A árbitra catarinense Charly Deretti está no Marrocos, onde faz parte do quadro de arbitragem da Fifa para a Copa do Mundo sub-17 feminina, onde apitou três partidas até agora. E nesta semana ela viveu um encontro mais do que especial para a sua carreira.

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A partida era Brasil e China, vencida pelas brasileiras por 3 a 0 pelas oitavas de final do torneio. Apesar de não estar em campo, acompanhar este jogo campo 3 da Academia de Futebol Mohammed VI foi um momento especial. O mundo de coincidências do futebol a fez reencontrar Bibiana Steinhaus-Webb, atual chefe da comissão de arbitragem feminino da FIFA.

E foi justamente num Brasil x China 18 anos atrás que a vida da árbitra de Jaraguá do Sul (SC) começou a mudar dentro de campo: da bola para o apito. Numa partida entre as duas seleções em 2007 na Tailândia, Charly jogava pela seleção amarelinha de base e Bibiana era a dona do apito. Ela se reencontraram num momento especial para a brasileira.

Charly Deretti apitou três jogos na Copa do Mundo sub-17 feminina (Foto: divulgação FIFA)
Charly Deretti apitou três jogos na Copa do Mundo sub-17 feminina (Foto: divulgação FIFA)

– Parece que nos conhecemos há séculos. Tudo mudou tanto desde então – disse Steinhaus-Webb. – O futebol feminino cresceu enormemente, só tem se fortalecido. E aqui estamos nós, alguns anos depois — na verdade, quase duas décadas — e a tecnologia é talvez o que teve o maior impacto no jogo do ponto de vista da arbitragem. O suporte que recebemos da tecnologia hoje para tomar a decisão certa em campo é fantástico, e eu gostaria de tê-la conhecido anos atrás – disse Bibiana ao site da Fifa.

Como Charly chegou à arbitragem e agora na Copa do Mundo sub-17

Assim como Bibiana, Charly faz parte de um seleto grupo de árbitras que podem se valer de sua experiência como jogadoras, e o conhecimento adquirido durante sua carreira como atleta lhe confere uma vantagem significativa ao apitar partidas importantes.

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– Um ex-jogador traz um conhecimento imenso de futebol. Eles conhecem o jogo como a palma da mão: como uma partida se desenrola e como as equipes se posicionam, o que lhes dá uma enorme vantagem – afirmou a chefe da arbitragem feminina na FIFA.

Charly Deretti nasceu em 1987 em Jaraguá do Sul, no norte de Santa Catarina, mesma cidade-natal do técnico do Flamengo e ex-jogador da seleção brasileira masculina Filipe Luís. A catarinense começou a jogar futebol aos 11 anos e ao longo do tempo suas atuações a fizeram vestir a camisa amarela do Brasil. Até que aos 25 anos ela trocou o uniforme.

– Eu costumava assistir aos árbitros apitando jogos de futebol de 11 e pensava: ‘Eu conseguiria fazer isso’. Quando decidi pendurar as chuteiras, a transição para a arbitragem foi o próximo passo lógico. Eu queria estar lá no campo, continuar conectado ao futebol de alguma forma e vivenciar o esporte de uma perspectiva diferente – acrescentou Deretti, que também garantiu que nunca tinha visto uma mulher apitando e quando aconteceu foi o momento em que ela decidiu de vez pela nova carreira.

As boas atuações no Brasil garantiram à Charly um lugar na Copa do Mundo sub-17 feminina.

Bola e apito: o que muda em campo

No entanto, migrar da carreira como jogadora para a de árbitra é um desafio e requer alguns macetes e aprendizados.

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– Encontrar o melhor espaço para receber a bola ou marcar um gol como jogador é completamente diferente de se posicionar para tomar a decisão correta como árbitro – garante Bibiana, a primeira mulher a apitar um jogo de futebol de uma liga masculina na Alemanha.

Sobre os desafios enfrentados pelos árbitros, Deretti destacou prontamente o aspecto mental:

– Como árbitra, quando você tem uma partida ruim, é completamente diferente de quando isso acontece como jogadora. Uma jogadora sempre tem outra chance na próxima partida, mas nem sempre é o caso para uma árbitra. Toda vez que entro em campo, digo a mim mesma que preciso ter um bom desempenho e fazer um bom trabalho. O maior desafio é garantir que eu esteja sempre preparado, porque você nunca sabe quando será sua próxima partida – completa.