Em um país onde educação básica de qualidade chega a ser relacionada a instituições particulares, vale questionar as chances de alunos que vêm de escolas públicas na corrida por uma vaga na universidade. Abrimos este debate com três convidados.
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O professor do cursinho da UFSC Jackson Inácio, ex-aluno de escolas públicas, aposta na força de vontade. Já o docente do IEE Luiz Fernando Chaves ressalta que os estudantes da rede pública estão até mais preparados para as adversidades que os demais estudantes. A aluna Iasmin Camargo, também do IEE, torce para comprovar, na prática, que eles estão certos e que é possível, sim, estudar em escolas públicas e passar para a faculdade dos sonhos.
Confira o debate completo entre os três convidados
Lado bom e lado ruim
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Aluno de escola pública chega a enfrentar greve, salas abafadas e professores sem vontade de ensinar, como relata Iasmin. Por outro lado, são as adversidades que transformam este estudante em um jovem mais independente, pronto para se virar sozinho, acredita o professor Luiz Fernando Chaves. O professor Jackson Garcia concorda.
– O aluno que paga o cursinho caro já recebe o planejamento pronto e conta com empurrões para colocar esse plano em ação. O aluno de escola pública muitas vezes não tem isso e precisa estudar uma hora a mais, abrir mão do tempo que dedica a redes sociais ou com os amigos, e focar naquilo que quer – opina.
Para Garcia, a diferença entre um aluno de escola particular, que tem todos os recursos, e outro que, além de estudar em escola pública, precisa trabalhar, por exemplo, é que o estudante da instituição pública pode precisar de um tempo a mais para ser aprovado. Mas Luiz Fernando dá a dica para esses alunos:
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– Aproveite os professores bons que você encontrar pelo caminho, peça ajuda. Professores se encantam por alunos dedicados – garante.
Muita força de vontade
“Se outras pessoas conseguem, eu também consigo”. Era assim que Jackson pensava quando, na adolescência, se dividia entre os livros e o trabalho, para ajudar nas contas de casa. Para ele, é na hora da dificuldade, do desânimo ou do cansaço, que é preciso mirar no futuro e manter a determinação e a vontade de ser aprovado.
– Em primeiro lugar, você tem que querer. Depois, deve se planejar e, por último, tem que estar comprometido com esse planejamento – explica o professor de Química.
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Luiz Fernando complementa que, com ousadia e muita dedicação, os alunos de escolas públicas poderiam ir muito mais longe do que acreditam.
– Falta os nossos alunos ousarem mais, prestarem Medicina, Engenharia Mecânica, o que realmente sonham fazer – expõe o docente.
Iasmin confessa que chegou a cogitar Medicina, mas ficou amedrontada com a grande concorrência. Mesmo assim, a aluna do IEE não desiste de seguir na área que gosta e mira na Odontologia. Para isso, aproveita todos os recursos que pode e até pega emprestado as apostilas do cursinho pré-vestibular do namorado.
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Incentivo da família
O apoio da família no processo até a faculdade é fundamental. O professor Luiz Fernando aponta que, como a renda familiar de muitos estudantes de escolas públicas é apertada, os pais se desdobram em compromissos de trabalho. Em casa, os jovens têm que se dedicar aos estudos sozinhos. Isso quando não precisam ainda cuidar do irmão mais novo ou entrar no mercado de trabalho para ajudar nas contas.
– Nesse período, o ideal é liberar o filho para o estudo e cobrar que ele se dedique, ajudá-lo a organizar o calendário e a rotina.
Nesse aspecto, Iasmin é privilegiada, contando com a compreensão dos pais. A estudante que atualmente trabalha à tarde, vai deixar esse compromisso, para ter mais tempo para as leituras. Para ajudar, ainda vai fazer um cursinho à noite.
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– Mas nem toda família é assim reconhece.
Claro que emprego também não significa reprovação. Jackson conta de alunos que trabalham, cuidam dos filhos e ainda conseguem entrar na faculdade que desejam. O que vale, então, é a vontade de ir contra os empecilhos e garantir o título de universitário.
Professor Luiz Fernando Rech Chaves
Licenciado em Física pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e com pós-graduação em Física pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), o professor de 55 anos leciona desde 1990 para alunos do 2º e 3º anos do Ensino Médio do Instituto Estadual de Educação (IEE). Atualmente também dá aulas em uma escola particular da Grande Florianópolis.
Professor Jackson Garcia Inácio
Graduado em Química pela Universidade de Guarulhos (UNG) e cursando o último semestre de Engenharia Sanitária e Ambiental na UFSC. É professor de cursos pré-vestibular há 15 anos. Desde 2008, dá aulas no Pré-Vestibular da UFSC, onde também trabalha na coordenação pedagógica. Viaja para as 29 cidades em que o curso está presente para divulgar a iniciativa.
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Iasmin de Aguiar Camargo
A estudante, de 16 anos, está no 3º ano do ensino médio. Desde o 1º ano do ensino médio estuda no IEE, em Florianópolis. Ela fez o ensino fundamental em escola particular e acredita ter tido uma boa base nas escolas por onde passou. Iasmin quer cursar Odontologia na UFSC. Este ano, pretende sair do trabalho para ter as tardes livres para o estudo. À noite, espera fazer o pré-vestibular da UFSC.
De olho nas dicas
Estudante ou não de escola pública, você deve abusar dos instrumentos que podem te levar à aprovação. Fique atento a alguns deles:
> Aposte nos cursos preparatórios, se possível. O curso da UFSC é gratuito e funciona em 29 cidades do Estado. Para 2013, ainda não há previsão para inscrições. Mais informações no site www.prevestibular.ufsc.br.
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> Pegar emprestado apostilas de cursinhos pré-vestibulares também ajuda.
> Busque simulados e listas de exercícios na internet.
> Bibliotecas públicas podem ser boa fonte de conteúdos e exercícios, além de oferecerem um espaço confortável para estudo.
> Forme grupos de estudo. Se você está desanimado hoje, seu colega pode te puxar ou o inverso.
> Explore disciplinas com as quais tem dificuldade. Não adianta só estudar a matéria que você já domina.
> Além de prestar atenção nas aulas, aproveite os intervalos de tempo. Vale até ler no ponto de ônibus.
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> Tenha planejamento e disciplina para estudar. Foque na sua prioridade: a aprovação.