Silvinei Vasques vivia uma rotina discreta e controlada em São José, na Grande Florianópolis, nos meses que antecederam a nova prisão. Longe do poder que exerceu como diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no governo Jair Bolsonaro, ele tentava reconstruir a vida pública enquanto, nos bastidores, travava uma corrida contra o tempo para evitar uma condenação que já se desenhava como inevitável. A coluna apurou detalhes sobre os movimentos do ex-chefe da PRF nos últimos dois anos e traz agora as informações com exclusividade.
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Após perder o cargo na PRF com a mudança de governo, no fim de 2022, Silvinei passou a figurar no centro das investigações que apuram os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e os eventos anteriores e posteriores ao episódio. Em agosto de 2023, foi preso preventivamente e permaneceu um ano na cadeia, até agosto de 2024. Ao deixar o sistema prisional, passou a cumprir medidas cautelares, entre elas o uso de tornozeleira eletrônica e uma rotina rígida. Precisava estar em casa diariamente até as 22h e tinha deslocamentos monitorados, além de não poder usar redes sociais.
Com histórico profissional em Santa Catarina, Silvinei encontrou abrigo no início de 2025 na gestão do prefeito de São José, Orvino Coelho de Ávila (PSD), reeleito para o segundo mandato. Foi nomeado secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Inovação, cargo que ocupou até poucos dias antes da tentativa de fuga e onde coordenou projetos do município. Ao mesmo tempo, filiou-se ao PSD, movimento que, segundo relatos de bastidores, tinha objetivos que iam além da função administrativa.
A aposta de Silvinei era clara: aproximar-se do meio político e criar pontes que pudessem ajudar a sustentar sua principal tese de defesa, a de que não interferiu no processo eleitoral de 2022, quando era chefe da PRF e foi acusado de usar a estrutura do órgão para dificultar o deslocamento de eleitores. Ele acreditava que poderia sensibilizar o Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente o ministro Alexandre de Moraes, relator das ações que o investigavam.
Nesse contexto, Silvinei também alimentava planos eleitorais. A filiação ao PSD fazia parte de um projeto mais ambicioso. Ele queria disputar uma vaga de deputado federal em 2026. A estratégia, porém, não prosperou. No fim de 2025, o STF o condenou a 24 anos e seis meses de prisão em uma das ações relacionadas aos atos golpistas.
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Para pessoas próximas, a sentença reacendeu um temor antigo. Depois de já ter passado um ano preso, Silvinei demonstrava preocupação constante com a possibilidade de voltar para a cadeia. A condenação, portanto, parece ter sido o gatilho para o desespero. A tentativa de fuga, frustrada antes de cruzar a fronteira com o Paraguai, de onde pretendia seguir para El Salvador, passou a ser interpretada, nos bastidores, como o movimento desesperado de alguém que viu ruir todas as alternativas.
Sem sucesso na articulação política, sem avanço na tese de defesa e diante de uma pena elevada, a fuga acabou sendo a escolha. Ele morava sozinho, acompanhado apenas do cachorro Bandit, que foi deixado com conhecidos pouco antes da tentativa de escapar do país. A rotina restritiva imposta pela tornozeleira contrastava com os planos que ainda fazia nos bastidores. Planos que terminaram interrompidos pela condenação e por uma nova prisão com a fuga, encerrando de forma melancólica a tentativa de retorno à cena política.
