Uma adolescente de 15 anos morreu na última quarta-feira (28), em Brasília, por complicações causadas, supostamente, pelo uso de cigarro eletrônico, conhecido como vape, de acordo com o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF). A jovem desenvolveu um quadro de pneumonia que não respondia a antibióticos. As informações são do g1.

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Conforme o IgesDF, a paciente foi diagnosticada com pneumonia comunitária, causada pelo vírus da gripe (Influenza A) e uma lesão nos pulmões provocada pelo uso de cigarros eletrônicos — uma condição conhecida como EVALI, sigla em inglês para e-cigarette or vaping use-associated lung injury.

A jovem morava em Ceilândia, no Distrito Federal, com os pais, e frequentava uma escola da rede pública. Segundo médicos ouvidos pelo g1, a família não sabia que a estudante fazia uso de vape. A informação só foi descoberta durante a entrevista médica, após o agravamento do quadro de saúde.

Até última atualização desta reportagem, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) não havia aberto investigação sobre o caso, que foi reportado à Comissão de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). Uma investigação para comprovar a morte por uso de vape só será aberta caso a família autorize.

Procurada pelo portal, a família da jovem não quis falar sobre a morte.

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— Estamos em luto eterno — disse o pai.

O que aconteceu com a jovem

De acordo com a pneumologista Alessandra Camargo, a paciente estava com tosse há quatro meses. A família procurou atendimento em vários hospitais, até que a menina foi internada no Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB). O primeiro diagnóstico foi de pneumonia comunitária, pneumonia por influenza A e EVALI, segundo o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (IgesDF).

Em 18 de maio, a adolescente foi transferida da UTI do HMIB para a enfermaria do Hospital Cidade do Sol (HSol), em Ceilândia, e tratada com antibióticos, corticosteroides e suporte clínico. Segundo o IgesDF, a estudante apresentou melhora com fisioterapia para recuperar a função pulmonar.

Dois dias depois, a menina voltou a ter febre e o tratamento precisou ser ajustado. Em razão da “necessidade de continuidade do cuidado especializado”, a adolescente foi transferida pra o Hospital Universitário de Brasília (HUB), na terça-feira (27).

Como o quadro de saúde se agravou, na quarta-feira (28) “houve necessidade de cuidados em unidade de terapia intensiva (UTI)”, mas o hospital estava com lotação máxima. A jovem então foi transferida para a UTI do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN). O g1 apurou que ainda na ambulância ela sofreu uma parada cardíaca. A equipe do HRAN tentou reanimá-la, mas não teve sucesso.

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O velório e sepultamento da adolescente ocorrerão no cemitério de Águas Lindas (GO), nesta sexta-feira (30).

Estudo da UFSC compara uso de cigarro eletrônico a anfetamina

Uso é proibido?

O uso de dispositivos eletrônicos para fumar, como o vape, é proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009. Apesar disso, a comercialização desses produtos ocorre de forma clandestina em várias regiões do país.

Dados do IBGE, por meio da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, indicam que cerca de 16% dos jovens entre 13 e 17 anos, e 21,4% dos jovens de 18 a 24 anos já experimentaram cigarros eletrônicos. Entre estudantes do 9º ano, o consumo tem aumentado de maneira alarmante.

— O vape tem várias substâncias químicas. Independente da marca, ele tem vitamina E. […] Se for para inalação, ela se transforma como se fosse cristais e provoca lesões nos alvéolos, que inflamam e viram fibrose, como se fosse cicatriz. […] O tecido perde a funcionalidade, não funciona mais para entrar o oxigênio e sair o gás carbônico. Ele não faz mais a respiração — disse Maria Enedina Scuarcialupi ao g1.

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A médica explica que a EVALI é uma doença nova e teve a Classificação Internacional de Doenças (CID) registrada recentemente.

— Nem todos os médicos estão habituados. Às vezes, o médico nem lembra de perguntar se o adolescente usa vape. […] Muitos jovens já devem ter morrido com diagnóstico de insuficiência respiratória aguda por influenza, Covid, por infecção, porque simula o quadro de infecção — afirmou.

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