No fim de semana disputou-se mais uma edição do Mr. Olympia, um dos eventos mais célebres do fisiculturismo mundial onde, neste ano, houve uma vitória histórica para o Brasil: Ramon “Dino” Rocha Queiroz sagrou-se campeão do Classic Physique Olympia 2025, tornando-se o primeiro brasileiro a vencer uma divisão no Mr. Olympia. 

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Os brasileiros no Mr. Olympia

Ramon Dino já havia chegado perto em edições anteriores onde conquistou a vice-liderança nos anos de 2022 e 2023 na Classic Physique. Em 2025, sua preparação parece ter “encaixado” perfeitamente agrupando fatores como proporcionalidade, estética, forma musculosa e condicionamento foram suficientes para superar adversários internacionais como Mike Sommerfeld e Terrence Ruffin.

Na categoria Classic Physique há limites de peso (em torno de 103 kg ou conforme a altura) que forçam o atleta a maximizar densidade muscular, definição e estética, em vez de simplesmente buscar maior massa.

E esse triunfo reforça que, para se destacar em fisiculturismo, não basta “ser grande”, é necessário ter coesão estética, simetria, qualidade muscular, manejo de gordura, estética de linha de cintura, transições musculares limpas.

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Preparação para o Mr. Olympia

Com base em práticas vistas em outros atletas de elite, podemos inferir o que provavelmente esteve presente no ciclo de Ramon Dino um período de off-season controlado onde antes de iniciar a dieta de “peaking” ou “pré-contest”, o atleta passa por fase de construção controlada com ingestão calórica elevada, mas cuidadosamente modulada para evitar acúmulo excessivo de gordura. É uma fase de “ganho limpo”.


Logo nas semanas finais antes do palco, agregando um déficit calórico progressivo, com manipulação de macronutrientes, ajustes de sódio, uso de medidas para reduzir retenção hídrica, estratégias de descarga de carboidrato (carb cycling) e sincronismo de refeições para maximizar a volumização muscular aliada ao mínimo de gordura.

Fisiculturista (Fonte: Canva, banco de imagens)

A distribuição de macronutrientes é igualmente importante. Proteínas são consumidas em níveis elevados para preservar massa magra, especialmente em déficit calórico. Carboidratos ajustados conforme fase da preparação e geralmente elevados em períodos de carga e moderados ou baixos nas fases de corte, com recargas estratégicas próximas ao palco para “encher” o músculo. 

Gorduras, muitas vezes mantidas em faixa moderada, para assegurar saúde hormonal e evitar queda de vitaminas lipossolúveis, bem como o cuidado redobrado com micronutrientes e suplementação de eletrolíticos (sódio, potássio, magnésio), vitaminas, ômega-3, aminoácidos de cadeia ramificada (BCAA), creatina (quando usado), e possivelmente ajudantes ergogênicos permitidos sob supervisão, como cafeína, beta-alanina, etc.

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Sobre o treinamento, atividades de cardio e gasto energético adicional costumam ser inclusas em sessões de cardio moderado nas fases finais, para ajudar no déficit calórico e na definição, no entanto, sem prejudicar recuperação ou catabolismo muscular.

Já o treinamento de musculação ou treino resistido com volume, intensidade, frequência e periodização são rigorosamente planejados para manter estímulo anabólico mesmo em déficit.

Treinos de força e hipertrofia normalmente não são abandonados, mesmo na fase de corte, com ajustes de carga e recuperação. Poses, simulações de palco, refinamentos de transições e ensaios fazem parte do cronograma.

Nos dias que antecedem o palco, os atletas fazem ajustes de ingestão hídrica, ingestão de sódio, manipulação de carboidratos, estratégias de esvaziamento e recarga de líquidos, além de controle de retenção para trazer ao músculo maior densidade visual. Essa é uma fase delicada e de alto risco.

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Sono de qualidade, manejo de estresse, e terapias como liberações e massagens são essenciais para suportar o volume extremo de treino e dieta rígida nos meses que antecedem a competição.

Mantenha sempre o controle de parâmetros como lipídios, hormônios (testosterona, cortisol, T3/T4), perfil de saúde, função renal e hepática e pequenas folgas controladas ou estratégias psicológicas para evitar estresse extremo e compulsões alimentares pós-competição.

Ramon Dino, campeão Mr. Olympia 2025 (Fonte: Instagram Ramon Dino)

E tenha muito cuidado, pois déficits excessivos por longos períodos favorecem catabolismo, queda hormonal e disfunções metabólicas. Bem coo o risco de desidratação severa, disfunção eletrolítica, câimbras, arritmias, colapsos.

Lembrando sempre que o uso inapropriado de substâncias ergogênicas sem supervisão médica anti-doping faz com que muitos atletas recorrem a agentes que implicam risco para fígado, sistema cardiovascular ou perfil hormonal.

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Cuidado no pós-competição

E total atenção para a fase de rebote pós-competição mal gerenciada, sendo a hora que muitos atletas ganham massa gorda exageradamente e geram danos metabólicos associados.

A dieta e preparação envolvidas são extremas com fases de acúmulo inteligente, restrição progressiva, manipulação de macronutrientes, estratégias de água e sódio, treinos densos e recuperação rigorosa. Tudo isso exige acompanhamento multidisciplinar, monitoramento de saúde e consciência de riscos.

Para aspirantes e atletas sérios, o caminho é um trabalho planejado, progressivo, com ênfase na manutenção de saúde metabólica, hormonal e muscular, e não atalhos drásticos. O triunfo de Ramon mostra que o Brasil pode estar entre os melhores, mas sabendo que esse caminho exige equilíbrio, ciência e muita disciplina.

  • Duda Costa é nutricionista e escreve sobre performance esportiva