O nervosismo tomou conta de Augusto Delfino minutos antes da final da segunda divisão do amador de Palhoça, disputado na manhã deste domingo (10) no estádio Renato Silveira, o campo do Guarani. Mesmo com paralisia cerebral, o auxiliar técnico de apenas 24 anos – no seu primeiro campeonato – ajudou a equipe a chegar a uma grande decisão. Por isso sentia o peso da responsabilidade.

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Por causa da doença, Guto não move o corpo e nem fala. Ele se comunica através de uma antena fixada na testa. No começo do ano, o treinador do Pura Arte, Lui Vandré, soube do sonho do garoto em ser técnico de futebol e o convidou para integrar a comissão da equipe. Formado em Educação Física em 2017, o conhecimento tático do garoto foi crucial para a campanha: foram quatro vitórias e um empate até de chegar de forma invicta à disputa do título contra o Atlético Catarinense, que já ganhou duas vezes a série A e que caiu em 2016.

No entanto, assim como Guto, o time que fez uma grande campanha também entrou nervoso, errando passes no campo de defesa. Logo aos dois minutos, o Frango, camisa 6 do Catarinense, abriu o placar com um belo chute cruzado de fora da área, sem chances para o goleiro do Pura Arte. A pressão do adversário era forte, com mais posse de bola e chances de ampliar o placar.

“Pede pro Andrei marcar o 8. A origem das jogadas vem dele”, escreveu Guto com a antena na testa, letra por letra, no tablet à sua frente. Lui seguiu a orientação do auxiliar e o jogo mudou. O Pura Arte começou a acertar mais os passes e dominar o meio de campo. As jogadas começaram a aparecer. Aos 25 minutos, num bate e rebate na entrada da área do Catarinense, Fabinho chutou, a bola explodiu na zaga, quicou no chão e encobriu o goleiro. Um a um. Os minutos finais da primeira etapa foram de pressão do Pura Arte.

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Para o segundo tempo, o time muda a formação do tradicional 442 para 343, a preferida do Guto. Só que o mesmo erro do começo do jogo se repetiu na etapa complementar. Aos três minutos, o jogador Andrei, do Catarinense, recebeu livre na pequena área e só empurrou para dentro. Um balde de água fria. A partir daí o jogo ficou truncado, com poucas oportunidades e muitas faltas de ambos os lados. Na casamata, muito nervosismo e palavrões. Guto lamentou: “as mudanças não surtiram efeito”. O Catarinense acabou dominando a partida até o fim e foi campeão pelo placar de 2×1.

Técnico quer contrato vitalício

Bastante emocionado durante a partida à beira do campo, o técnico Lui não conteve as lágrimas no apito final. Recebeu abraços dos companheiros de equipe e agradeceu o trabalho do auxiliar dele ao longo da temporada.

— O Guto acrescentou muito. O pessoal se inspirava bastante na força de vontade dele. Muitos na situação dele estariam travado numa cama, e ele está aí por causa dessa força de vontade. Ele ajudou muito tecnicamente, emocionalmente. Pena não ter fechado com o título. O Guto, se ele quiser, vai assinar um contrato vitalício com a gente!

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O incansável pai do Augusto, seu Marcos Delfino, acompanhou os jogos da segundona ao lado do filho. Ele lamentou o vice-campeonato, mas não deixou de enaltecer a experiência que o garoto teve.

— É uma pena que, mesmo o time estando invicto, não tenha levado a final. Triste porque o time é muito bom. Tenho certeza que pra ele foi uma experiência muito boa. Acho que ele deve realmente ter se sentido dentro do campo, treinando, ajudando a arrumar o time. É isso que ele deseja. Acredito que seja só o começo. E como ele é determinado, vai seguir o caminho nesse sentido — acredita.

Quando Guto foi convidado para integrar a comissão técnica do Pura Arte, a Hora de Santa Catarina fez uma reportagem especial contando a história do garoto. Relembre.

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Vídeo: fanático por futebol e com paralisia cerebral, Guto Delfino vira auxiliar técnico