A cultura japonesa, com sua filosofia de vida, é única por sua visão do mundo, das pessoas, do trabalho e, principalmente, do tempo.

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Em contraste com o mundo atual, que é acelerado, caótico e barulhento, a crença japonesa convida à reflexão e ao desaceleramento, apresentando seis princípios que são a base de uma vida mais plena e significativa.

Ikigai: o propósito que dá sentido à vida

A pergunta “por que eu acordo todos os dias” é profundamente poderosa e a cultura japonesa responde a ela com a palavra Ikigai.

Ikigai pode ser traduzido como razão de ser, aquilo que dá sentido ou o motivo pelo qual você levanta da cama pela manhã. É crucial não confundir Ikigai com a ideia de sucesso vendida nas redes sociais (ganhar altos valores mensais ou ter uma carreira perfeita).

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O Ikigai é muito mais simples e profundo, surgindo no ponto de intersecção entre quatro pilares:

  1. O que você ama fazer.
  2. No que você é bom.
  3. O que o mundo precisa.
  4. Pelo que você pode ser pago ou valorizado.

Ao encontrar esses pilares, você adquire um propósito e um norte. O Ikigai não precisa ser algo grandioso; pode ser ensinar, cuidar, cozinhar, criar, ouvir, construir, ou simplesmente ser alguém que faz da sua presença um alívio para o mundo.

O Ikigai funciona como uma bússola interna, direcionando nos dias bons e segurando nos dias ruins. Encontrá-lo requer silêncio, reflexão e a repetição de perguntas como: “O que me faz perder a noção do tempo?” ou “o que eu faria até de graça, só pelo prazer de fazer?”.

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Kaisen: a filosofia da melhoria contínua

Se o Ikigai oferece o porquê, o Kaisen (ou Kaizen) ensina o como. Kaisen significa basicamente melhorar um pouquinho todos os dias, nem mais nem menos.

É olhar para qualquer área da vida (saúde, carreira, relacionamentos, hábitos) e perguntar: “como eu posso ser 1% melhor hoje do que eu fui ontem?”.

O segredo está na insignificância aparente desses pequenos passos. O cérebro humano detesta mudanças bruscas e entra em pânico diante de “revoluções do dia para a noite”. O Kaisen pede apenas para ser um pouco melhor hoje, e depois amanhã.

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Pequenos passos enganam o medo e permitem construir transformações reais, profundas e sustentáveis.

Exemplos práticos incluem: caminhar 5 minutos hoje para começar a correr, ler 4 páginas por dia (o que resulta em um livro lido no final do mês), ou economizar R$1 por dia. Cada pequena vitória reforça sua identidade e capacidade de mudar e crescer.

Gambaru: perseverança até o fim

Se o Ikigai mostra o caminho e o Kaisen ensina a caminhar, o Gambaru entrega a força para não desistir, mesmo quando o caminho é difícil. Gambaru traduz-se como “dê o seu melhor,” “vá até o fim,” “persista não importa o que aconteça”.

Não se trata de um “só vai” raso, mas de desenvolver uma força interior e uma convicção profunda que o faz escolher continuar mesmo quando é cansativo ou dói.

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Essa resiliência não nasce do orgulho, mas do significado; quando você lembra o porquê começou, entende porque não pode parar. É o que sustenta um atleta após 100 derrotas ou o que impulsionou os japoneses a reconstruir um país inteiro após a guerra.

O combustível para sustentar o Gambaru é o seu Ikigai, e o Kaisen ajuda lembrando que você só precisa vencer hoje. A verdade é que quem vence no longo prazo não é quem tem mais talento, mas quem tem constância.

Hara Hachi Bu: o equilíbrio da moderação

Hara Hachi Bu é uma frase que os moradores de Okinawa proferem antes de comer, e significa “coma até estar 80% satisfeito”. Mais do que uma regra sobre alimentação, é um princípio de vida que lembra que o equilíbrio mora no meio e que o excesso adoece.

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Hara Hachi Bu é um ato de sabedoria e autocuidado, ensinando a parar antes de se sobrecarregar. Este princípio nos lembra que nem tudo que você pode, você precisa (não precisa trabalhar até desmaiar, nem consumir tudo).

O ser humano tende a ultrapassar o próprio limite (comendo demais, trabalhando em exaustão, consumindo excesso de redes sociais e informação) até que o corpo manifeste ansiedade, estresse ou insônia.

Na prática, significa colocar menos peso no seu dia, menos obrigações e menos excesso, em prol de mais presença, mais qualidade e mais leveza.

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Shoshin: a mente do eterno aprendiz

Uma armadilha comum é a sensação de que já se sabe o suficiente sobre algo, levando a parar de ouvir, estudar e aprender. O antídoto japonês é o Shoshin, a mente de principiante.

Shoshin é o estado mental de quem, mesmo após anos, se aproxima da vida com um olhar curioso, aberto e humilde, como se fosse a primeira vez. Grandes mestres e sábios são eternamente aprendizes e nunca se colocam como donos da verdade.

A mente que se fecha, por achar que já sabe, para de crescer e começa a “envelhecer por dentro”.

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Na prática, o Shoshin envolve fazer perguntas (mesmo que se pense saber a resposta), ouvir mais do que falar, e se abrir para aprender até com quem se supõe saber menos, pois todo mundo sabe algo que você não sabe.

Abissabi: a beleza da imperfeição

O Abissabi é um dos princípios mais poéticos e bonitos da filosofia japonesa. É o entendimento de que tudo na vida é imperfeito, inacabado e impermanente, e que essa condição é justamente o que confere beleza.

É a aceitação de que as rugas e cicatrizes contam histórias de superação, e que um móvel antigo desgastado possui uma beleza que objetos novos não têm. Abissabi é enxergar a beleza na assimetria, no que é natural, simples e passageiro.

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Este princípio nos liberta do perfeccionismo e da crença de que é necessário ter uma vida ou um corpo impecável. A beleza reside na jornada, no caminho, em quem você se torna ao tropeçar, levantar, errar e aprender.

Abissabi significa tratar-se com mais gentileza, aceitando que você está em construção e que há coisas que ainda não domina.

Os seis princípios agem como peças de um quebra-cabeça. O objetivo não é se tornar um ser iluminado ou mudar radicalmente, mas sim tirar o que pesa, alinhar o que importa e lembrar que viver é muito mais do que sobreviver.

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