Seleção e não participou dos Jogos Olímpicos de Atlanta.
— Foi porque eu comecei a falar que a gente ganhava pouco. Era uma disparidade muito grande com relação ao masculino. Não queria que chegasse no [nível do] masculino, mas em algo que coubesse pra gente — justifica.
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Com a bola nos pés, a Coelha conheceu cinco diferentes continentes. No entanto, apesar da aparência glamourosa que as viagens proporcionavam, a realidade era outra. Cenira, assim como outras atletas, transitava entre o futebol de campo e o de salão a fim de se manter na ativa em vista da ausência de campeonatos regulares da modalidade.
Entre o Mundial de 1991 e 1995, inclusive, houve um limbo sem competições e, em busca de recursos financeiros e para garantir vaga na Seleção, as jogadoras também costumavam migrar de equipe para equipe.
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Neste contexto, durante a trajetória, além do Flamengo, Madureira e Radar, Cenira defendeu as cores do Vasco, da Portuguesa, Corinthians e do Palmeiras. Em 1984, aliás, teve uma rápida passagem por Joinville e reforçou o elenco da Associação Atlética Tupy durante um torneio.
Nas idas e vindas do futebol, viu Marta estrear no Vasco, quando a número 10 tinha apenas 14 anos; acompanhou a inserção de Formiga na Seleção Brasileira aos 15, que carregou a mesma camisa que ela pelas sete Copas seguintes; e também ficou ao lado do Rei Pelé durante uma partida beneficente para arrecadar fundos para Blumenau, que ficou destruída após as fortes chuvas no Vale do Itajaí.
Em 1991, chegou a jogar grávida até os cinco meses, sem saber que carregava a filha Nathalia na barriga. Com desconforto, procurou o médico, que erroneamente, diagnosticou-a com problema de vesícula. “Minha vesícula hoje tem 36 anos”, brinca.
— Depois, continuei jogando por um tempo e parei. Os torcedores começaram a pegar no pé: “tem dois em campo” — lembra.
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Antes de Nathália, Cenira já tinha um menino de três anos e, por ser a única mãe, era a figura materna da Seleção. Cenira lembra que a filha já não amamentava mais no peito e, com apenas 40 dias após o parto, voltou aos treinos.
Na Copa do Mundo da China, a bebê tinha apenas oito meses e, antes de embarcar, a atleta deu a última mamadeira para a criança no aeroporto. Os pequenos ficaram aos cuidados da avó que, ao contrário do pai de Cenira, apoiava a profissão da filha.
Onde assistir aos jogos da Copa do Mundo Feminina
A 8 encerrou a carreira em 2004 e, para não sair por completo do esporte, formou-se em educação física e também fez curso de arbitragem. Quando começou a apitar, ainda no Rio, como o salário recebido não dava conta, montou um trailer de lanche e levava uma dupla jornada.
Atualmente, nas folgas de fim de semana, entre os trabalhos no mercado e na venda de Trimania, a eterna capitã também apita jogos de futsal em Joinville. Mas o sonho dela mesmo é voltar para o futebol de campo, desta vez, à beira do gramado, como técnica. Ela explica que, para isso, precisa fazer o curso oficial da CBF, que tem custo de R$ 5 mil, valor inviável para o momento. Enquanto o desejo não se concretiza, ela ficará do lado de cá da telinha, torcendo para que as meninas tragam a primeira estrela da amarelinha.
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— Desejo boa sorte para as meninas que vão pra Copa do Mundo agora, que consigam se estabelecer e ganhar, se não for ganhar o mundial, que seja o mais perto possível.
Fazendo um retrospecto da trajetória dentro e fora das quatro linhas, quando questionada se arrepende-se de algo, responde sem titubear: “não”. A craque faria tudo de novo, sem pôr nem tirar palavras.
Fã número 1
Todas as paixões da vida de Cenira foram consequência do futebol. Inclusive, ela conheceu o homem com quem casou-se aos 21 anos numa pelada em uma praça de Niterói (RJ). Sérgio Luiz do Prado conta que Cenira tinha um time formado com os primos e que se conheceram quando as equipes se enfrentaram. Eles tinham apenas 15 anos e uma dividida de bola foi suficiente para o homem conhecer a personalidade da futura esposa e também apaixonar-se por ela.
Após este primeiro encontro, Sérgio diz que sempre passava pelo mesmo local a fim de encontrá-la, até que foram desenrolando uma conversa, ficaram mais próximos e aconteceu o primeiro beijo.
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— Na época, fui marcar ela e dei uma entrada mais forte. Eu vi as veias do pescoço dela saltando, e fechou a cara. Começamos a namorar, foi indo e, dali, ela foi jogar no Leminho, e nunca mais parou — lembra.
Da mesma forma, Sérgio não parou de acompanhar a amada. Quando ela estava no Radar, por decisão do destino, passou a fazer parte da comissão técnica do time em substituição a um profissional que não pôde ir no dia. Quando a capitã foi pra Seleção, o marido atuou como massagista e até roupeiro e, sempre que possível, estava por perto para prestigiá-la.
As veias saltadas no pescoço, segundo ele, se mantiveram com o passar do tempo, e não necessariamente eram sinônimos de braveza, mas sim de que, naquele dia, ela brilharia em campo. Sérgio se diz fã número 1 da esposa e Cenira mesmo o define como uma enciclopédia viva de sua história, já que, quando lhe falha a memória, recorre ao marido.
— Os meus netos Arthur e Luquinhas querem jogar bola. Eu sempre brinco, se eles jogarem 10% do que a avó jogou, o Vinicius Jr que me desculpe, mas vão botar ele no bolso — profetiza.
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De fato, Sérgio tem uma admiração enorme por Cenira. Ele é guardião de um enorme acervo da ex-jogadora, que vai desde fotos e recortes de revistas e jornais a camisas e medalhas conquistadas por ela ao longo da carreira. De cabeça, sabe narrar cada manchete como se tivesse acabado de assistir aos lances e recorre a datas sem demonstrar muito esforço.
Em 2021, a CBF promoveu um jogo festivo em comemoração aos 30 anos da primeira Copa, estrelada pela Seleção pioneira. Como se o tempo não tivesse surtido efeito, Sérgio diz que o trio Cenira, Pretinha (lateral) e Roseli (atacante) jogaram com o mesmo entrosamento que tinham há três décadas. Com habilidade, leitura de jogo e dribles desconcertantes, de acordo com o fã número 1, a Coelha brilhou como sempre e, inclusive, foi artilheira da partida, marcando duas vezes.
Apesar de achar que a esposa merece mais espaço e reconhecimento no mundo esportivo, a partida da Granja Comary proporcionou um acontecimento emocionante para ambos que, de todas as lutas travadas pela atleta, ironicamente, foi capaz de deixar sem palavras a meio-campista que sempre soube o que falar.
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— Durante o gol dela, a narradora falou: “Gol da Cenira”. Meu neto Lucas, de três anos, retrucou: “Gol de Cenira não! Gol da vovó”. Eu tive a honra de estar vivo e ver minha filha e meu neto presenciarem o gol dela. Isso não tem preço — diz Sérgio, com os olhos cheios de lágrimas.
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O exótico, o fora do lugar
Enquanto no futebol masculino 12 Copas do Mundo já haviam sido disputadas, nos anos 80, o feminino ainda caminhava a passos lentos para a regulamentação. Fernanda Haag, mestra em história social com pesquisas sobre o futebol brasileiro e relações de gênero, afirma que, até meados da década de 1990, a modalidade foi marcada pela luta das mulheres para o reconhecimento no esporte.
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Neste período, a pesquisadora destaca o papel da mídia esportiva, que por muitas vezes retratava o futebol feminino como “exótico”, algo “fora do lugar”. Com fotos sensuais e outros conteúdos machistas, as revistas e demais meios de comunicação da época objetificavam as atletas. Enquanto os jogadores eram saudados por suas conquistas dentro de campo, as mulheres viravam manchete pela forma de seus corpos.
— É importante lembrar disso porque a mídia cumpre um papel muito muito significativo e acabava reforçando os estereótipos negativos na modalidade. Claro, havia exceções que se preocupavam efetivamente com a cobertura esportiva, mas não era a regra — diz.
Neste contexto, as iniciativas de estruturação da prática futebolística para as mulheres eram menos articuladas. Os até times existiam, mas com dificuldades de manutenção. Já os torneios acabavam se estabelecendo mais em um âmbito regional e nacional — com suporte ou não —, difusos das instituições esportivas, seja a CBF ou federações estaduais.
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Mesmo sem apoio, muitas vezes até conciliando as rotinas de treinos com outros empregos, as meninas passaram a desbravar aquele caminho tão incerto.
— Havia uma preocupação de demarcar a existência do futebol de mulheres, por isso que destaca-se a atuação da chamada geração pioneira, ou seja, aquela que vivenciou e se dedicou ao futebol logo após a regulamentação da modalidade, em 1983 — pontua.
Além do Radar, que era o time mais forte da época e foi campeão carioca e da Taça Brasil, já no final dos anos 90, outras equipes passaram a surgir a partir da criação do campeonato paulista feminino, que mobilizou os chamados “times de camisa”, formados pelos grandes clubes de São Paulo.
Esses torneios, segundo Fernanda, chegaram a ser televisionados e contaram com várias atletas que atuavam na Seleção. Para que nenhum time ficasse mais forte que o outro e as disputas pudessem ser equilibradas, as jogadoras foram divididas entre essas equipes.
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— Entretanto, havia uma grande carência de estrutura de profissionalismo. Carência que perpassava a estrutura desse futebol como um todo. Então, equipes, federações, calendários, competições, a mídia, falta de investimentos e falta de patrocinadores — reforça.
Podcast: a história de Cenira
A primeira Copa e o papel das pioneiras
Com estrutura precária, era comum que a geração pioneira circulasse entre o futebol de campo e o de salão. A partir do torneio experimental da China considerado um sucesso pela média de público, em 1991 acontece a primeira Copa do Mundo feminina oficial da Fifa.
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Com isso, a modalidade sai do âmbito regional e nacional e passa também a integrar o quadro internacional. A partir daí, começam a acontecer os primeiros campeonatos sul-americanos e, consequentemente, a imigração de brasileiras para o exterior. Fernanda Haag cita como exemplos a Duda Luizelli e a Michael Jackson, que foram jogar na Itália, além da ida de Roseli para o Japão.
— Aí nesse período a gente vê o desenvolvimento desses torneios internacionais também. Mesmo com a organização da Fifa, ainda que a gente visse vários problemas também acontecendo, [as pioneiras] não tinham a mesma estrutura que no masculino tinha, jamais. Mas os campeonatos estavam acontecendo — destaca a pesquisadora.
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Essa geração, inclusive, não lidava apenas com a sexualização de suas imagens, mas também com baixos salários, comentários sexistas e homofóbicos. Fernanda ressalta que as pioneiras adentraram em um espaço de hegemonia masculina e “chegaram com o pé na porta” mostrando que aquele ambiente também pertencia às mulheres. Só que, para isso, em diversas ocasiões, tiveram de cobrar por estrutura mínima e ouvir desaforos cada vez que pisavam em campo.
Mesmo diante disso, representaram o Brasil em torneios internacionais “e fizeram bonito”, diz.
— Nada foi dado, tudo foi conquistado. Não tinham apoio suficiente, mas meteram a cara e foram. A constituição da memória nacional esportiva precisa recordar mais essas mulheres. Elas são muito importantes nessa questão de abrir caminhos, porque possibilitaram que hoje a gente tenha inúmeras meninas que sonham em fazer carreira como jogadoras. Na geração delas isso não era possível, não tinha essa representatividade, e elas pavimentaram esse caminho. O peso é enorme, é muito significativo — opina.
Da Copa de 91 para o Mundial de 2019, Fernanda diz que o avanço é bastante significativo, se pensado de forma comparativa. O último torneio disputado, para ela, foi um marco para o futebol feminino e também significou a culminância de construções anteriores, com as cobranças e as lutas por melhorias que já aconteciam anteriormente sendo atendidas.
Houve uma maior profissionalização, mais ocupação de cargos de gestão na CBF e, também, mulheres que passaram a comandar as seleções, como Pia Sundhage, da Seleção Brasileira principal, e Simone Jatobá na Sub-17, que agora também assumiu a Sub-15, categoria criada recentemente.
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— Porém, a desigualdade de gênero ainda é gritante no futebol. As categorias de base ainda precisam de uma maior estruturação, e não só no meio da Seleção, mas nos clubes, ter mais campeonatos e disputas. Também é preciso ter um cuidado maior com calendários de transmissões para uma verdadeira democratização da modalidade. Porque, por exemplo, ainda hoje, no Campeonato Brasileiro Série A1, a gente teve jogos às 15h de uma segunda-feira. Gente, 15h de uma segunda-feira está todo mundo trabalhando. Precisa ter um horário propício para o público poder acompanhar — critica.
Mais espaço, maior audiência
Com os avanços, a pesquisadora cita que houve uma maior cobertura da mídia no esporte, a transmissão em TV aberta e, consequentemente, o crescimento efetivo do público nos estádios para acompanhar os jogos. A consequência positiva disso tudo foi o aumento de investimentos, patrocinadores, transferências e salários maiores.
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A comentarista esportiva Ana Thaís Matos acrescenta que, mesmo com estruturas ainda desiguais, existe uma maior cobrança e uma mídia que ajuda a reverberar essas demandas.
A jornalista ainda cita a obrigatoriedade imposta pela CBF para que grandes clubes invistam também no futebol feminino. A exigência partiu de uma ação global feita pela Fifa em 2016 e ganhou força na Copa de 2019.
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— Falta um grande plano nacional de incentivo também aos clubes para evitar casos como o do Ceará e do Real Ariquemes este ano no Brasileirão feminino. Os clubes, quase totalmente comandados por homens e alguns de pensamentos muito arcaicos, precisam incorporar de vez os times femininos — comenta Ana.
Com relação aos salários, a comentarista entende que as comparações entre o futebol feminino e masculino precisam parar de ser feitas. Ela lembra da proibição do esporte para mulheres que, mesmo sendo retomado anos depois, “ainda vive sob demandas e boicotes”.
Para ela, quando se faz uma tentativa de equiparação, é o mesmo que colocar as mulheres num patamar até aqui inatingível e, com isso, deixa-se de comemorar as conquistas da modalidade — por menores que sejam.
— Todas as jogadoras do futebol feminino precisam ser mais valorizadas dentro da própria realidade, que também precisa crescer e ganhar mais dinheiro, investimento e possibilidades. A gente deixa de comemorar as conquistas das mulheres porque a gente está sempre colocando uma nova régua, no caso do futebol, uma modalidade que pra eles sempre foi mais acessível, e pra nós foi até proibida — pontua.
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Ana, que fará parte do time feminino da Globo que transmitirá a Copa 2023, acredita que o maior espaço para transmissões do Campeonato Brasileiro e a Copa do Mundo com maior destaque, o esporte feminino tende a crescer ainda mais.