A escalada da criminalidade em Santa Catarina expõe o quanto a cúpula da Segurança Pública terá de trabalhar para devolver aos catarinenses a sensação de segurança que em 2017 passou longe das maiores cidades do Estado. Execuções – algumas filmadas –, decapitações, torturas, tiroteios, perseguições e assassinatos expõem uma guerra pelo domínio dos pontos de venda de drogas que contribuiu para os recordes negativos de violência – até sexta-feira, somente na Capital, foram 165 mortes violentas, 73 a mais do que no ano passado inteiro.

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Além disso, outras questões influenciam o aumento da criminalidade, como a ausência de políticas públicas em regiões mais pobres, apontam representantes do Ministério Público (MP-SC) e do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC). Diante do cenário, outra pergunta que a sociedade faz é: até quando vai durar essa guerra de facções? O questionamento, porém, não tem como resposta uma certeza, mas ponderações e argumentos que mostram melhor a complexidade do problema.

A desembargadora Cinthia Schaefer, coordenadora do grupo de monitoramento do TJ-SC, avalia que o fenômeno do recrudescimento da violência “aumenta ano a ano, em escala progressiva”. Além do grande número de presos faccionados no sistema carcerário, Schaefer afirma que se percebe a entrada de pessoas de outros Estados para cometerem crimes, serem presos por aqui e “arregimentarem mais pessoas nas cadeias”. Ela diz que, além das duas maiores facções, outros grupos criminosos atuam em comunidades carentes das cidades.

— É necessária uma mudança de olhar na segurança pública. Talvez um olhar mais preventivo, nas comunidades com problemas estruturais, porque não adianta atuarmos na consequência se a causa não é tratada. Assim, a gente só alimenta o problema — avalia a magistrada, que entende ser necessário um trabalho mais em conjunto entre as secretarias de Segurança Pública, Justiça e Cidadania, MP e Judiciário.

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O promotor Andrey Cunha Amorim, que atua no Tribunal do Júri e acompanha as facções criminosas há anos no Estado, concorda que a disputa territorial entre os grupos, aliada ao tráfico de drogas, é o principal combustível da violência neste ano. Ele acrescenta que tanto os autores quanto as vítimas têm longas fichas corridas na polícia.

— As facções perceberam, em locais carentes, que determinadas ações, uma vez praticadas por adolescentes, não geram o crime, mas o ato infracional. E a responsabilidade não é penal, mas na Vara da Infância e Juventude. Segurança pública não se faz só com repressão, principalmente na área da infância. O que precisa é impedir que essas comunidades carentes se alastrem, do ponto de vista físico, para não dificultar ainda mais o trabalho da polícia. E também a presença do Estado dentro dessas comunidades — expõe Amorim.

Autoridades policiais explicam que a guerra entre facções em SC começou após a decisão de um grupo paulista em se expandir no país. Segundo o delegado Verdi Furlanetto, diretor da Polícia Civil na Grande Florianópolis, a organização emitiu ordens para que seus integrantes ocupem espaços no Estado. Destaca, porém, que “foi possível sufocar e diminuir os crimes” na Capital após o primeiro semestre.

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— A única solução para acabar com essa violência é trabalhar diuturnamente. Óbvio que se um grupo fizer uma covardia com integrantes de outra, e filmar, a resposta dos rivais vai ser quase automática. Mas estamos trabalhando, prendendo e também reformulamos a Delegacia da Criança e do Adolescente, já que em muitos casos os menores praticam atos de até mais crueldade que adultos — diz Furlanetto.

Mesmos problemas, mesmas promessas

Basta uma rápida pesquisa nos arquivos do DC para perceber que os problemas alegados pelo governo catarinense como causadores da onda de violência há anos estampam manchetes no jornal com relatos da gravidade da situação e do quanto poderia piorar caso as previsões se confirmassem. No entanto, o cenário atual é enfrentado pelas autoridades com as mesmas promessas de crises anteriores.

Na guerra contra a violência, não apenas a dos confrontos armados nas ruas, mas também dos jovens recrutados pelo crime, quem está perdendo é a sociedade catarinense. Nesse momento, não apenas florianopolitanos e joinvilenses, mas pessoas de outros recantos do Estado se perguntam: até onde vai a violência que amedronta Santa Catarina?

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Crimes aumentam e SC enquanto efetivo policial cai

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