A tradição holandesa de trocar poemas durante o Sinterklaas ganhou um novo debate: muitos textos têm se tornado excessivamente críticos, ácidos ou humilhantes, e isso pode estar afetando a saúde mental da Geração Z. 

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Estudos e relatos indicam que o humor agressivo, antes visto como brincadeira, agora pode ser percebido como gatilho psicológico para jovens mais sensíveis às dinâmicas de validação e autoestima.

Enquanto gerações anteriores encaravam os poemas como sátira leve, pesquisas mostram que os jovens de hoje tendem a interpretar esse conteúdo como ataque pessoal, especialmente quando já estão expostos a pressões sociais constantes.

Quando a brincadeira deixa de ser leve

A tradição dos “poemas-surpresa” de Sinterklaas sempre envolveu humor irônico e pequenos apontamentos sobre falhas e manias. No entanto, com a evolução das sensibilidades sociais, especialistas observam que parte desse conteúdo ultrapassa o tom de brincadeira e chega a se tornar agressivo ou humilhante. A Geração Z, mais atenta a discursos tóxicos e microagressões, reage a isso de forma diferente.

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Essa mudança cultural tem explicação. A sensibilidade da Geração Z está ligada ao ambiente de exposição contínua: redes sociais, comparações constantes e vigilância digital criam um cenário emocional mais frágil. Quando um poema irônico toca em inseguranças reais, o impacto deixa de ser anedótico. O que antes era apenas humor pode ser percebido como ataque.

Além disso, terapeutas afirmam que a forma como esses poemas são entregues, muitas vezes lidos em voz alta para grupos, amplifica possíveis sentimentos de humilhação. A mistura entre ironia e audiência contribui para que jovens internalizem a mensagem de maneira mais intensa, conectando-a a experiências de bullying e pressão social.

Por que a Geração Z reage de forma diferente

Psicólogos apontam que a Geração Z cresceu em um contexto emocional distinto, marcado por diálogos mais abertos sobre saúde mental, ansiedade e autocuidado. Esse cenário fez com que os jovens desenvolvessem uma percepção mais crítica sobre comportamentos considerados abusivos, ainda que sutis. Assim, o que para gerações anteriores era tolerável, para eles se torna ofensivo.

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Outro ponto importante é que, com o avanço das discussões sobre linguagem violenta e discurso tóxico, muitos jovens passaram a identificar microagressões com maior facilidade. Poemas que reforçam estereótipos, zombam de características físicas ou ironizam fragilidades emocionais passam a ser interpretados não como humor, mas como perpetuação de comportamentos prejudiciais.

Essa diferença de sensibilidade não implica fragilidade, afirmam especialistas, mas uma mudança na forma como a sociedade entende o impacto das palavras. A Geração Z tende a ser mais consciente dos efeitos psicológicos de comentários sutis, respondendo com rejeição ao que consideram linguagem violenta, mesmo quando mascarada como tradição.

A necessidade de repensar tradições

Diante do debate crescente, muitos defendem que a tradição dos poemas de Sinterklaas precisa ser atualizada. Isso não significa eliminá-la, mas adaptá-la para que o humor seja mais leve e respeitoso. Já há escolas e famílias propondo diretrizes para evitar temas sensíveis, aparência física ou problemas pessoais, focando em situações cotidianas e divertidas.

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Especialistas em educação e psicologia afirmam que manter tradições é importante, mas elas também precisam acompanhar mudanças sociais. Ajustar a linguagem dos poemas pode preservar o espírito festivo da celebração, evitando que participantes se sintam expostos ou atacados. O objetivo seria promover um momento de união, não de desconforto.

Para a Geração Z, essas mudanças representam mais do que cuidado: mostram respeito e compreensão das transformações culturais. Reescrever tradições com empatia reforça laços familiares e sociais, mantendo viva a celebração sem ignorar os efeitos emocionais que certas palavras podem ter.