Osvaldo mantém horta comunitária em Palhoça, na Grande Florianópolis
Osvaldo mantém horta comunitária em Palhoça, na Grande Florianópolis (Foto: Marco Favero / Agencia RBS)

Sentir o cheiro de terra úmida entre os dedos enquanto se coloca as sementes uma a uma e, semanas depois, vê-las germinar em forma de alimentos saudáveis têm motivado comunidades catarinenses a investir em espaços coletivos para produzir os próprios alimentos. Mais do que proporcionar comida saudável, as hortas comunitárias têm produzido um novo ambiente de integração social e qualidade de vida.

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Hortas comunitárias estimulam cooperação entre vizinhos em Florianópolis

Em Santa Catarina, existem sete hortas comunitárias criadas pela Eletrosul, que disponibiliza os terrenos próximos às torres de transmissão de energia e entrega o lugar pronto para o cultivo. Os canteiros são administrados pelos moradores que plantam, colhem, consomem e vendem os produtos.

– São cerca de 300 famílias em todo o Estado e acredito que se tirar uma horta dessas de onde elas estão vai gerar uma revolução. É algo que todo mundo está engajado, envolvido e aproveita – avalia Anderson Caetano, técnico agrícola responsável pela coordenação do projeto no Sul do país.

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Para a companhia, a vantagem está em proteger as áreas onde as torres estão instaladas de invasões e queimadas e em dar destino ao terreno, que são um dos melhores para o cultivo porque geralmente sofreram pouca alteração nos últimos anos e guardam características bastante naturais do solo. São quatro hortas comunitárias em Palhoça, duas em Xanxerê e outra em Joinville. A Eletrosul também incentivou a criação de outras 22 hortas comunitárias no Rio Grande do Sul e no Paraná.

Terrenos públicos e unidades recebem hortas comunitárias em Florianópolis

O projeto da Eletrosul existe desde 2001, mas o movimento de hortas comunitárias cresce em todo o país, seja por incentivo de organizações não governamentais, órgãos públicos ou pela motivação de um grupo de moradores, como aconteceu no bairro do Campeche, em Florianópolis. Em São Paulo, a ONG Cidades sem Fome já criou 25 áreas de cultivo na Zona Leste da capital paulista com a perspectiva de negócio social.

– A temática da agricultura urbana vai crescer muito nos próximos anos. É a saída para cultivar produtos de qualidade nas grandes cidades e perto da comunidade – acredita Hans Temp, fundador da ONG.

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Temp entende que a atividade agrícola por muito tempo foi vista como um trabalho de pessoas com pouca instrução, mas defende que esse preconceito já está acabando e o agricultor urbano será uma profissão extremamente valorizada nos próximos anos. Segundo ele, os orgânicos são o meio para uma alimentação saudável e é preciso praticar um preço acessível e justo.

– Fazer chegar produtos de qualidade e saudáveis na mesa das pessoas é um negócio incrível. Startups surgirão nesse mercado de grande riqueza financeira e social – projeta Temp.

(Foto: Marco Favero / Agencia RBS)

Horta comunitária é vista como negócio social em São Paulo

O programa Cidades sem Fome em São Paulo tem como política de ação não criar hortas apenas com o perfil de filantropia, em que todo mundo produz um pouco e os produtos são doados. O objetivo é transformar as hortas em negócio social, no qual os trabalhadores são treinados e recebem os lucros da venda dos produtos. Segundo o fundador Hans Temp, isso ajuda a garantir a perpetuação da horta, já que há motivações maiores.

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– Quando o foco é apenas doações ou ajuda, as coisas tendem a morrer rapidamente. Não há benefícios direto e ao longo prazo as pessoas se desmotivam porque o entusiasmo muda ou acaba. Nossos projetos são negócios sociais que geram renda para quem trabalha nessas hortas comunitárias – explica Hans.

Os produtos orgânicos são vendidos para a própria comunidade, para restaurantes e mercados e os valores voltam para a horta como investimento, manutenção e renda. Segundo Hans, esse processo funciona porque há um produto de qualidade, que são os orgânicos, com valor agregado por ser de um trabalho social. Ele ainda critica os valores altos de algumas feiras de orgânicos onde um pé de alface chega a custar R$ 5.

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– Esses valores são absurdos e tristes porque geram zonas de exclusão quando deveria ser o contrário. Priva as pessoas de consumir produtos saudáveis. A produção de alimentos orgânicos não é mais cara – defende.

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Para o Cidades sem Fome, é importante atribuir um preço justo ao mercado para vender os produtos e gerar a sustentabilidade no negócio. Preço acessível é aquele que uma pessoa de qualquer classe social pode pagar numa horta comunitária. É o mesmo preço que se encontra na feira do bairro, mas a qualidade do produto orgânico.

– Nas periferias um dos problemas é que os mercados ficam longe e a horta se torna um lugar perto com alimentos saudáveis – ressalta Hans.

(Foto: Marco Favero / Agencia RBS)

Modelos de hortas comunitárias podem variar

Enquanto os modelos implantados pela ONG Cidades sem Fome em São Paulo tem a perspectiva de negócio e geração de renda das pessoas que trabalham na horta comunitária, os modelos desenvolvidos pela Eletrosul e organizados pela própria comunidade variam quanto ao foco da horta. Na horta comunitária do Pacuca, no bairro do Campeche, em Florianópolis, os produtos orgânicos são doados para quem participa e apoia o projeto.

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– Nossa ideia é criar uma cultura da reciclagem do resíduo orgânico por meio da compostagem. Quem ajuda no projeto, cuida da horta ou dedica seu tempo, pode receber algum produto em troca – explica Eduardo Rodrigues, coordenador do projeto.

A horta do Pacuca começou por iniciativa da comunidade com apoio da Associação dos Moradores do Campeche junto ao Conselho de Saúde do bairro e recebeu ajuda da Companhia de Melhoramentos da Capital (Comcap) com gravetos para a compostagem. Nesse modelo, todos ajudam como podem e os custos são divididos entre os voluntários que também buscam parcerias.

No modelo proposto pela Eletrosul, a empresa entrega a horta comunitária pronta e com ferramentas para a manutenção e cultivo. A partir desse ponto, a área passa para gestão da comunidade, que deve seguir um regimento com 30 tópicos em que responsabilidades das duas partes são esclarecidas. Cada horta também tem um coordenador para gerir problemas e se comunicar com a empresa.

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– Nesse modelo, as hortas são cultivadas por famílias da comunidade e cada família tem o seu canteiro e determina o destino dos produtos. Podem consumir, vender apenas o excedente ou toda a produção – explica Anderson Caetano.

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