Rendeira de bilro conta a transformação do Retiro da Lagoa da Conceição em 60 verões

No fim da avenida das Rendeiras, na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, moram poucos exclusivos moradores. No quase desconhecido Retiro da Lagoa, uma casa simples de madeira esta à venda por R$ 400 mil. Margeando a água, o pequeno bairro fica escondido atrás das pedras e da Mata Atlântica, depois de uma pequena e íngreme trilha.

A ex-proprietária de pelo menos três terrenos os vendeu há mais de duas décadas por “alguns cruzados”. Cecília Pereira da Boaventura, 80 anos, se mudou para cá há quase 60 verões, quando não existia luz elétrica.

– A vista daqui era muito bonita. Quase não tinha casas por lá – conta Cecília apontando para o centrinho da Lagoa.

No Retiro da Lagoa, as casas estão muito próximas da natureza

O marido, falecido, era pescador e costumava voltar para casa a cada 6 meses se tivesse conseguido peixe. Sozinha, Cecília cortava lenha no Morro da Barra e lavava roupa na praia do Gravatá.

– Eu me ajoelhava nas pedras para lavar a roupa. Eram tempos bem difíceis.

Para sustentar a família de 6 filhos, Cecília traçava toalhas com renda de bilro. Nesta época do ano, ela lembra que junto com as vizinhas colhia macelas – planta típica da região – para fazer travesseiros.

– No ano novo, era tudo renovado. Refazíamos nossos colchões e travesseiros com tecido barato e planta nativa.

Hoje, apenas um dos filhos é pescador – ainda que apenas no inverno, na época da tainha. No verão, ela costuma frequentar o baile da terceira idade na SAL (Sociedade dos Amigos da Lagoa).

– E, claro, me jogo na água todo dia – diz.