A cena se repete a cada temporal em Santa Catarina: ruas alagadas, casas invadidas pela água e, logo depois, prefeitas e prefeitos surgem nas redes sociais vestindo o tradicional colete laranja, caminhando em meio aos estragos para anunciar providências. Durante muito tempo, essa imagem foi interpretada como sinal de presença, de liderança e de compromisso com a população. Hoje, porém, ela começa a produzir o efeito inverso. O colete laranja passou a simbolizar que a chuva chegou, causou danos, mas que o poder público falhou em evitar o previsível.
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O que a população espera dos gestores em episódios de chuva é, cada vez mais, algo simples e poderoso: que eles não precisem aparecer. Que a chuva venha e vá embora sem alagamentos, sem prejuízos, sem famílias perdendo móveis e dignidade. A ausência do prefeito no meio da enchente deixou de ser sinônimo de omissão e passou a ser sinal de eficiência. Se não houve danos, é porque alguém trabalhou antes.
Fotos mostram estragos das chuvas
Essa mudança de percepção não aconteceu por acaso. As chuvas deixaram de ser eventos excepcionais. Elas são recorrentes, intensas e, em muitos casos, previsíveis. Diante disso, cabe aos gestores públicos mapear os pontos críticos, identificar onde os alagamentos se repetem e agir de forma estrutural. Não se trata mais de reagir ao desastre, mas de impedir que ele aconteça. A velha justificativa de que “choveu muito em pouco tempo” já não convence uma população que vive esse cenário ano após ano.
O que as pessoas querem não é discurso nem vídeo explicativo. Querem drenagem eficiente, galerias dimensionadas, limpeza de rios e planejamento urbano que considere a realidade climática atual. Querem obras que não aparecem em fotos bonitas, mas fazem toda a diferença quando o céu fecha. O colete laranja, nesse contexto, deve ser instrumento de trabalho técnico, da Defesa Civil, dos engenheiros, das equipes de prevenção, e não figurino de marketing político.
O desafio que se impõe aos prefeitos e prefeitas, assim como para gestores públicos do Estado, é vestir o colete da prevenção. Governar, hoje, é agir antes da água subir, e não depois que ela já entrou nas casas. A presença mais elogiada será justamente aquela que não precisa ser registrada em vídeo quando a chuva deixou estragos, porque o problema simplesmente não aconteceu. Esse é o novo parâmetro de gestão que a população passou a exigir, e não há mais como ignorá-lo.
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