O Rio de Janeiro, ou, melhor, um espelho mágico dele, volta a ser o cenário da nova obra da escritora Lis Vilas Boas, finalista do Prêmio Odisséia. Em Feras, lançado pela Editora Rocco, a autora retorna ao universo que apresentou em Garras, seu primeiro livro, publicado também pela casa.
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A nova história apresenta Selene Veronis e Heitor Lacarez, personagens que já haviam conquistado os leitores de Garras. Educada, refinada, sempre com um sorriso no rosto, Selene é uma mulher impecável aos olhos da elite. Mas Heitor, um homem de reputação duvidosa e charme perigoso, é o único que conhece o que se esconde sob a fachada da socialite: uma artista ousada e aventureira que sonha com liberdade.
— O Heitor foi muito queridinho pelos leitores logo de cara. Ele é muito mais bem-humorado e não tão sério e sisudo quanto Edgar, o protagonista de Garras — pontua Liz em entrevista ao NSC Total. Sem poderes mágicos, Selene é descrita pela autora como mais contida, se comparada com Diana, a protagonista do primeiro livro. — Sem poder, seja mágico ou financeiro, ela é uma humana que precisa encontrar caminhos para resolver a situação dentro das limitações dela, sendo inteligente, calma, serena. Para isso, todas as armas dela passam por outros caminhos, como a diplomacia e a fofoca, um artifício que as damas da alta sociedade usavam muito a seu favor — aborda.
No livro, para ajudar a própria família à beira da ruína, Selene se vê obrigada a aceitar o noivado com Ciro de Minet, um dos homens mais perigosos da cidade, presidente da cúpula do jogo de poupa-fera e rival da matilha Lacarez. Agora, com um inimigo em comum, Heitor e Selene se veem mais uma vez ligados.
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— Ao escrever Feras tive o desafio de mostrar o passado de Heitor e de Selene, que os leitores tiveram um vislumbre em Garras, apresentar uma história que fosse apaixonante e também de fazer os dois livros e as duas histórias fossem independentes. Foi mais desafiador de escrever, tinha muitas regras pré-estabelecidas, mas também foi muito gostoso voltar para um universo conhecido e mostrar outros lados que em Garras eu não tive espaço para apresentar — explica Lis.
Rio de Janeiro de 1920
Natural de Volta Redonda, Lis explica que o cenário do Rio de Janeiro, parte essencial da obra, sempre teve para ela um ar “meio mágico” — O Rio sempre representou para mim um lugar de sair da minha realidade. Quando passei a morar, a cidade se tornou a minha realidade e com isso fui confrontada com os lados não tão bonitos. Escrever sobre foi muito fácil, porque ao andar pelo Rio respiramos esse cenário, os prédios antigos, a própria decadência e falta de conservação me levam para esse lugar de pensar na cidade fantástica, mas cheia de problemas — pontua.
No novo livro, o jogo do bicho ganha uma dimensão mística, transformando-se em jogo do poupa-fera, enquanto o carnaval mantém seu nome, mas adquire outras origens, uma festa nascida da própria natureza selvagem das criaturas que habitam o local.
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— A história do jogo do bicho está muito alinhavada com a história do Rio de Janeiro e, assim como o carnaval, são indissociáveis da cidade. Enquanto em Garras temos os caçadores, que os leitores relacionaram com os milicianos, eu fui em busca de outra vertente de bandidos para trabalhar em Feras— aborda a autora.
Amor e segundas chances
E é nesse submundo do Rio de Janeiro mágico de 1920 que criaturas ferozes disputam poder, influência e afeto. E Heitor, ao lado de Selene, precisa enfrentar as mágoas do passado. Entre eles, há desejo e ressentimento, mas também coragem de se reconectar.
Lis revela que sempre quis escrever uma história de segunda chance dentro da romantasia, e que Heitor surgiu como o personagem ideal para isso. — Eu tenho a sensação que temos visto menos livros com romances de segunda chance e acredito isso está ligado principalmente com o momento como um todo. Hoje as mulheres têm mais noção do próprio valor e de que elas não precisam se contentar com qualquer coisa. Isso é ótimo, mas inadvertidamente também deixa as leitoras menos pacientes com romances de segunda chance, porque não é qualquer coisa que as leitoras vão considerar que são passíveis de perdão no mocinho — afirma Lis.
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Desta forma, com um passado já existente e precisando ser trabalhado, os protagonistas vão precisar lidar com questões de quebra de confiança se quiserem ficar juntos. — Eu não sou uma grande leitora de segundas chances por também não ser muito paciente, então eu mesma criei esse problema para mim e tive que sair dele — finaliza Lis.




