O bolsonarismo vive em Santa Catarina o que talvez seja sua maior crise desde que o movimento ganhou corpo no Estado, em 2018. A sequência de embates entre a deputada estadual Ana Campagnolo (PL) e os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro, Carlos e Eduardo Bolsonaro, expôs, de forma inédita, fissuras internas que antes pareciam impensáveis dentro da direita catarinense.

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O estopim foi a sinalização de Ana em apoio à candidatura da deputada federal Caroline de Toni (PL) ao Senado em 2026 numa análise de que a chegada de Carlos afastaria a colega de partido do PL. O gesto, aparentemente simples, foi interpretado como um marco simbólico: o momento em que uma parcela da direita local decidiu traçar um limite para o bolsonarismo. A reação veio rápida, e desproporcional, especialmente por parte de Eduardo Bolsonaro, que, dos Estados Unidos, publicou uma postagem na terça-feira (29) que acirrou ainda mais o clima.

Nas redes sociais, o reflexo é visível. A rejeição a Carlos Bolsonaro cresce de maneira perceptível, inclusive entre simpatizantes do próprio bolsonarismo. O vereador carioca, que há mais de duas décadas ocupa a mesma cadeira no Rio de Janeiro, passou a representar, para muitos, um excesso de Jair Bolsonaro na relação com Santa Catarina. Aparentemente, está se traçando um limite que até então não se imaginava que poderia existir no impacto do ex-presidente nas urnas catarinenses.

Enquanto isso, figuras como Ana Campagnolo, Caroline de Toni e Júlia Zanatta assumem, com estilos distintos, o protagonismo de uma nova direita catarinense. Elas ocupam o espaço que antes pertencia quase exclusivamente a Jair Bolsonaro e seus filhos, e fazem isso com discurso próprio.

A questão que se impõe agora é: quem dita as regras da direita em Santa Catarina? O bolsonarismo, antes incontestável, parece atravessar uma espécie de sessão de terapia coletiva, um “divã” político onde as lealdades são testadas e as lideranças repensadas.

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Ana pode não ter planejado, mas sua movimentação marca um divisor de águas. Ao defender Caroline de Toni e sinalizar uma postura de independência em relação ao clã Bolsonaro, ela abriu espaço para um novo capítulo da direita catarinense, um movimento que pode tanto fortalecer quanto fragmentar o grupo nas eleições de 2026. O que dá força ao movimento é que o estopim foi dado por um nome de peso. Ana foi a mais votada na eleição para a Alesc em 2022 e mantém um capital político próprio.

O fato é que, gostem ou não, Santa Catarina dá sinais de que pode deixar de ser apenas um reduto fiel de Jair Bolsonaro. Tornou-se agora o laboratório onde o futuro da direita brasileira começa a ser redesenhado, com protagonismo feminino, tensão familiar e uma disputa de narrativas que promete intensificar os próximos meses.