Dedicar tudo de si em prol de uma causa não é um trabalho fácil. Para Ivana Santos, de 56 anos, já são quase 30 anos atuando no resgate e acolhimento de cães em Joinville, no Norte de Santa Catarina. Apesar dos desafios enfrentados, a ativista afirma que tudo vale a pena pelo seu propósito de ajudar os bichinhos a terem uma vida mais digna.
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Ivana resgata, acolhe e proporciona um lar temporário para cães em situação de abandono ou maus-tratos. Atualmente, 29 animais vivem no abrigo. A moradora de Joinville estima que mais de 450 animais já tenham passado por ali durante os 28 anos que realiza o projeto.
Ivana resgata cães em Joinville desde 2002
A ativista conta que o instinto de ajudar os animais existe desde sua infância, quando entendeu que ninguém merece ser abandonado, passar fome ou sede.
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— Quando eu era criança, a gente estava almoçando na casa dos meus avós, na cidade de nascimento, e minha mãe comentou: “Nossa, o cavalo do vovô está tão magrinho. Aí eu falei assim: “Ah, mãe, então pega meu papá e dá para ele” — relembra.
O desejo de construir um abrigo para acolher animais surgiu em 1998, quando Ivana decidiu cuidar de dois cavalos debilitados que encontrou.
A partir de 2002, Ivana passou a receber apenas cães. O local, construído no bairro Nova Brasília, foi pensado em acomodar com segurança todos os cachorros resgatados, com o espaço e estrutura adequados.
Cenário do abandono de cães
Segundo Ivana, o ato do abandono é mais comum entre a transição da fase de filhote para a adolescência. Isso porque há mudanças mais significativas no comportamento dos cachorros.
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— “Ele cresceu do jeito que eu não queria” ou “ele rasgou o chinelo que não era para ter rasgado”. O cachorro aprende por repetição, só que as pessoas não conseguem fazer com que ele aprenda o que é ou o que não é assim — explica.
Por conta disso, muitas vezes os tutores optam pelo abandono. Ivana conta que essa ação tem sido cada vez mais frequente. Também há casos em que o abandono, de fato, não acontece, mas os responsáveis acabam praticando maus tratos contra os cães, deixando-os em situações graves.
— Então o cachorrinho acaba sofrendo o abandono e fica esperando que aquele tutor vá buscá-lo, porque ele acha que é só um passeio e que logo vai voltar, mas não volta mais. Então é onde ele começa a definhar, porque não é só a fome, também é a desnutrição pela sede — explica.
As dificuldades a serem superadas pelo projeto
O desafio financeiro é um dos principais obstáculos enfrentados por Ivana. Praticamente todos os animais resgatados chegam ao abrigo com os mais variados problemas de saúde, como desnutrição, doenças na pele e fraturas.
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Os custos para manter o projeto ativo são diversos. Em média, 10 quilos de ração são consumidos por dia. Além disso, também existem os gastos em razão do atendimento veterinário, limpeza e manutenção do local.
— Muitas pessoas falam: “Ah, você é um anjo”. Eu falei: “Ah, de nada, tem que ver as contas que eu tenho para pagar”. Faço o que toda a sociedade deveria fazer, que é cuidar dos seus — brinca.
Por conta disso, Ivana realiza ações para arrecadar valores nas redes sociais. A ativista também recebe doações de voluntários, que se identificam com o propósito do projeto. Mas os maiores custos são aqueles destinados à recuperação dos animais resgatados, que muitas vezes precisam passar por cirurgias.
Para Ivana, o caso mais marcante aconteceu em 2021. Na ocasião, um cachorro paraplégico foi resgatado em situação de “somente pele e osso”, conta a ativista.
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Após o resgate, o animal foi levado a diferentes clínicas veterinárias, que indicaram a eutanasia como a única solução. Mesmo assim, Ivana procurou outros profissionais e um deles acreditou na reabilitação do Paçoca, como foi chamado.
— O Paçoca foi uma briga porque eu disse não à eutanásia nele. Eu resgatei ele para viver. E agora está aqui o garoto, coisa mais linda — conta.
Desde então, o Paçoca passou por diversos tratamentos, que ultrapassam o valor de R$ 10 mil. Agora ele vive com Ivana, pois nenhuma família se interessou em adotá-lo.
Adoção: um ato de amor, mas, principalmente, de responsabilidade
Após quase três décadas de trabalho, Ivana conta que muitas vezes, após a adoção, as famílias acabam retornando o cachorro depois de um período. Ela defende que antes de resolver dar um lar para um animal é essencial estar preparado para recebê-lo bem e compreender que o “cachorrinho fofinho” não será um filhote para sempre.
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A ativista reforça que a adoção precisa ser um ato de responsabilidade, um verdadeiro compromisso com o bichinho, que espera se tornar parte de uma nova família.
— Pensa muito bem antes de ter um cachorrinho ou gatinho porque é uma vida e eles amam muito a gente. Eles vão ter uma vida de 15 a 20 anos conosco, então não abandone — reforça.
Se dedicar 24 horas por dia não é a solução mais fácil, exige sacrifícios e incertezas. Entretanto, Ivana enxerga isso como sua forma de contribuir para uma sociedade melhor, reforçando o trabalho de conscientização.
— Procure adotar. Quanto mais adotar animais e dar um lar para eles é melhor do que ficar comprando, porque a compra de animais também é complicada para sociedade. Aquelas fêmeas ficam ali dentro daquela gaiola tendo que estar parindo, sofrendo para uma sociedade se expor. “Ah, eu tenho um cachorrinho disso e daquilo”. Adoção. Adoção é muito importante — finaliza.
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*Sob supervisão de Leandro Ferreira
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