A balança do combate ao crime está inclinada em Santa Catarina. E o pior: para o lado negativo. Desde 2012, as principais estatísticas de violência subiram no Estado. Os roubos, por exemplo, saltaram 51,4% em cinco anos. O aumento de assassinatos foi de 28,1%, puxado principalmente por Joinville e Florianópolis.
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Por outro lado, o contrapeso na resposta à violência vem perdendo forças. Há cinco anos havia 10.911 policiais militares nas ruas. Segundo os dados mais recentes do Portal de Transparência de SC, em outubro de 2017 o Estado contava com 10.871 trabalhadores (considerando os 918 que se formaram nesta semana). Na comparação entre os dois anos, a redução é de apenas 0,36%, mas bastante significativa pelo contraste com a escalada da criminalidade.
Considerando os dados da Secretaria de Segurança Pública de 1º de janeiro a 31 de outubro dos dois anos, a violência aumentou em praticamente todas as regiões. No Norte, onde há uma curva ascendente nos crimes, os assaltos cresceram 90% desde 2012. Em contrapartida, o efetivo da 5ª Região da Polícia Militar, que atende a área, ficou quase estagnado. Há cinco anos, eram 1.060 no quadro. Agora são 1.089.
Para o integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e presidente da Associação Nacional de Praças, Elisandro Lotin, a única forma a curto prazo de reduzir as estatísticas é a contratação de mais efetivo. Somente na PM, afirma, deveria ter 15 mil servidores.
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— A situação é tão grave que nem sequer a estrutura dos órgãos teve a devida atenção, o que causou uma redução drástica de efetivos nas instituições, inviabilizando assim que as polícias conseguissem fazer seu trabalho. Tanto é verdade que grupos de criminosos se instalaram em SC e aterrorizam a população “nas barbas” das autoridades — critica.
A longo prazo, sugere, é necessário investimento em políticas públicas. Segundo ele, é preciso entender que a segurança não se faz somente com polícia. Se educação, saúde e a reinserção de presos falharem, inevitavelmente teremos um problema grave, diz.
Para o presidente da Comissão de Segurança, Criminalidade e Violência Pública da OAB/SC, Leandro Gornicki Nunes, os recursos dos impostos são direcionados para áreas que não beneficiam o contribuinte de baixa renda, que é a principal vítima da omissão estatal, já que é no seu território o lugar onde impera a violência.
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— As facções aumentam o seu poder na medida em que as políticas sociais deixam de existir. Os jovens de baixa renda não são estimulados a evoluir nos estudos e, consequentemente, não são aproveitados no mercado de trabalho formal, partindo, muitas vezes, para uma carreira dentro dessas facções – disse.
Problema conhecido
A melhoria nos índices de criminalidade em Santa Catarina foi o principal objetivo da campanha Segurança SC — Essa Causa é Nossa, desenvolvida pela NSC Comunicação durante o final de 2015 e 2016. No primeiro evento sobre o assunto, promovido pelo Diário Catarinense em Joinville, em dezembro de 2015, o secretário-adjunto da Segurança Pública (SSP), Aldo Pinheiro D’Ávila, disse que naquele momento os olhos estavam voltados à cidade do Norte, mas até a metade do ano passado as polícias deveriam apresentar resultados para diminuir os índices em toda Santa Catarina.
Isso, no entanto, não ocorreu. Pelo contrário, o ano passado foi marcado pelo início do crescimento das estatísticas em outras regiões. Em entrevistas para o DC durante esses dois anos, os representantes da secretaria admitiram o problema e afirmaram que as polícias estavam trabalhando para contê-lo.
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Aumento da criminalidade em SC expõe desafio do Estado em conter a guerra de facções
O que diz o Estado
“Em nota, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) diz que vai continuar focando no combate ao crime. Segundo a pasta, os números de roubos em 2017 caíram 12,9% na comparação com o ano passado.
O projeto de recomposição dos efetivos é prioridade de governo. Houve incremento de 9.344 servidores desde 2011. São números históricos. Ainda não temos o efetivo ideal, mas temos, sim, a garantia do governador Raimundo Colombo em abrir novos concursos em 2018. A Polícia Militar tem hoje um efetivo de aproximadamente 11 mil policiais, sendo que 4,9 mil foram incluídos neste governo. Isso precisa ser reconhecido”, diz o texto.
A pasta destaca ainda que a guerra de facções fez com que os números de homicídio doloso apresentassem um aumento. De 1º de janeiro a 4 de dezembro foram apreendidas 3.448 armas e mais de 32 mil munições.
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Questionada sobre até quando vai a guerra das facções, a SSP diz que “enquanto houver consumo e tráfico de drogas, ou seja, uma atividade criminosa que rende milhões, fica difícil responder a sua pergunta”.
“O poder público segue regras legais enquanto o crime segue a tendência do mercado. Em 2017, as forças de segurança apreenderam 52 toneladas (de drogas). Este número representa que as polícias estão no caminho certo”, finaliza o texto.