A pressa moderna não combina com quem já viveu mais. E é justamente essa incompatibilidade que alimenta um dos preconceitos mais ignorados: o etarismo, como aponta o médico Drauzio Varella.
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Para ele, o incômodo com o idoso vem da nossa dificuldade em aceitar a passagem do tempo. “Eles andam devagar, falam devagar — e isso nos incomoda”, resume o médico em um vídeo de seu canal no Youtube.
O que parece apenas falta de paciência esconde uma intolerância real com quem envelheceu e agora é visto como estorvo em uma sociedade que valoriza apenas o desempenho.
O preconceito está nos detalhes
Etarismo não é algo gritante. Ele acontece em pequenos gestos: cortar uma fala, suspirar com impaciência, ignorar. E tudo isso vai minando o espaço social dos idosos sem que percebamos.
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“É impressionante como nós temos pouca paciência com os mais velhos”, afirma Drauzio. Essa impaciência cotidiana virou regra, e o pior: é aceita como natural pela maioria das pessoas.
O resultado é um ambiente onde o idoso precisa se adaptar ou se esconder. Não há espaço para desacelerar, refletir ou simplesmente ocupar o tempo com o próprio ritmo.
Exclusão disfarçada de eficiência
“Você anda devagar na rua e o outro já buzinou atrás. Virou um incômodo”, critica Drauzio. O mundo não está mais preparado para quem caminha fora do ritmo da pressa coletiva.
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Essa lógica é cruel porque desumaniza. Deixa de ver o idoso como pessoa para tratá-lo como obstáculo. Como se sua presença prejudicasse o andamento da vida dos outros.
Jorge Félix, pesquisador sobre envelhecimento, complementa no vídeo: “O envelhecimento não é uma doença. Mas o idoso é tratado como um doente desde o momento em que envelhece.” Um rótulo que impacta inclusive o acesso à saúde.
Fingimos que nunca vamos envelhecer
Para Drauzio, existe um medo coletivo de envelhecer. E esse medo se transforma em desprezo por quem já chegou lá. “Os jovens acham que não vão envelhecer. Mas vão”, afirma.
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Esse tipo de pensamento cria distância entre gerações e alimenta o ciclo do preconceito. Ignoramos os idosos para não confrontar o próprio futuro e, com isso, normalizamos a exclusão.
A rejeição ao idoso é uma recusa simbólica ao tempo. E isso compromete a possibilidade de construir uma sociedade mais acolhedora, mais justa e preparada para o envelhecimento populacional.
Aprender a respeitar o tempo dos outros
Drauzio é direto: “Vamos ter que nos preparar para viver numa sociedade mais velha.” Os dados mostram que o Brasil está envelhecendo, mas as atitudes ainda parecem presas ao passado.
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Incluir os mais velhos exige mudar o olhar. Isso envolve escutar mais, julgar menos e entender que a vivência acumulada é uma riqueza, e não um peso.
Valorizar o idoso é, acima de tudo, valorizar a própria humanidade. Porque envelhecer é um privilégio. E a forma como tratamos os outros agora define como seremos tratados depois.
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