Dois anos depois do primeiro flerte, Carlo Ancelotti aceitou, enfim, se tornar o novo treinador da Seleção Brasileira. O italiano é um dos maiores campeões do futebol mundial e chega ao Brasil com um desafio evidente: conquistar o hexacampeonato da Copa do Mundo. Ele nunca foi técnico de seleções, mas a expectativa entre os torcedores é de que a experiência seja bem-sucedida.
Continua depois da publicidade
As primeiras conversas para a chegada do treinador ocorreram em 2023, após a saída de Tite do comando da Seleção. Ancelotti estava no Real Madrid, e havia acabado de ser campeão da Liga dos Campeões da Europa 2021-22 quando recebeu o convite da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Não aceitou.
Clique aqui para entrar na comunidade do NSC Total Esporte no WhatsApp
Leia mais notícias do Esporte no NSC Total
Então o Brasil, que era dirigido temporariamente por Ramon Menezes, decidiu pela contratação de Fernando Diniz, também interinamente e com a atenção dividida: Diniz comandava a Seleção enquanto também era técnico do Fluminense. Foram seis jogos pelas Eliminatórias da Copa do Mundo 2026: duas vitórias, um empate e três derrotas.
Continua depois da publicidade
Então veio Dorival Júnior, mais um brasileiro. Após boas temporadas pelo Flamengo, em 2023, e no São Paulo, em 2024, Dorival era a “bola da vez”. Fez 16 jogos no comando da Seleção: sete vitórias, sete empates e duas derrotas. Foi demitido após ser goleado pela Argentina por 4 x 1 no último dia 25 de março, pelas Eliminatórias, em Buenos Aires.
— Tenho expectativas altas em relação ao Ancelotti. Nós sabemos que é um técnico vencedor e acho que a contratação tem tudo pra dar certo. O problema é que falta pouco tempo para a Copa. A Seleção vai ter no máximo uns 12 jogos para preparar a equipe. Demorou demais para definir quem seria o técnico para a Copa do Mundo — analisa Mauro Naves, jornalista esportivo com 38 anos de experiência.
Carlo Ancelotti chegou ao Real Madrid em junho de 2021 para preparar a equipe para a temporada 2021-22. O clube havia passado a última temporada sem títulos e trouxe o italiano, que estava no Everton — uma equipe tradicional, mas de menor expressão do futebol inglês. Em quatro temporadas na Espanha, Ancelotti venceu duas Ligas dos Campeões, uma Copa do Rei e duas edições do Campeonato Espanhol. Foram 168 partidas pelo clube: 119 vitórias, 26 empates e 23 derrotas. 70,83% de aproveitamento.
Entretanto, após uma temporada 2024-25 sem títulos, o treinador acertou sua saída com o clube espanhol. Seu destino? Brasil. Sua meta? O hexacampeonato do mundo.
Continua depois da publicidade
— A chegada do Ancelotti à Seleção é ótima. Fico incomodado que seja só até a Copa do Mundo, pois gostaria de vê-lo fazer um trabalho de longo prazo, mas claro que um treinador com cinco títulos da Champions e com histórico de trabalhar nos grandes centros é um baita treinador. O futebol brasileiro só tem a ganhar com Carlo Ancelotti — opina Lédio Carmona, comentarista esportivo do Grupo Globo.
— Pensando exclusivamente no técnico, anima muito. As chances do Brasil na Copa aumentam consideravelmente. O Brasil passa a ter o melhor treinador de seleções do mundo, olhando pelo currículo e grandeza da carreira dele. Dificilmente vamos dar vexames táticos daqui pra frente, como foi a derrota para a Argentina nas Eliminatórias — analisa André Rizek, jornalista esportivo do Grupo Globo e apresentador do Seleção SporTV.
Estar à frente de uma seleção não é um cargo tradicionalmente ocupado pelos grandes treinadores europeus. Com menos tempo de treino para passar aos jogadores táticas complicadas, técnicos de seleções apostam em esquemas mais simples e em grupos definidos de jogadores.
Entretanto, os principais jogadores do futebol brasileiro não são consenso na Seleção. Vini Jr. é um deles. Protagonista do Real Madrid, ele vai ter a chance de provar que consegue ser também o astro da Seleção Brasileira.
Continua depois da publicidade
— É verdade que Vini Jr. nunca jogou na Seleção o que joga no Real Madrid. Nunca foi para a Seleção o que é para o Real Madrid. Mas também nunca teve na Seleção um treinador que apostasse nele como “o cara” do time. Com Ancelotti vai ser assim. É Vini Jr. e mais 10 — avalia Rodrigo Faraco, comentarista esportivo da NSC.
Outra crítica comum se refere à atual “geração” de jogadores brasileiros. Atletas como Rodrygo, Marquinhos e Raphinha deixaram o futebol brasileiro muito cedo, sem ter tempo de estabelecer vínculos mais fortes com torcedores de clubes do Brasil. Esse fator, aliado à presença constante dos jogadores nas redes sociais, faz com que eles sejam questionados. A chegada de Ancelotti pode remediar essa percepção.
— Não vejo esta geração como uma geração fraca. A vejo como uma geração que precisa ser provocada a fazer com a camisa da Seleção Brasileira o que faz com a camisa dos clubes que defende. A capacidade destes jogadores é indiscutível, mas o desempenho com a camisa da Seleção é questionável. Necessário que se sintam desafiados a fazer mais e este será um dos muitos papéis que o Ancelotti precisará desempenhar — analisa Paulo César Vasconcelos, comentarista esportivo do Grupo Globo.
Entre na comunidade exclusiva de colunistas do NSC Total
Clique aqui para receber as notícias do NSC Total pelo Canal do WhatsApp
Confira imagens de Carlo Ancelotti, novo técnico da Seleção, e Vini Jr:
Continua depois da publicidade
Nenhuma seleção venceu uma Copa do Mundo com técnico de outro país
Após 60 anos, a Seleção Brasileira voltará a ter um treinador nascido em outro país. A chegada do italiano não foi aprovada por todos. “Sempre tivemos treinadores nacionais, isso é um fato. Não é que um estrangeiro não deva vir para a Seleção, mas eu apostaria em um técnico brasileiro para esta Copa do Mundo” afirmou Cafu, ídolo da Seleção e campeão das Copas de 1994 e 2002, em entrevista ao jornal espanhol “Sport”.
Mas o fato de Ancelotti ser estrangeiro é relevante para a Seleção Brasileira?
— Zero. Um alemão dirige a Inglaterra, um espanhol dirige a Bélgica, um argentino dirige Uruguai, um francês dirige a Bélgica. Nossos próximos adversários, Equador e Paraguai, são treinados por argentinos. O Brasil se abre para o mundo, finalmente — opina Rizek.
Para Gilmar Ferreira, colunista esportivo do Extra, o fator estrangeiro é relevante pois Ancelotti estaria acostumado a vencer as grandes copas europeias, que assim como a Copa do Mundo, são torneios de caráter eliminatório.
Caso o Brasil vença o torneio em 2026, quebrará um tabu que está de pé desde a primeira Copa. Nenhuma seleção venceu a Copa do Mundo com um técnico nascido fora do seu país. Ancelotti precisará ser pioneiro.
Continua depois da publicidade
— A Seleção Brasileira, com toda a aura que ela tem, precisa ser dirigida pelos melhores. Se o melhor é estrangeiro, que se contrate o melhor — afirma Lédio Carmona.
Entre os jornalistas esportivos contatados pela reportagem, a expectativa para a chegada de Carlo Ancelotti é altamente positiva.
— A capacidade do técnico é indiscutível. Em meio a um atraso de dois anos, ela cria uma esperança que só o tempo mostrará resultados. Há um grupo de bons jogadores, mas que precisa ser instigado a mostrar mais. Não tenho a expectativa de ver uma modificação imediata, mas, sim, de transformações que permitam mudar o perfil da Seleção Brasileira — avalia Paulo César Vasconcelos.
— Sob o ponto de vista estratégico, visando resultados na próxima Copa do Mundo, creio ser uma investida à altura de uma seleção cinco estrelas. Mas precisamos entender melhor o todo deste projeto. Algo que nem a CBF desenhou. O que podemos esperar do Ancelotti em termos de colaboração para o processo? Pode ser que não passe pela cabeça dele este tipo de preocupação. Mas a CBF deveria ter em mente o que tirar do “Projeto Ancelotti” visando o futuro a curto prazo — questiona Gilmar Ferreira.
Continua depois da publicidade
Acostumado com o futebol de clubes, Ancelotti encontrará novos desafios na CBF, ainda mais com o cenário político tumultuoso da Confederação.
E dentro de campo, o que esperar de Ancelotti?
A expectativa é um futebol mais organizado, mas defensivo.
— Ancelotti não é o técnico dos meus sonhos em termos de proposta de jogo ou conceito de futebol, mas é inegável que a sua postura como treinador será muito bem-vinda na Seleção Brasileira, que precisa de uma mentalidade vencedora — comenta Chico Lins, comentarista esportivo da NSC.
Mentalidade vencedora. Currículo estrelado. Títulos em grandes clubes do futebol espanhol, italiano e alemão. Carlo Ancelotti é uma estrela por si só. Sua reputação é maior que a de qualquer atleta brasileiro. As expectativas dos torcedores são enormes. A contratação parece ter sido acertada, mas o que consagra qualquer escolha no futebol é o resultado. Pelo menos com Ancelotti, resultados positivos são costumeiros. A expectativa do hexa não é para qualquer treinador.
Continua depois da publicidade
O que dizem os especialistas sobre a chegada de Carlo Ancelotti:
— Carlo Ancelotti vai fazer de Vini Jr. a grande referência do seu time na Seleção Brasileira. Vai dar confiança pra que ele jogue com a amarelinha o mesmo que joga com a camisa do Real Madrid — Rodrigo Faraco, colunista e comentarista esportivo da NSC.
— Ancelotti é uma boa pedida para a Seleção Brasileira. Renova as esperanças do torcedor em ganhar um título depois de 24 anos e acho uma excelente escolha por parte da CBF. De vez em quando a CBF acerta — Chico Lins, comentarista esportivo da NSC.
— Acho que a mudança de técnico vai ajudar muito. O time vai ficar mais arrumado e será treinado por quem está habituado a lidar com os maiores jogadores do planeta — André Rizek, apresentador e comentarista esportivo do SporTV.
— Ancelotti pode potencializar alguns jogadores. Trazer mais objetividade para a Seleção Brasileira em termos de ambiente. A geração pode não ser a melhor de todos os tempos, mas não é a pior. É uma boa seleção — Lédio Carmona, comentarista esportivo do SporTV.
Continua depois da publicidade
— O Brasil passa a ter um técnico definitivo. Isso é o mais importante. Ancelotti precisará ser alfabetizado em Brasil e futebol brasileiro para entender a dinâmica de como somos e como vivemos a Seleção Brasileira. Passará por experiências novas, como jogar na altitude. O tempo não é o ideal, mas futebol não é ciência exata — Paulo César Vasconcelos, comentarista esportivo do SporTV.
— Em função do tempo perdido neste ciclo de Copa, a contratação de um técnico europeu experiente, vitorioso e carismático do tamanho do Ancelotti é um passo certo na direção do hexa. Recupera a autoestima e assusta os adversários — Gilmar Ferreira, colunista do Extra.
— É impressionante a diferença do futebol apresentado por alguns jogadores pelos seus clubes quando vêm para a Seleção. Os melhores jogadores não jogam pela Seleção o que jogam nos clubes. Tenho muita esperança que com Ancelotti isso possa mudar — Mauro Naves, comentarista esportivo da Amazon Prime.
Os números de Ancelotti como técnico:
- Reggiana (Itália) – 1995/96 – 45 J / 17 V / 16 E / 12 D
- Parma (Itália) – 1996 a 1998 – 87 J / 42 V / 27 E / 18 D
- Juventus (Itália) – 1999 a 2001 – 114 J / 63 V / 33 E / 18 D
- Milan (Itália) – 2001 a 2009 – 420 J / 238 V / 101 E / 81 D
- Chelsea (Inglaterra) – 2009 a 2011 – 109 J / 67 V / 20 E / 22 D
- Paris Saint-Germain (França) – 2011 a 2013 – 77 J / 49 V / 19 E / 9 D
- Real Madrid (Espanha) – 2013 a 2015 – 119 J / 89 V / 14 E / 16 D
- Bayern Munchen (Alemanha) – 2016 a 2017 – 60 J / 42 V / 9 E / 9 D
- Napoli (Itália) – 2018 a 2019 – 73 J / 38 V / 19 E / 16 D
- Everton (Inglaterra) – 2019 a 2021 – 67 J / 31 V / 14 E / 22 D
- Real Madrid (Espanha) – 2021 a 2025 – 168 J / 26 E / 23 D
- Total: 1.339 J / 793 V / 300 E / 246 D – Aproveitamento: 66,7%
Continua depois da publicidade
Títulos e conquistas:
Internacionais:
- Liga dos Campeões: 5 (2003, 2007, 2014, 2022 e 2024)
- Mundial de Clubes: 4 (2007, 2014, 2022 e 2024)
- Supercopa da Europa: 5 (2003, 2007, 2014, 2022 e 2024)
Inglaterra:
- Premier League: 1 (2010)
- Copa da Inglaterra: 1 (2010)
- Supercopa da Inglaterra: 1 (2009)
Espanha:
- Campeonato Espanhol: 2 (2022 e 2024)
- Copa do Rei: 2 (2014 e 2023)
- Supercopa da Espanha: 2 (2022 e 2024)
Itália
- Campeonato Italiano: 1 (2004)
- Copa da Itália: 1 (2003)
- Supercopa da Itália: 1 (2004)
França:
- Campeonato Francês: 1 (2013)
Alemanha:
- Campeonato Alemão: 1 (2017)
- Supercopa da Alemanha: 2 (2016 e 2017)
A Seleção Brasileira nas eliminatórias:
- 21 Pontos – 4ª posição
- 14 J / 6 V / 3 E / 5 D – 50% de aproveitamento
- 20 gols marcados / 16 gols sofridos
Próximos jogos:
- Equador x Brasil – 5 de junho, quinta-feira, às 20h. Estádio Monumental de Guyaquil;
- Brasil x Paraguai – 10 de junho, terça-feira, às 21h45min. Neoquímica Arena.
Continua depois da publicidade
*Arthur Westphalen é estagiário sob a supervisão de Diogo Maçaneiro