O que hoje pode ser considerado por muitos um mito, não nasceu com os conhecidos mapas astrais de hoje. A astrologia — aliada à astronomia — nasceu com base na lógica e na matemática. É o que explica a astróloga Giovanna Guarnieri, que reforça ainda o poder de autoconhecimento trazido pela astrologia e que segue até os dias de hoje.
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Há 4 mil anos, a astrologia responde, para alguns, perguntas que a humanidade sempre fez: Quem sou eu? Qual é o meu tempo? Como atravesso uma mudança? O que significa o que estou vivendo?
A astrologia nasceu na antiga Mesopotâmia, como uma prática de observação sistemática do céu, voltado à vida coletiva. Ela respondia questões que, na época, pareciam impossíveis: como prever fenômenos que podem afetar um reino inteiro? Das safras até as guerras e epidemias, ela ajudava a prever a vida coletiva, e rapidamente se tornou um instrumento de Estado, não de autoconhecimento.
— A função original da astrologia era prever eventos que afetavam reinos inteiros, funcionando como uma forma primitiva, mas extremamente sofisticada, de organização social e de leitura do tempo. Só muito mais tarde surgem os primeiros mapas natais individuais, como o do rei Sargão I, ainda restritos à elite governante — explica a astróloga.
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Durante séculos este foi o principal sistema de previsibilidade disponível: as estrelas no céu apontavam quando o rio encheria, se guerras estavam por vir, e alertavam para doenças. Era uma espécie de calendário, ou relógio, e praticamente uma linguagem religiosa. Os egípcios, chineses, persas e os gregos acreditavam que ignorar fenômenos celestes — como um eclipse, por exemplo — era ignorar a vontade dos deuses e os recados do cosmos.
Nem todo mundo sabia interpretar o que aquilo dizia, e os sacerdotes responsáveis por isso tinham autoridade, influenciavam decisões militares e políticas. Isso muito antes do mapa astral que conhecemos hoje.
— Em astronomia e interpretação simbólica influenciavam decisões agrícolas, militares e políticas. Em sociedades dependentes de ciclos naturais, a capacidade de antecipar eventos climáticos ou sociais era literalmente uma questão de sobrevivência. Por isso, muitas culturas elevaram a astrologia ao status de saber essencial: ela oferecia sentido, orientação prática e legitimidade simbólica — afirma Guarnieri.
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Padrões, e não mitos
Essa prática se tornou difundida e ganhou importância porque se baseava nos padrões: quando uma estrela aparecia no céu, isso significava que o nível do rio subiria, o que dava status de “profetas” a quem soubesse interpretar os céus. Hoje, a astrologia se tornou uma ferramenta de conhecimento próprio, com base em padrões de comportamento humano.
— Aprendemos também que, historicamente, quando a astrologia se afasta dessa base empírica e se mistura excessivamente a sincretismos, rituais e narrativas místicas, surge confusão e descrédito. Parte do ceticismo moderno tem origem justamente nesses desvios acumulados ao longo dos séculos — afirma a astróloga. É, na verdade, uma busca por sentido, sob a crença de que somos parte de um sistema maior.
Diferentes lugares, diferentes práticas
Enquanto no Oriente Médio a astrologia se mistura com a matemática e com a lógica, tornando Bagdá um centro de excelência científica, na Europa medieval a prática vivia altos e baixos, misturada ao misticismo.
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Em alguns momentos, a astrologia chegou a ser incorporada ao currículo de estudiosos, segundo a astróloga, mas em outros entrava na mira da Igreja. Ora se misturava a práticas mágicas e talismânicas, ora se aproximava da filosofia. Essa disputa de lados tornou a prática o que conhecemos hoje: heterogênea e frequentemente permeado por misticismo.
— A diferença essencial é que, enquanto os árabes buscaram precisão técnica e lógica, a Europa temperou a astrologia com elementos religiosos, simbólicos e sociais. Ambas as tradições deixaram marcas na astrologia contemporânea — explica.
Separação da astrologia e astronomia
Duas práticas de observação do céu — a astrologia e a astronomia — hoje distintas já foram unidas. A separação foi por volta do século XVII. Antes disso, nomes da história científica como Hiparco, Galileu, Kepler, Newton e Tycho Brahe, estudaram ou utilizaram astrologia em diferentes níveis. O cálculo dos movimentos celestes e a interpretação simbólica desses movimentos eram partes de um mesmo campo intelectual.
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O movimento da Revolução Científica, quando os conhecimentos empíricos passaram a ser testados e provados, ajudou a separar a prática de observação do céu em duas. A astrologia, que trabalha com analogias, símbolos e subjetividade, não se enquadrava mais nos critérios científicos de experimentação, replicabilidade e causalidade mensurável. É nesse momento que ela passa a ocupar um campo mais interpretativo, das ciências humanas e da filosofia, enquanto a astronomia vira uma ciência.
O futuro da astrologia
O que surgiu da observação empírica e primitiva do céu ganha novos contornos na era da tecnologia e da inteligência artificial (IA). Fazer o próprio mapa astral já não demanda mais que alguém se debruce sobre mapas e cálculos: existem plataformas que hoje fazem isso em poucos minutos, e ainda fornecem a interpretação do que cada aspecto significa.
Para a astróloga Giovanna Guarnieri, o avanço é notório:
— Nunca houve uma tecnologia tão capaz de processar grandes volumes de dados astrológicos e oferecer análises personalizadas em escala.
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Ela ainda revela que os trânsitos astrológicos de 2026 reforçam o cenário de inovação, revoluções tecnologias, debates éticos sobre o uso da informação (numa época em que cada vez mais se fala nos conceitos éticos da IA) “e uma nova forma de relação entre humanos e máquinas”.
Para a astrologia, a IA já permite:
- interpretar mapas astrais complexos com rapidez;
- identificar padrões simbólicos difíceis de visualizar manualmente;
- traduzir textos clássicos e recuperar tradições antigas;
- democratizar o acesso.
Mas, para a astróloga, há limites: muito da astrologia envolve contexto, subjetividade e uma sensibilidade que apenas humanos têm. Enquanto a IA se dá bem com cálculos, apenas um astrólogo saberá interpretar as nuances da prática.
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