Responsável por impulsionar um até então desconhecido ao cargo de governador de Santa Catarina, a onda Bolsonaro colocou um ponto de interrogação na forma de atuação de Carlos Moisés da Silva (PSL) à frente do Centro Administrativo.
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Nos primeiros quatro dias como morador da Casa D’Agronômica, porém, o coronel aposentado do Corpo de Bombeiros distancia-se da postura do capitão do Exército e impõe um estilo próprio de governar.
Moisés, diferente do presidente, foge de polêmicas. Enquanto o presidente da República e seus novos assessores e ministros mantêm as críticas ideológicas a governos passados, Moisés tem como alvo a administração Estado. Preferiu focar suas ações na gestão de um cofre afundado em dívidas e com baixa capacidade de investimento.
Em seu secretariado, escapou mais uma vez das bolas divididas. Cumpriu a promessa de campanha, priorizou servidores efetivos sem lotear o primeiro escalão com colegas de partidos. Cedeu espaço até mesmo para nomes ligados ao MDB, sob o pretexto de valorizar funcionários de carreira e dar prosseguimento a trabalhos considerados positivos.
Em outro contraponto a Bolsonaro, mantém-se distante do jogo político. Resolveu não entrar na disputa pela presidência da Assembleia Legislativa (Alesc) sob pena de enfrentar resistências futuras.
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Na posse, estendeu uma bandeira branca antecipada para os parlamentares na expectativa de evitar perdas vitais para sua reformulação de estrutura administrativa. Ele se engana, porém, que terá vida fácil na Alesc. Pelo histórico, será necessário muito mais do que um pedido de apoio em discurso para conseguir aliados.
No campo de vista ideológico, o novo governador catarinense mostra na prática mais diferenças em relação ao colega de partido. Apesar da pressão interna, expressada pela deputada estadual eleita Ana Caroline Campagnolo (PSL) no pedido de um nome com “espírito liberal-conservador” para a Secretaria de Educação, manteve-se na postura de nomes técnicos alinhados ao planejamento estabelecido durante a transição.
Mas Moisés ainda adota comportamentos parecidos com o do novo presidente. O culto ecumênico antes da posse em 1º de janeiro expõe o valor da religião para o coronel dos bombeiros, assim como para o dono da frase “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
Da mesma forma, a nomeação em peso de militares em cargos comissionados expõe a confiança dele nos colegas de farda e divide com os oficiais da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros a responsabilidade pelo sucesso do novo governo. Secretarias importantes como a de Administração e a de Infraestrutura serão comandadas por um tenente-coronel da PM e um coronel do Exército, respectivamente. Eventuais frustrações nos resultados nas diferentes áreas, avaliam militares, podem colocar em xeque a confiança em seus trabalhos.
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Semelhanças e diferenças à parte, os dois governos deram apenas os primeiros sinais de ação. Enquanto um deles pratica ao extremo seu discurso habitual na trajetória política, o outro busca estabelecer uma linha de trabalho condizente com sua carreira profissional e aliada ao pouco que conseguiu prometer durante a campanha.
Restam quatro anos, suficientes para que possamos enxergar ao final de ambos qual estilo corresponderá à enorme expectativa do eleitorado que os escolheu.