A Represa de Rogun é o projeto de infraestrutura mais ambicioso do Tadjiquistão, uma nação que há décadas luta para construir a barragem que, uma vez concluída, será a mais alta do mundo, com quase 1.100 pés (335,28 metros) de altura.
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A importância do projeto é crítica: seu objetivo é quase dobrar a produção de energia do país, resolvendo de forma decisiva a crônica escassez de energia que afeta 70% de sua população, especialmente durante os rigorosos meses de inverno.
Após décadas de atrasos, disputas regionais e obstáculos de financiamento que deixaram seu futuro incerto, novas dinâmicas geopolíticas, impulsionadas por alianças regionais renovadas e pelo conflito na Ucrânia, estão finalmente tornando sua conclusão uma realidade provável.
A grande promessa: por que a Represa de Rogun é vital
A Represa de Rogun é a peça central da estratégia energética do Tadjiquistão, projetada para ser a maior de uma cascata de barragens ao longo do rio Vakhsh. A necessidade do projeto é fundamental para a estabilidade e o desenvolvimento econômico do país.
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Atualmente, o Tadjiquistão depende da Represa de Nurek, que fornece cerca de 60% de sua eletricidade, mas essa capacidade é suficiente apenas durante os meses de verão, quando os níveis de água estão altos o suficiente para alimentar as turbinas.
No inverno, a produção de energia hidrelétrica despenca com a redução do fluxo do rio, mergulhando a maior parte da população em uma crise energética.
Os principais benefícios esperados da conclusão de Rogun incluem:
• Dobrar a produção de energia: A nova barragem tem capacidade para quase dobrar a produção total de energia do país, garantindo um fornecimento estável e confiável para seus 10 milhões de habitantes.
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• Resolver a crise de inverno: Ao gerar um excedente significativo de energia, Rogun permitirá que o Tadjiquistão supere a deficiência de produção sazonal que historicamente paralisou o país.
• Independência e exportação de energia: O plano do governo é usar o excedente de energia gerado no verão para exportação, vendendo-o ou trocando-o com países vizinhos por gás para uso no inverno, garantindo segurança energética durante todo o ano.
O projeto transcende a mera infraestrutura, tornando-se um pilar da identidade nacional e da aspiração por um futuro próspero.
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O progresso já é tangível, com duas das seis turbinas planejadas da barragem já em operação e gerando eletricidade, um sinal do avanço constante do projeto na última década.
Uma jornada de obstáculos: décadas de desafios financeiros e políticos
A construção da Represa de Rogun tem sido uma saga marcada por dificuldades financeiras e disputas políticas que se estendem por décadas, desde o colapso da União Soviética.
Disputas regionais e parcerias fracassadas
Inicialmente, o projeto enfrentou forte oposição regional. O Banco Mundial recusou-se a financiar a construção, em parte devido a “preocupações sobre tensões potenciais com o vizinho a jusante, o Uzbequistão”.
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Sob a liderança de seu ex-presidente, o Uzbequistão temia que o Tadjiquistão pudesse usar a barragem como uma arma geopolítica para controlar o fornecimento de água.
“The distrust between these countries in ’90s and 2000s meant that the Uzbek leadership, particularly under Islam Karimov was convinced that Tajikistan would use control of the dam to limit Uzbekistan’s water supply.”
Uma tentativa de parceria com a gigante russa de alumínio RUSAL também fracassou. Disputas sobre a propriedade do projeto, a divisão de receitas e uma proposta da RUSAL para reduzir a altura da barragem para cortar custos levaram ao fim do acordo.
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O Tadjiquistão sempre insistiu em construir a barragem em sua altura máxima, não apenas por razões de eficiência energética, mas também pelo forte simbolismo de possuir a barragem mais alta do mundo, uma forma de “deixar sua marca no cenário mundial”, como aponta a análise.
A luta por financiamento
Os desafios financeiros têm sido igualmente formidáveis. O financiamento original do projeto, proveniente da União Soviética, foi interrompido com sua desintegração no início dos anos 1990.
Desde então, o Tadjiquistão tem buscado desesperadamente fontes alternativas de capital. Para avançar com a construção, o país recorreu a estratégias internas e externas:
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• Títulos forçados: Na década de 2010, o governo forçou seus cidadãos a comprar títulos para ajudar a financiar a barragem.
• Emissão de Eurobonds: Em 2017, o país emitiu seu primeiro Eurobond, levantando $500 milhões que permitiram um avanço substancial no projeto.
Além do desafio financeiro, o projeto possui uma enorme dimensão humana, exigindo o reassentamento de mais de 50.000 pessoas para dar lugar ao reservatório.
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Apesar dos esforços, o custo restante é monumental. O Tadjiquistão ainda precisa de $6,3 bilhões para concluir a construção, um valor que representa mais da metade do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
O ponto de virada: como a geopolítica remodelou o futuro de Rogun
Mudanças recentes no cenário regional e global criaram um novo impulso para o projeto, transformando o que antes parecia um sonho distante em uma meta alcançável.
Cooperação regional renovada
Um fator crucial para o renascimento de Rogun foi a melhoria significativa nas relações com o Uzbequistão. A nova liderança uzbeque percebeu que a cooperação, em vez do confronto, poderia trazer benefícios mútuos.
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A visão atual é a de um sistema de energia integrado, semelhante ao que existia na era soviética. O plano prevê que o Tadjiquistão exporte até 70% da eletricidade da barragem para vizinhos como Uzbequistão e Cazaquistão, que, em troca, forneceriam gás ao Tadjiquistão durante o inverno.
O efeito da Guerra na Ucrânia e o novo apoio internacional
A guerra na Ucrânia acelerou o interesse ocidental em apoiar a independência dos países da Ásia Central em relação à influência russa.
No final de 2023, foi anunciado um desenvolvimento decisivo: a formação de um consórcio global liderado pelo Banco Mundial para financiar a construção de Rogun, com um investimento inicial de cerca de $3 bilhões.
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Este consórcio inclui importantes instituições financeiras como o Banco Asiático de Desenvolvimento, o Banco Europeu de Investimento e o Banco Islâmico de Desenvolvimento.
A ausência de investidores russos no consórcio é notável, marcando uma mudança geopolítica significativa em relação às tentativas anteriores de parceria, como o acordo fracassado com a gigante russa RUSAL. A motivação por trás desse apoio é tanto econômica quanto geopolítica.
A posição oficial do Kremlin é de que mantém uma forte relação com o Tadjiquistão, mas considera a Represa de Rogun um projeto “puramente comercial”.
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Navegando entre gigantes para um futuro energético
A Represa de Rogun é, sem dúvida, o projeto mais importante para o futuro do Tadjiquistão, simbolizando sua busca por independência energética e soberania econômica.
Após uma longa história de dificuldades financeiras, disputas diplomáticas e parcerias fracassadas, uma confluência de diplomacia regional aprimorada e mudanças geopolíticas globais injetou nova vida no projeto.
A habilidade do Tadjiquistão em “jogar com essas potências maiores umas contra as outras” para alcançar seus objetivos estratégicos tem sido notável.
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Com o financiamento internacional se tornando cada vez mais provável, parece haver poucos impedimentos restantes para a conclusão da barragem mais alta do mundo.








