Um Plano Diretor existe para zelar por uma harmônica ocupação do solo, gabaritos e zoneamentos para a construção civil, com indispensáveis estudos visando uma "prospecção do futuro". Em Floripa, contudo, não há senso de continuidade. Os vários planos diretores jamais foram executados. O prefeito que chega apaga o passado e produz outro PD, que também não será implementado.
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Ao contrário do que se passa em Curitiba, por exemplo, onde cada plano complementa o anterior e o planejamento urbano (bem como o transporte público) já conta com um projeto de 40 anos, aqui, cada prefeito "assina" a sua mudança, revogando a do antecessor.
Assim foi com o Plano Diretor Metropolitano, concebido pelo arquiteto Luiz Felipe Gama D’Eça na década de 1980. Previa a construção da PC-3 no continente, avenida paralela à atual Via Expressa, com a qual dividiria o trânsito pesado de hoje. Veio um prefeito de São José e eliminou essa via no Plano Diretor de lá. E, como prefeito de cá, colocou uma pá de cal na via que seria a salvação do atual labirinto urbano continental.
Em 1989, o PD previa organizar o Campeche em superquadras, contornadas por avenidas que absorveriam o tráfego de passagem, com corredores de transporte coletivo – numa área 4,5 vezes maior do que a área continental do município. Veio um novo prefeito e, junto com os "contras" e seus mantras populistas, demoliu o plano. O resultado é o Campeche de hoje.
O Plano Diretor de 1997 previa a quarta ponte. Um certo prefeito disse que faria um túnel. O governador da época (2002-2010) levou escola de samba para celebrar o lançamento do "metrô de superfície", que estaria pronto em 2010, junto com a recuperação da Hercílio Luz. A quarta ponte surgiu em maquete, prometida pelo atual governador – que parece ter trocado a ponte nova pela reabilitação da ponte pênsil, quando ambas deveriam ser complementares.
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Já o novo Plano Diretor dispensa qualquer nova ligação. Cancelou a quarta ponte, como se, a partir de 2025, toda a frota de automóveis pudesse ganhar asas e se transformar em helicóptero.
Assim caminha a humanidade na Ilha mais bela e mais engarrafada do mundo – vítima de uma descontinuidade administrativa capaz de envergonhar o gestor de uma carrocinha de pipoca.
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