Durante a canonização do santo Carlo Acutis, no último domingo (7), internautas levantaram o questionamento sobre como um milagre é reconhecido. A Igreja Católica possui um processo extremamente rigoroso e cético para a validação de milagres, combinando análise médica e teológica.
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Para que um evento seja reconhecido, ele deve cumprir critérios estritos:
1. Cientificamente inexplicável
Uma comissão de médicos peritos, incluindo especialistas não religiosos, analisa todos os registos médicos do caso. A sua tarefa é determinar se existe alguma explicação científica, por mais remota que seja, para a cura. Em ambos os casos, a comissão concluiu por unanimidade que as curas não tinham explicação à luz do conhecimento médico atual. A reversão de uma malformação anatômica (pâncreas anular) e a regeneração completa e instantânea de um cérebro gravemente danificado são consideradas eventos que transcendem as leis da natureza.
2. Instantâneo e completo
A cura deve ser súbita, completa e duradoura. Matheus foi curado no instante em que tocou a relíquia. A recuperação de Valeria começou no exato dia em que a sua mãe rezou no túmulo e progrediu a uma velocidade impossível. Ambos ficaram completamente curados, sem resquícios das suas condições.
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3. Ligação direta com a Intercessão
Uma comissão de teólogos avalia se a cura está diretamente ligada às orações dirigidas a um candidato a santo. Nos dois casos, a conexão foi inequívoca: a cura de Matheus ocorreu no momento exato do seu pedido a Carlo, e a reviravolta no quadro clínico de Valeria coincidiu perfeitamente com a peregrinação da sua mãe.
Os milagres reconhecidos para a canonização de Carlo Acutis
O primeiro milagre (Beatificação)
Em 2010, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, um menino brasileiro chamado Matheus vivia um calvário desde o seu nascimento.
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Ele sofria de pâncreas anular, uma rara anomalia congênita em que o pâncreas não se forma corretamente. Esta condição impedia Matheus de se alimentar normalmente. A sua vida era limitada a uma dieta líquida, e o seu desenvolvimento estava seriamente comprometido.
Do ponto de vista da medicina, o pâncreas anular é um problema anatômico, uma má-formação estrutural. Não existe tratamento medicamentoso para esta condição. A ideia de uma “cura espontânea” é cientificamente impossível.
No dia 12 de outubro de 2013, Matheus foi levado à Capela de Nossa Senhora Aparecida, onde estava exposta uma relíquia de Carlo Acutis, um pedaço de camiseta usada por ele. A família rezou pedindo a intercessão do beato.
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Durante a bênção, o padre aproximou-se com a relíquia. Matheus tocou no relicário e, com a simplicidade de uma criança, fez o seu pedido: “Parar de vomitar”. Na mesma noite, ele voltou para casa e pediu comida.
Pela primeira vez, comeu sem passar mal. Dias depois, novos exames mostraram que não havia mais sinal da anomalia no pâncreas. A partir daquele dia, ele nunca mais teve qualquer sintoma.
O segundo milagre (Canonização)
Em julho de 2022, Valeria Valverde, uma jovem de 21 anos, estudava em Florença, Itália. A sua vida mudou drasticamente após um grave acidente de bicicleta, no qual sofreu um traumatismo craniano severo.
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Ela foi levada para o hospital em estado crítico. O diagnóstico era desolador: hemorragia cerebral massiva e contusões graves. O prognóstico era o pior possível. A equipe médica informou a família que as suas chances de sobrevivência eram mínimas e que, se sobrevivesse, as sequelas seriam permanentes e devastadoras. Ela estava em coma, e a sua atividade cerebral era quase nula.
Lesões cerebrais como as de Valeria são catastróficas. A hemorragia e as contusões destroem o tecido neural, que tem uma capacidade de regeneração muito limitada.
Uma recuperação completa e sem sequelas é considerada fora do âmbito do que é clinicamente esperado. Os médicos preveem, no melhor dos cenários, um estado vegetativo ou incapacidades motoras e cognitivas profundas.
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A mãe de Valeria, Liliana, viajou para Itália e, no dia 8 de julho, movida por uma fé profunda, fez uma peregrinação a Assis para rezar diante do túmulo do Beato Carlo Acutis. Ela passou o dia em oração, deixando uma carta com o seu pedido desesperado pela vida da filha.
Naquele mesmo dia, um evento extraordinário ocorreu. Logo após a sua peregrinação, o hospital ligou-lhe. Valeria, contra todas as probabilidades, começou a respirar espontaneamente. Nos dias seguintes, a sua recuperação foi vertiginosa e inexplicável.
*Sob supervisão de Pablo Brito
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