Sem filiação partidária até março deste ano, o bombeiro aposentado Carlos Moisés da Silva, 51 anos, entrou no Partido Social Liberal (PSL) para trabalhar na campanha do amigo Lucas Esmeraldino, candidato ao Senado pela sigla e principal apoiador de Jair Bolsonaro no Estado. Dois dias antes do prazo final para registros de candidaturas no Tribunal Regional Eleitoral (TRE), aceitou a missão de concorrer a governador pelo PSL. Quase oito meses depois da primeira aventura na política, torna-se o governador de Santa Catarina.

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Logo após o resultado de 7 de outubro, quando foi confirmado no segundo turno, disse em entrevistas que esperava surpreender. No entanto, o sentimento era bem diferente quando o partido optou por concorrer ao governo catarinense.

A principal ideia da sigla era ter uma boa bancada na Assembleia Legislativa para fortalecer o PSL no cenário estadual. A votação veio, e os números deram muito mais do que o partido queria. Até Bolsonaro admitiu que o foco estava na presidência da República e na Câmara dos Deputados. Mas Moisés entrou na onda bolsonarista catarinense e deu um dos primeiros governos de Estado para os pesselistas no país.

Com um plano de governo tímido resumido em cinco páginas, Moisés chegou ao segundo turno devendo mais propostas. Por isso, focou nisso logo nos primeiros dias de campanha. Reuniu-se com nomes de diferentes áreas, mas principalmente da segurança pública. Contou com o apoio de coronéis e oficiais da Polícia Militar (PM) e do Corpo de Bombeiros, corporações de onde ele é oriundo. Membros do derrotado MDB começaram a abrir voto no coronel aposentado e ceder apoio não confirmado pelo candidato.

O novo governador entrou no serviço público pela formação da PM, em 1987. Foram três anos até se tornar oficial, tempo suficiente para fazer amigos e deixar boas marcas. À época, PM e Corpo de Bombeiros faziam parte da mesma corporação. Ao final do treinamento, Moisés preferiu ser bombeiro. Deixou a Capital para trabalhar no Sul do Estado, onde nasceu a esposa. Natural de Imbituba, Késia, 47 anos, foi o motivo da mudança. 

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Os dois se casaram e foram morar em Tubarão, onde ele comandou a unidade do Corpo de Bombeiros da cidade por 18 anos. Tiveram duas filhas: Sarah e Raissa. Além de fundamental para a construção familiar, Késia também é o elo entre Moisés e Lucas Esmeraldino.

A família do candidato ao Senado pelo PSL sempre foi muito próxima da família da futura primeira-dama catarinense. Por isso, Esmeraldino e Moisés se conhecem há 30 anos, fator fundamental para ele ter sido o escolhido para concorrer ao governo. Em Florianópolis, onde Moisés nasceu, ainda moram os pais do novo governador. Domingos e Irene da Silva residem no Bairro Carianos, depois de passarem também pelo Saco dos Limões. O pai é subtenente aposentado da PM, enquanto a mãe é dona de casa.

Em paralelo à trajetória profissional, Moisés dedicou-se também à vida acadêmica. É bacharel e mestre em Direito pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), onde foi professor de direito administrativo e constitucional, além de ser inscrito no Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Na vida pessoal, mantinha como hobby até antes da campanha a produção de cerveja e vinho artesanal, tudo feito em casa.

Pela trajetória nos bombeiros, foi corregedor-adjunto da corporação, onde também passou pela Ouvidoria. Ainda foi coordenador Regional de Defesa Civil no Sul do Estado. Na Secretaria de Justiça e Cidadania, foi assessor técnico na diretoria de planejamento. Foi nomeado durante a gestão do secretário Sady Beck Junior.

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A indicação do nome de Moisés veio de dois coronéis da PM. Como havia muitos problemas para a liberação de alvarás em presídios do Estado, o bombeiro foi chamado para atuar nos planos preventivos de incêndio. Deixou uma boa marca, segundo fonte ouvida pela reportagem, que o apontou como fundamental para construções de unidades prisionais feitas com recursos do programa Pacto Por Santa Catarina.

Diante da falta de propostas estruturadas para apresentar no segundo turno, em que ninguém jamais imaginaria que chegaria, Moisés baseou as respostas em sabatinas e debates na sua experiência administrativa e lembrou da sua passagem pelo Observatório Social de Tubarão. O órgão deve ter mais espaço para fiscalizar o governo, segundo promessa de campanha.

E essa deve ser a sua principal marca a partir da transição que inicia nesta semana. Somam-se a isso serenidade e inteligência, duas características apontadas como marcantes por pessoas próximas a ele. Politicamente, o novo governador deve ter ao seu lado Lucas Esmeraldino e o início de negociações de apoio, mesmo que o discurso de Moisés durante a campanha tenho sido com o foco em "despolitizar". Do ponto de vista pessoal, o pesselista costuma dizer nos bastidores que, para ele produzir bem, é preciso dormir bem, algo que dificilmente terá como fazer no governo de SC.