A Polícia Civil de Pernambuco suspeita que o cantor Gusttavo Lima seja uma espécie de proprietário oculto da Vai de Bet, empresa de apostas que é ex-patrocinadora do Corinthians. Indiciado em 15 de setembro, o cantor é suspeito de cometer os crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa. As informações são de uma reportagem do Fantástico exibida no domingo (29).

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A Vai de Bet é uma das empresas investigadas na Operação Integration, que apura um suposto esquema de jogo ilegal. Gusttavo Lima foi indiciado pela Polícia Civil de Pernambuco por lavagem de dinheiro e organização criminosa, em uma investigação sobre jogos ilegais que envolve 53 pessoas, incluindo bicheiros, empresários e a influenciadora digital Deolane Bezerra.

De acordo com o inquérito acessado pelo Fantástico, Gusttavo Lima tornou-se sócio da Vai de Bet em julho de 2024, com uma participação de 25%, conforme documento encontrado pelos policiais. No entanto, os investigadores suspeitam que o cantor já atuava como proprietário oculto da empresa antes disso.

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No final de 2023, a Vai de Bet firmou um patrocínio milionário com o Corinthians, que se tornou alvo de outra investigação em São Paulo. Em depoimento à polícia, um conselheiro do clube contou que o presidente do time paulista falou por telefone com Gusttavo Lima e que afirmou, naquela época, que o cantor era um dos donos da Vai de Bet.

— Em um dos depoimentos das testemunhas ouvidas no caso da subtração de valores do Corinthians, é mencionado que, no momento da assinatura do contrato, foi informada essa testemunha por parte do presidente do Corinthians, que a Vai de Bet teria como um dos sócios o Gustavo Lima — afirma Juliano Carvalho, promotor de Justiça do Gaeco.

A defesa do cantor afirma que ele não é sócio da Vai de Bet e alega que o contrato encontrado pela polícia indica que ele tem 25% de eventual venda da marca. Também diz que o contrato com a PIX365 tinha cláusula anticorrupção e foi suspenso.

O Corinthians diz que o caso está na Justiça e que o clube não trata mais de questões ligadas a essa empresa.

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R$ 150 mil em cofre

Um cofre milionário com dinheiro vivo (notas de dólares, euros e reais): foi o que a polícia encontrou na sede da Balada Eventos e Produções, empresa de shows de Gusttavo Lima localizada em Goiânia (GO). Os investigadores apreenderam ali cerca de R$ 150 mil.

A polícia considera isso como um indício de lavagem de dinheiro. A defesa de Gusttavo Lima diz que o dinheiro no cofre era para pagamento de fornecedores.

Notas sequenciais

A polícia encontrou ainda 18 notas fiscais sequenciais, emitidas no mesmo dia e em valores fracionados por outra empresa do cantor, a GSA Empreendimentos. Essas notas totalizavam mais de R$ 8 milhões pelo uso de imagem e voz do cantor, e eram emitidas para a PIX365 Soluções (Vai de Bet, de acordo com a polícia), também investigada no esquema. A polícia avalia que esse seria outro indício de lavagem de dinheiro.

A defesa do cantor alega que os valores foram declarados e os impostos pagos. Já a defesa de José André da Rocha Neto (o responsável pela PIX365) diz que as notas sequenciais emitidas à empresa de Gusttavo Lima são pela prestação de serviço do cantor à Vai de Bet.

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Avião vendido duas vezes

Outro ponto que levou ao indiciamento do cantor é a suspeita de que ele participou de uma negociação irregular com empresários ligados a jogos ilegais. Isso porque, entre os anos de 2023 e 2024, um avião da Balada Eventos foi vendido duas vezes para investigados na operação — por US$ 6 milhões e R$ 33 milhões, respectivamente.

A primeira compra foi feita pela Sports Entretenimento, que pertence a Darwin Henrique da Silva Filho, pernambucano que, segundo a polícia, é de uma família de bicheiros do Recife. Ele se desfez do avião dois meses após a compra, alegando problemas técnicos.

A polícia identificou que tanto o contrato quanto distrato foram emitidos no mesmo dia, 25 de maio de 2023. E que o laudo — que apontou a falha mecânica — foi em 29 de junho daquele ano. O mesmo avião voltou a ser vendido no ano seguinte. Dessa vez, quem comprou foi a J.M.J Participações, do empresário José André da Rocha Neto, que também é alvo da operação.

De acordo com a polícia, a segunda venda foi realizada sem que nenhum laudo comprovasse o reparo no avião. Além disso, a transação envolveu um helicóptero que também era da empresa de Gusttavo Lima e já tinha sido comprado por outra empresa de Rocha Neto. Na negociação, o helicóptero voltou para o cantor.

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As duas vendas, segundo a investigação, usaram dinheiro legal e dinheiro ilegal. Segundo o inquérito, o esquema funcionava assim:

  • O dinheiro do jogo do bicho, de jogos de azar e de bets legalizadas iam todos para um mesmo caixa;
  • Lá, os valores lícitos eram misturados aos do crime;
  • Para dar aparência legal e voltar ao mercado limpo, o dinheiro contaminado, segundo a polícia, foi usado na negociação das aeronaves.

— É uma forma de lavagem, transitar o dinheiro através de várias pessoas físicas ou jurídicas, buscando não facilitar o rastreamento deles — diz Renato Rocha, delegado geral da Polícia de Pernambuco.

A defesa de Gusttavo Lima diz que os contratos foram feitos em nome das empresas com os seus representantes legais, o que afastaria a possibilidade de lavagem de dinheiro. Também alega que a análise dos policiais apresenta “falhas ao não considerar a data digital do distrato da compra de uma das aeronaves”.

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Também afirmou que os registros de compra e venda das aeronaves — nas negociações com Darwin e com Rocha Neto — foram feitos sem ocultação ou dissimulação e os pagamentos em contas bancárias normais.

A defesa de Rocha Neto alega que ele usou o helicóptero como parte de pagamento do jatinho da Balada Eventos. Darwin Filho nega ter relação com o jogo do bicho. Quanto ao cancelamento da compra do avião do cantor sertanejo, ele disse que a transação foi lícita e regular. Segundo ele, a própria quebra de sigilo bancário confirma as informações prestadas. Por meio dos advogados, Gusttavo Lima negou conhecer Darwin Filho.

Carona para a Grécia

José André da Rocha Neto – dono da empresa que comprou o avião de Gusttavo Lima pela 2ª vez – e a mulher dele, Aissla, são empresários da Paraíba e investigados na operação. Os dois têm uma incompatibilidade entre o rendimento declarado à Receita Federal e a quantia que eles movimentaram nos últimos anos.

O casal José e Aissla tem muitas empresas — e três são investigadas por lavagem de dinheiro. Elas são:

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  • J.M.J Participações, a mesma que comprou o avião da empresa do Gusttavo Lima
  • Supreme Marketing e Publicidade, que comprou o helicóptero do cantor
  • PIX365 Soluções, empresa que, segundo a polícia, é a Vai de Bet, e tem Gusttavo Lima como garoto-propaganda.

No dia em que a operação foi deflagrada, no começo de setembro, o cantor foi intimado a depor. Rocha Neto e a mulher estavam com prisão decretada. Os bens e contas bancárias dos três foram bloqueados.

Gusttavo Lima estava na Grécia gravando músicas novas e sucessos antigos. Ele tinha escolhido um iate luxuoso para comemorar com amigos seu aniversário de 35 anos. Rocha Neto e Aissla estavam lá. O cantor negou ter relação de intimidade com o casal.

Segundo a polícia, na ida para a Grécia, o casal pegou carona no avião do cantor. Já no retorno ao Brasil, Gusttavo chegou sem eles. A suspeita é de que o casal — então foragido — teria desembarcado antes, na Espanha.

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Foi a suposta ajuda a foragidos que motivou a decretação da prisão de Gusttavo Lima, em 16 de setembro. A decisão caiu, em segunda instância, menos de 24 horas depois.

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