O martírio dos usuários do transporte público de Palhoça levou os moradores a se mobilizar. Um grupo entregou ao Ministério Público de Santa Catarina, em janeiro, um documento com mais de 300 páginas denunciando diversos problemas no serviço, como superlotação, falta de linhas, atrasos e más condições dos ônibus, como falta de segurança e de higiene. O material está com a 6ª Promotoria de Justiça da cidade, sem prazo para o parecer.

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Na última sexta-feira, Thiago Ramos estava num ônibus da Jotur a caminho do trabalho em Palhoça quando o vidro da janela estourou. Ele se machucou no braço.

— Tive que voltar pra casa, pois minha cabeça e minha roupa estavam com cacos de vidro, além, claro, de ter que limpar o ferimento. Valeu Palhoça! Valeu Jotur! — desabafou o jovem nas redes sociais.

Esse foi só mais um dos graves acidentes dos últimos meses. Em março de 2017, passageiros da Jotur que iam a Florianópolis viveram momentos de pânico na BR-101, em São José. Durante a descida no bairro Roçado, a traseira do veículo ficou desgovernada na pista. Três meses depois, um ônibus da empresa se partiu ao meio enquanto trafegava na Avenida das Torres. E em novembro, outro acidente, quando um ônibus sem freio bateu na traseira de um caminhão na BR-101, ferindo oito passageiros.

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Tentando mudar esse contexto, moradores criaram o “Movimento Popular Ônibus da Palhoça”. Ao longo de seis meses, eles levantaram informações sobre o transporte público na cidade. O relatório entregue ao MPSC traz uma pesquisa de avaliação com mais de 870 pessoas.

— Todas as situações pesquisadas são alarmantes, desde a questão da higiene dos veículos, a falta de cumprimento de horários, falta de manutenção, são situações absurdas e a pesquisa revela um péssimo serviço do transporte público — disse um dos líderes do movimento, Renato Gomes, à NSC TV.

Segundo ele, 10% dos ônibus não estão em dia com o Departamento de Transportes e Terminais (Deter), mesmo assim estão rodando. E um em cada cinco placas da frota da Jotur sequer estão registradas no Deter.

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Além disso, de acordo com o documento, em dias úteis é preciso esperar no mínimo 20 minutos na estação de transbordo rumo aos bairros ou a Florianópolis, já que não tem como fugir da conexão. Esse tempo aumenta para mínimo meia hora em finais de semana e feriados.

Prefeitura pretende abrir licitação

O transporte público intermunicipal na Grande Florianópolis nunca foi licitado. Em Palhoça, a Jotur é única empresa a prestar o serviço há mais de 50 anos. A empresa opera com contrato emergencial. Por dia, são cerca de 40 mil passageiros em 53 linhas intermunicipais e 117 municipais.

A prefeitura garante que fiscaliza o serviço e que recebe reclamações constantes. Em 2017, a Jotur foi multada quatro vezes. A Secretario de Infraestrutura e Saneamento de Palhoça pretende, até a metade do ano, abrir uma licitação para que uma nova empresa assuma o serviço.

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Jotur diz que não há precariedade

Em nota, a empresa informou que desconhece os detalhes do documento, quais linhas foram avaliadas e qual o período da consulta. A Jotur também disse que se coloca à disposição do Ministério Público e aguarda o posicionamento dos promotores. Que acompanha os debates sobre o transporte coletivo em Palhoça e a publicação do edital de licitação.

“Não há precariedade na operação e nem na qualidade do serviço, são 54 mil viagens, o que corresponde a aproximadamente a 800 mil quilômetros por mês e, em média, 1,1 milhão de passageiros transportados no mesmo período, disputando espaço para transitar em condições adversas de um trânsito complexo e caótico, que não oferece condições para o cumprimento razoável dos horários. Diariamente todos os coletivos partem para a operação das linhas devidamente abastecidos, lavados, limpos e vistoriados. Além disso, a empresa mantém rigoroso programa de manutenção preventiva”, se explicou a empresa.

Relembre

Em março do ano passado, uma reportagem da Hora de SC destacou as reclamações de má conservação e descumprimento nos horários de ônibus da Jotur. O Deter disse, á época, que há uma “falsa impressão” de superlotação nos veículos da empresa.

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* Com informações da NSC TV

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