Adeus às modelos sobre a pista dos circuitos. A nova proprietária da Fórmula 1, a Liberty Media, anunciou nesta quarta-feira o fim da tradicional presença destas jovens, escolhidas por seus físicos, antes das largadas de cada corrida.

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Esta pequena revolução no cerimonial da F1 será colocada em prática a partir do primeiro Grande Prêmio da temporada 2018, na Austrália em final de março, e valerá por todo o restante da competição.

A Liberty Media, no comando da F1 desde janeiro de 2017, acredita que esta tradição “não corresponde aos valores defendidos por nossa marca e está claramente em contradição com as normas sociais atuais”, explicou em nota o diretor comercial da F1, Sean Bratches.

“Não acreditamos que esta tradição seja apropriada ou de acordo com a Fórmula 1 e seus fãs”, completou.

A categoria rainha do automobilismo, que tenta se reinventar sob a batuta do novo proprietário norte-americano para dar mais protagonismo ao espetáculo, compensará a ausência dessas jovens modelos com convidados famosos e artistas, além de apresentar tradições e produtos locais, explicaram os dirigentes.

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Esta decisão acontece após o surgimento e popularização do movimento #MeToo (#EuTambém), que incentivou mulheres do mundo todo a denunciarem casos de assédio e violência sexuais sofridos.

– Objeto sexual ou publicitário –

“Obrigado à Fórmula 1 por ter decidido acabar com o uso de ‘Grid Girls’. Mais um esporte faz uma clara escolha em relação ao que deseja representar”, comemorou a associação britânica de promoção do esporte feminino Women’s Sport Trust.

“As marcas perecebem que alguma coisa está mudando”, analisou Fatima Benomar, uma das fundadoras do movimento feminista e LGBT francês Les Effrontées, ao ser contactada pela AFP.

“Certos universos masculinos como o esporte e o automobilismo sempre tiveram como hábito usar as mulheres para valorizar seus produtos”, lamentou Benomar.

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“É preciso acabar com estas práticas que reduzem as mulheres a um objeto sexual ou publicitário”, completou.

Por parte dos pilotos ou do grande público, as reações não são unânimes. Nesta quarta-feira, mais de 70% dos internautas que participaram de uma pesquisa no site da Sky Sports lamentaram a decisão.

“Vocês podem dizer que sou antiquado, mas para mim as ‘Grid Girls’ fazem tanto parte do espetáculo quanto os carros, as escuderias e os pilotos”, reagiu no Twitter o piloto alemão de Fórmula E Maro Engel.

“Esse não são os valores de uma sociedade liberal. Sou a favor de que os pilotos/equipes decidam se querem mulheres, homens ou crianças no grid de largada”, declarou por sua vez o piloto brasileiro Lucas di Grassi, atual campeão de Fórmula E.

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Outros pilotos da F1, como o holandês Max Verstappen (Red Bull) ou o alemão Nico Hulkenberg (Renault), afirmaram recentemente serem defensores da presença feminina no grid de largada. O alemão chegou a dizer que “seria uma pena nos privar deste prazer visual”.

Em 2015, durante o GP de Mônaco, o também alemão Sebastian Vettel (Ferrari) havia criticado a substituição de mulheres por homens no grid. “Qual o interesse de parar o carro atrás de George ou Dave?”, disse.

A discussão de manter as jovens, que seguram painéis indicando o número do carro dos pilotos, foi lançada pelos novos proprietários da F1 há algumas semanas.

O diretor esportivo da categoria, Ross Brawn, admitiu em entrevista à BBC em dezembro do ano passado que o tema estava sendo “seriamente debatido”.

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“Muitas pessoas querem respeitar a tradição das ‘Grid Girls’, e outras não”, havia dito. A decisão foi tomada e a segunda opção ganhou.

* AFP