Em Santa Catarina, 1,89 milhão de domicílios tinham pelo menos um carro na garagem em 2018. Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do IBGE, divulgada na manhã desta quarta-feira (22), a soma representa 74,5% do total de residências no Estado. É a maior proporção do Brasil de moradias com pelo menos um automóvel.
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E a tendência é de crescimento. Os dados se referem a 2018, mas em comparação com o ano anterior, houve aumento de 0,6% de domicílios com carros, o que significa que 79 mil residências passaram a ter essa condição.
O Estado ficou bem à frente do segundo colocado no ranking. Paraná, que teve 68,4% de domicílios com automóveis. Distrito Federal vem em terceiro, com 66,5%, seguido por Rio Grande do Sul (63,8%) e São Paulo (62,5%). A média brasileira ficou bem abaixo da catarinense: 48,8%.
Proporção de domicílios com automóveis
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A estudante universitária Letícia Ortolan, 19 anos, comprou em dezembro o primeiro carro, assim que recebeu a carteira de motorista, e é um exemplo do crescimento de automóveis no Estado. Ela mora com a mãe, o padastro e dois irmãos em Criciúma.
A família contava apenas com o carro do padastro, mas ela decidiu adquirir o próprio porque utilizava transporte público e facilitaria a locomoção entre os dois empregos e a faculdade.
Além disso, para cumprir os horários apertados – principalmente para chegar à faculdade às 19h ao sair do trabalho às 18h – utilizava muito transporte por aplicativo, encarecendo os custos. Foi a comodidade que o carro proporciona que a fez comprar o primeiro automóvel.
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– Pegava ônibus porque era mais barato. Mas às vezes pegava Uber. Aí pensei: “estou gastando tanto que poderia ter o próprio carro”. Já me sinto mais segura agora na direção e ter o carro é uma questão de necessidade. Facilitou 99% a vida – comemora Letícia.
Para especialista, crescimento é positivo, mas cidades precisam estar preparadas
O professor e pesquisador Werner Kraus Jr., do Observatório de Mobilidade Urbana da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), considera o crescimento do número de automóveis nos lares catarinenses um índice positivo. Na opinião dele, significa que a renda dos catarinenses é favorável.
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– Esse dado não é uma surpresa e reflete certa condição socioeconômica favorável de Santa Catarina no cenário nacional. Não tem nada de errado com isso.
Segundo ele, a posse de veículos por domicílio tende a crescer ainda mais e ainda não está perto do registrado em países desenvolvidos, que chega a ser superior de 500 carros para cada 1 mil habitantes, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos. Entretanto, ele reforça que as cidades europeias, por exemplo, não entraram em colapso no trânsito porque se prepararam para o fenômeno e criaram restrições.
– E por que na Europa não tem caos? Porque eles dispõem de cidades que são restritivas à circulação do automóvel e bem dotadas de infraestrutura de transporte público e de transporte não motorizado, como bicicleta, além de calçadas. O automóvel é um bem de consumo ao qual toda pessoa deveria ter acesso. A questão é que nossas cidades têm que se adaptar para serem restritivas ao uso diário dele e incentivarem o transporte não motorizado e coletivo – conclui Kraus Jr.
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Nas maiores cidades de SC, há praticamente 1 carro a cada 2 pessoas
Ao cruzar dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) com a estimativa populacional do IBGE para as 13 cidades com mais de 100 mil habitantes de Santa Catarina, o índice de automóveis e camionetas já chega perto de um para cada dois moradores. As cidades que lideram o ranking são Blumenau, com 522,29 carros ou camionetas para cada 1 mil habitantes, Florianópolis (521,10).Brusque (506,27)
Como menciona o professor Werner Krauss Jr. estão próximos de países desenvolvidos. Segundo levantamento da Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis, com dados de 2016, a média da União Europeia é de 587 automóveis para cada 1 mil moradores. Isso quer dizer que Blumenau, Brusque e Florianópolis têm taxas próximas às de Reino Unido, Holanda, Irlanda e Suécia e superiores às de Portugal e Dinamarca. O índice europeu é liderado por Luxemburgo, Finlândia, Chipre, Malta e Itália, todos com mais de 700 veículos por 1 mil moradores.
Veículos por 1 mil habitantes em SC
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Presidente do Serviço Autônomo Municipal de Trânsito e Transportes de Blumenau (Seterb), Marcelo Schrubbe afirma que a principal ação para estancar o crescimento do número de automóveis passa pela valorização do transporte coletivo e mudança cultural da população.
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– É impossível fazer estradas na velocidade em que aumenta o número de veículos. Vai chegar um dia que a estrutura vai colapsar. Não é se vai, é quando vai. A Europa tem esse número de carros, mas não necessariamente eles usam o automóvel todos os dias nas suas viagens rotineiras. Uma porque tem trânsito e outra porque é caro. Os valores acabam pesando e a população migra para o transporte coletivo. Essa é a responsabilidade do serviço público: quando há dificuldade da conveniência, porque as pessoas compram carro por isso, é preciso dar alternativa para as pessoas. E a alternativa é o transporte público. E tem que ter agilidade, conforto e preço justo – afirma.
Índice de motos cai, mas é terceiro maior do país
Já em relação a motocicletas, o índice caiu em relação a 2017 em Santa Catarina. O Estado tem 578 mil domicílios com esse tipo de veículo, o que representa 22,7%. Mas houve redução de 1,2% (menos 9 mil residências) em relação a 2017. Ainda assim, a proporção em SC é maior do que a do Brasil, que ficou em 22,2%, e superior aos demais Estados da Região Sul: Paraná (20%) e Rio Grande do Sul (15,8%).
O PNAD também avaliou os lares com ambos os tipos de veículos. Nesse quesito, Santa Catarina é o terceiro Estado do país com mais casos. São 18,6% das residências com moto e automóveis simultaneamente, o que representa 475 mil domicílios. Mas o índice avaliado em 2018 caiu 0,8% em relação a 2017, com 3 mil moradias a menos nessas condições.
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Na Capital, menos automóveis e motos por lar
Quando analisado apenas as condições dos domicílios de Florianópolis, houve queda na posse de automóveis e motocicletas por residência, segundo o IBGE. No caso dos carros, 68,3% tinham pelo menos um veículo em casa em 2016, número que subiu para 75,3% em 2017, mas decaiu para 69,5% em 2018.
No caso das motos, eram 14,2% o total de residências com esse tipo de veículo em 2016, o que cresceu em 2017 para 15,2%, mas também teve queda em 2018, para 14,9% das residências.
Secretário de Mobilidade Urbana de Florianópolis, Michel Mittmann atribui a queda dos índices de automóvel por residência na Capital a uma gradativa mudança de comportamento da população. Ele elenca aumento do uso de transporte por aplicativo, a tendência dos jovens culturalmente utilizarem menos o carro como opção sustentável e a queda menos acentuada do número de usuários de transporte coletivo em relação a outras capitais.
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– Temos que batalhar para que esse números [índice de automóveis por domicílio] não cresça. A gente precisa evoluir muito na questão de mobilidade para que a frota estabilize. Ao mesmo tempo que a gente precisa investir infraestrutura para o coletivo, vai ter que investir para o transporte individual, porque senão a cidade literalmente vai parar. Aí a gente não anda nem com um nem com outro. E o melhor é casar investimentos nas duas infraestruturas. Tem que pensar o foco nas pessoas, principalmente no pedestre – diz.
Conforme dados mais recentes da frota de veículos do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), de abril, Florianópolis tem 256.892 carros e camionetas, e 56.281 motocicletas e motonetas, número ainda em crescimento em relação aos demais meses do ano. Em todo o Estado, são 3.166.179 de automóveis e camionetas e 1.092.343 de motos e motonetas.
Em nota, a Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Florianópolis (Suderf) respondeu que a intenção do governo do Estado é estimular a substituição do carro pelo transporte coletivo, com a implantação da Rede Integrada de Transporte Coletivo da Região Metropolitana, como forma de amenizar os problemas de mobilidade urbana. “O sistema integrado dará agilidade no deslocamento dos passageiros. A Suderf também protocolou, recentemente, no DNIT o pedido de uso exclusivo da terceira faixa da Via Expressa para ônibus”, detalha a nota.
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