Que os humanos não costumam ter memórias ou recordações nítidas dos primeiros anos de vida, todo mundo sabe. Mas por que isso acontece? E quando o cérebro começa, de fato, a guardar lembranças? As respostas não são simples, e ainda geram debate entre os cientistas.
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O que é entendido é que, apesar do passado não ser recordado de forma consciente na vida adulta, as vivências moldam quem somos, influenciam nossos vínculos e ajudam a construir nossa identidade emocional.
Segundo a neuropediatra Luciane Baratelli, do Rio de Janeiro, autora do livro Antes que você cresça: 90 perguntas para fazer ao seu filho enquanto ele cresce, os registros que nós fazemos, mesmo que não sejam memórias ilustradas, começam cedo, ainda nos primeiros meses de vida.
— Um bebê de três meses pode distinguir melhor a voz dos cuidadores; aos seis, consegue reconhecer de maneira mais ativa a mãe e o pai. Essas memórias existem, mas, em geral, são de curto prazo e não ficam acessíveis quando crescemos — diz em entrevista à revista Crescer.
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Ou seja, embora o bebê memorize e reconheça sons e rostos familiares, essas lembranças não se transformam em memórias conscientes, o que faz parte do fenômeno conhecido como amnésia infantil, que já intriga pais e cientistas há décadas.
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O estudo The Infantile Amnesia Phenomenon and the Beginning of Autobiographical Memory (algo como “O fenômeno da amnésia infantil e o início da memória autobiográfica”, em tradução livre), da Universidade de Bolonha, na Itália, mostra que as primeiras lembranças tendem a ser fragmentadas, ou seja, são flashes visuais, sons ou cheiros.
Só a partir dos 3 ou 4 anos a criança começa a construir memórias autobiográficas mais completas, unindo narrativa, emoção e contexto. Esse processo ocorre porque as estruturas cerebrais, como o hipocampo e o córtex pré-frontal, ainda estão em desenvolvimento nessa fase.
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A psicóloga e neurocientista Bruna Velasques, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e coordenadora do Laboratório de Neurofisiologia e Neuropsicologia da Atenção (Lanna/UFRJ), explica essa dinâmica à revista Crescer:
— O hipocampo é a estrutura-chave relacionada à memória de longo prazo, mas, para consolidar lembranças, precisa trabalhar em conjunto com o córtex pré-frontal, responsável por organizar o raciocínio e a narrativa. É essa integração que permite que, a partir dos 3 anos, a criança comece a contar sobre o dia dela de forma mais lógica. Antes disso, ficam registrados traços de hábitos, sensações e aprendizagens: memórias implícitas, que não conseguimos verbalizar.
A profissional lembra que a amígdala cerebral, ligada às emoções, funciona como um “carimbo” que diz ao cérebro o que merece ser guardado com mais intensidade. Ou seja, quanto mais emocionalmente significativa a experiência, maior a chance de o hipocampo consolidar a memória.
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Pesquisas recentes, como uma publicada na Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA, indicam que o hipocampo dos bebês já é capaz de formar memórias por volta de um ano.
No entanto, elas são efêmeras: podem ser codificadas, mas dificilmente recuperadas mais tarde. Isso não quer dizer que eles não guardem nada, o desafio está em acessá-las no futuro.
*Com informações da revista Crescer
**Sob supervisão de Pablo Brito
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