Todo final de ano o ritual se repete. Com a energia renovada, traçamos planos grandiosos: “vou emagrecer”, “lerei mais”, “guardarei mais dinheiro”.
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Acreditamos que a simples virada no calendário será suficiente para nos transformar. No entanto, a realidade se impõe. Vem a ressaca de janeiro, a folia de fevereiro e, quando nos damos conta, “depois do Carnaval”, as metas ambiciosas se dissolveram, tornando-se apenas fantasmas de uma vida que adiamos mais uma vez.
Mas por que esse ciclo de autossabotagem é tão comum? Na série Luz, Câmera, NSC, a apresentadora do Globo Esporte Santa Catarina, Fernanda Moro falou sobre o seu processo quando começou a correr.
O hábito que começou com dor
Criar um novo hábito nunca é simples, e com Fernanda não foi diferente. Logo no início, ela enfrentou um obstáculo significativo e contraintuitivo: uma canelite grave. O paradoxo de sua jornada se instalou nesse momento, quando ela começou a associar o ato de correr com o desconforto físico.
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“Então por muitas vezes eu estava saindo de casa para correr e para sentir dor.”
Por que alguém continuaria fazendo algo que causa dor? A resposta de Fernanda revela uma verdade poderosa sobre a persistência inteligente. Mesmo com o sofrimento físico, ela já conseguia perceber os imensos benefícios mentais que a prática lhe trazia.
Ela sentia que aquilo “estava fazendo bem” em um nível mais profundo e não queria parar. Em vez de simplesmente desistir ou ignorar a lesão, ela agiu. Procurou ajuda profissional, foi ao médico, fez sessões de fisioterapia e insistiu nos treinos de forma adaptada, incluindo o reforço muscular.
Essa é a lição: persistir não é apenas aguentar, mas procurar as ferramentas certas para superar os obstáculos de forma responsável.
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Seu cérebro foi programado para a preguiça, não para o sucesso
A primeira verdade a ser encarada é que seu cérebro é, por natureza, uma “máquina de desculpas”. Ele não foi projetado para o empreendedorismo ou para o otimismo da vida moderna; sua programação fundamental é muito mais antiga e primitiva.
Por milhões de anos, o cérebro humano foi treinado para uma única missão: conservar energia para sobreviver. Isso significava comer o máximo possível quando houvesse comida e descansar no canto da “caverna” até que a fome obrigasse a uma nova caçada.
Nossos ancestrais que saíam pelos cantos sem necessidade eram devorados por predadores ou não sobreviviam até a próxima coleta. Essa herança evolutiva explica por que ele sempre buscará o caminho de menor esforço, como maratonar uma série em vez de limpar a casa.
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Entender que essa programação não é uma falha de caráter, mas um instinto de sobrevivência, é o primeiro passo para aprender a gerenciá-la e não se tornar refém dela.
O fracasso é uma armadilha confortável
Para o filósofo Leandro Karnal, não sempre, mas com frequência, o fracasso pode ser uma zona de conforto. Quando nos acostumamos a não atingir nossas metas, algo perigoso acontece: somos liberados do esforço.
A pressão para tentar, para lutar, para ter sucesso, simplesmente desaparece. Não deu certo, afinal, “meu corpo é assim mesmo”, “eu nunca aprendi inglês”, “eu não consigo guardar dinheiro”. O fracasso se torna uma justificativa para não fazer mais nada.
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Essa “acomodação no fracasso” funciona como um vício. Ela nos protege da dor de uma nova tentativa e da possibilidade de uma nova falha, mas nos prende a um estado de estagnação.
Ao abraçar a narrativa de que “não adianta tentar”, abrimos mão do nosso poder de evoluir e nos transformamos em espectadores da nossa própria vida.
Metas ousadas demais são o caminho mais curto para a desistência
O erro clássico de quem quer mudar de vida é estabelecer objetivos grandiosos e completamente irreais. Prometer a si mesmo “aprender inglês fluente neste verão” ou “ter o corpo perfeito em 30 dias” é, segundo Karnal, uma receita infalível para a frustração.
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Ao definir metas vastas que provavelmente não serão cumpridas, estamos, na verdade, treinando nosso cérebro para se acostumar com a derrota. Ele aprende que nossas promessas são falsas e, com o tempo, para de se esforçar.
A solução é o oposto: comece com metas realistas e modestas. Em vez de sonhar em perder 15 quilos em um mês, estabeleça a meta de perder dois. Atingir esse objetivo, por menor que pareça, envia uma mensagem poderosa ao cérebro: “eu sou capaz de cumprir o que me proponho”.
Para solidificar essa vitória, insista na importância da recompensa. Ao atingir a meta, premie-se. O cérebro adora recompensas, diz ele. Pode ser algo simples, como permitir-se “uma refeição pisando na jaca”, que reforça o novo comportamento e cria um ciclo positivo de sucesso.
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Consistência vence genialidade, sempre
A verdadeira diferença entre “vencedores e perdedores” raramente está no talento inato. O fator decisivo é a capacidade de construir e manter bons hábitos.
De nada adianta ter um surto de motivação e estudar inglês por oito horas em um único sábado se não houver consistência nos outros dias. Esse esforço isolado é uma fantasia, não uma estratégia.
O filósofo Aristóteles já dizia que “o hábito é uma segunda natureza”, e essa máxima é o pilar da transformação. Pessoas com capacidade mediana, mas com bons hábitos, produzem muito.
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Em contrapartida, pessoas brilhantes e geniais, mas sem a disciplina dos hábitos, acabam sabotando qualquer progresso.
A chave é começar pequeno para reprogramar o cérebro. Comprometer-se a ler por apenas 15 minutos todos os dias, por exemplo, é infinitamente mais eficaz do que prometer ler um livro por semana e não conseguir.
Mas esteja preparado para a autossabotagem. Seu cérebro, a “máquina de desculpas”, tentará quebrar o padrão. Karnal adverte: no quarto dia, você estará cansado, e uma voz interna dirá: “Já que ontem eu li por uma hora, hoje posso pular”.
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Não caia nessa armadilha. A consistência modesta é mais poderosa que o esforço esporádico e intenso.
Luz, Câmera, NSC: como a corrida transformou a rotina de Fernanda Moro, apresentadora do GE SC

