A construção de uma usina hidrelétrica na Serra fez 150 famílias que tinham propriedades e sustento garantido se amontoarem em um acampamento onde passaram a viver como sem-terra.

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O procurador federal Nazareno Jorgealem Wolff, de Lages, classifica o caso como grave. Os afetados estão pedindo indenização e verificação da Fatma mostra que a maioria tem direito. Wolff tenta convencer a empresa a fazer um acordo. Uma reunião com os moradores das cidades atingidas, representantes da empresa e da Igreja Católica foi realizada na quarta-feira. Na próxima sexta haverá nova reunião,com participação da própria Fatma e da Ordem dos Advogados do Brasil. Caso não haja um entendimento, o procurador entrará com ação contra a usina.

Wolff contou que a empresa admitiu que pelo menos 15 famílias foram atingidas pelo lago por causa do erro de cálculo, que também deixou estradas embaixo d’água. Os diretores se comprometeram a abrir novas vias e a fazer um levantamento topográfico para determinar o número exato de atingidos.

Gente como Moisés de Assis Albuquerque, 58 anos. Ele foi obrigado a trocar o conforto do lar pela cama colocada sob uma lona de plástico por causa da água da barragem, que engoliu parte das lavouras e ameaça inviabilizar o terreno dele, que nem pago está.

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O agricultor é figura típica entre os moradores das áreas rurais da região. É também a materialização do pequeno produtor: as mãos grossas de uma vida cuidando da terra e o tom de pele de quem passou longas jornadas ao sol. Até agosto, os anseios de vida dele eram singelos. Pedia apenas que São Pedro, padroeiro de São José do Cerrito, onde mora, mandasse a chuva na hora e quantidade certa.

No caso dele, o problema é o tio Canoas ter invadido a propriedade. Nem sabe ao certo a data em que começou, mas lembra como, do nada, a estrada ficou embaixo d?água por oito dias. Foi uma surpresa porque as marcações da construtora apontavam que a área inundada ficaria a cerca de um quilômetro do terreno.

O problema de Moisés se assemelha à reclamação da maioria das famílias. Os terrenos da região são formados por descidas com fim em planície, área que é usada para plantio. A água tomou a parte plana e os morros são cheios de pedra ou tem ângulos que inviabilizam qualquer cultura.

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O que diz a empresa

A Rio Canoas, que construiu a Usina Garibaldi, negou que tenha havido erro de cálculo. A gerente de Meio Ambiente da empresa, Sueli Biedacha, afirmou que na ponte do rio localizada em São José do Cerrito não havia como prever quanto de terreno seria tomado. Via assessoria de imprensa a empresa explicou que no momento em que o leito se encontra com o lago a vazão diminui e ele acaba tomando outras áreas.

Sueli declarou ainda que um levantamento topográfico apontará casos de prejuízos e garantiu que só 12 propriedades que já eram atingidas tiveram mais áreas inundadas e os agricultores serão indenizados. Ela acrescenta que todo o processo de construção da hidrelétrica foi acompanhado pelo Ministério Público. Reclamou ainda da presença de lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra no acampamento e afirmou que a maioria dos presentes não foi afetada.

Sobre a a questão dos arrendatários, argumentou que 218 famílias foram atendidas e que para ter direito é preciso preencher dois critérios: a renda principal ser da lavoura ou gado e não ter outra propriedade. Quanto às estradas, a empresa reconheceu que há problemas, mas garantiu que está trabalhando para resolver a situação. Sueli explicou que como se trata de área de mata virgem, a tendência é o cascalho baixar. Os reparos estão em andamento em Abdon Batista e serão estendidos aos outros quatro municípios.

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Mas a gerente de Meio Ambiente não admitiu que placas informativas sobre a inundação foram parcialmente cobertas pela água, o que foi verificado pela reportagem do Diário Catarinense.