Impulsionadas pelo contexto político e econômico nacional, as disputas por reajustes salariais que chegam à Justiça cresceram neste ano em Santa Catarina. De janeiro a setembro, houve aumento de 32,8% no número de negociações que foram parar nos tribunais na comparação com o mesmo período do ano passado. Enquanto em 2015 foram 65 dissídios coletivos no período, neste ano são 84 no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 12a Região.

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Esse crescimento indica que as discussões por reajustes estão mais difíceis, já que só há judicialização após o esgotamento de todas as possibilidades de negociação fora desse âmbito. Diferentemente de anos anteriores em que se discutia ganho real, o que está em jogo agora em muitas categorias é apenas a reposição da inflação. Ainda assim, não está fácil.

Dados do Dieese revelam que a maior parte dos reajustes concedidos no primeiro semestre deste ano em todo o país ficou abaixo do INPC, o índice de inflação usado pela Justiça do Trabalho. Outros 112 foram exatamente iguais ao índice e apenas 74 foram superiores. Na média, houve perda real de 0,50% nos salários. O cenário é muito diferente de anos anteriores. No segundo semestre de 2014, por exemplo, mais de 90% dos reajustes ficaram acima do INPC.

Em Santa Catarina a situação está um pouco melhor. Nos primeiros seis meses deste ano 25,9% dos reajustes foram maiores que a inflação, 63% iguais e 11,1% abaixo.

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No Estado, diversas entidades pedem reajuste há meses. É o caso da Epagri, da Cidasc e do Ceasa, representadas pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Assessoramento, Perícia, Pesquisa e Informações de Santa Catarina (Sindaspi/SC). As instituições pedem a reposição do INPC. Na negociação de ontem, o Estado ofereceu repor a inflação a partir de dezembro, sem retroatividade, segundo Daniel Nunes, diretor do Sindaspi. Ainda não houve acordo e uma audiência está agendada para o fim do mês.

Greves refletem dificuldade de negociação

O acirramento das negociações também tem feito as greves se multiplicarem. No caso dos bancos, funcionando parcialmente há 30 dias, a greve é a maior desde 2004. Bancários e banqueiros já se sentaram à mesa de negociações 11 vezes. Diferentemente de outras categorias, eles pedem reajuste acima da inflação.

Jacir Zimmer, secretário-geral do Sindicato dos Bancários de Florianópolis e Região (SEEB), explica que o objetivo é impedir que os trabalhadores percam conquistas.

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– Sempre vínhamos tendo ganho acima da inflação. Com salários melhores, o trabalhador consome mais e também movimenta a economia – diz.

A Federação Nacional de Bancos (Fenaban) alega que as propostas traduzem ¿o esforço dos bancos por uma negociação rápida e equilibrada, capaz de atender às demandas por correção salarial e outros itens da Convenção Coletiva, com um modelo ajustado à atual conjuntura econômica¿.

Do lado dos empresários, é generalizado o apelo à crise como razão para não conceder reajustes. As dificuldades econômicas existem, é fato, mas João Rached, que já foi negociador de gigantes como HSBC e Wolksvagen, concorda que há empresas que abusam desse argumento.

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– Eu acho que no caso do Brasil o blefe ocorre muito menos (que em outros países), mas acontece. É sempre desagradável você chegar lá e ouvir ¿olha, o ano que vem vai ser uma droga¿. É cansativo, assim como o sindicato insistir em temas que sabe que a empresa não consegue realizar. O interesse do sindicato tem de ser da preservação do negócio – diz Rached.

Jurisprudência é favorável a trabalhadores

De acordo com o presidente do TRT em SC, o desembargador Gracio Ricardo Barboza Petrone, de forma geral, a jurisprudência do Estado mostra que os trabalhadores conseguem a reposição integral da inflação no período negociado, com base no INPC, o índice utilizado na justiça do trabalho.

O detalhe é que, conforme determina a Emenda Constitucional nº45 de 2004, para chegar ao TRT, as duas partes têm que concordar em levar a negociação para o âmbito judicial. Isso após esgotadas todas as possibilidades de comum acordo sem a mediação.

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— O que se tenta é forçar para que as partes cheguem a um acordo independentemente do judiciário – explica o presidente.

Entretanto, há posicionamentos distintos a respeito do assunto, diz Petrone. Alguns juristas entendem que o acordo tácito é um pressuposto do processo e precisa ser respeitado, enquanto outros entendem que essa exigência se caracterizaria como obstrução da justiça. Quem vai bater o martelo a respeito do assunto é o Supremo Tribunal Federal (STF), mas ainda não há data para a discussão da pauta.