Com novas medidas que envolvem assistência social, segurança pública e saúde, a prefeitura de Florianópolis entra em uma nova fase para encarar o cenário atual da população em situação de rua na Capital catarinense. Nesta semana, em entrevista à coluna, o prefeito Topazio Neto, que também é presidente da Federação dos Municípios de Santa Catarina (Fecam), especificou as ações adotadas nas últimas semanas e as novas que ainda serão implementadas.

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Segundo ele, são ferramentas em diferentes frentes. Elas vão desde a abordagem a quem chega a Florianópolis pela rodoviária em situação de rua até a internação involuntária. A prefeitura também fez mudanças na gestão da Passarela Nego Quirido, que passará a ter prazo máximo de permanência das pessoas no local com foco em profissionalização.

Na gestão das novas ações, estará a vice-prefeita da Capital, Maryanne Mattos, que passa a ser a responsável pelos trabalhos que envolvem pessoas em situação de rua. Topazio, por sua vez, diz que acompanha as ações de perto.

Veja abaixo trechos da entrevista para a coluna sobre o conjunto de ações e a opinião do prefeito sobre o cenário na Capital:

Com este novo conjunto de ações, vocês estão apostando que isso pode ajudar a amenizar toda a sensação da população em relação às pessoas em situação de rua?
Sim. Principalmente daqueles casos que mais incomodam as pessoas. Incomoda a pessoa que está na rua, aquela que tem um comportamento que não é adequado para ninguém, não é? Tem um cara que está na rua, que é o cara que tu vê que ele está na rua, porque ele está com dificuldade, mas ele está ali. Ele não incomoda ninguém. Eventualmente ele pede algo, ele está ali tentando fazer um pequeno serviço, outro e tal. E tem aquele cara que está na rua e que é inoportuno. Todo sujo, e não aceita ajuda. Esse cara é o cara que a gente tem que internar voluntariamente e tentar ver se ele volta numa situação um pouco mais normal. Então, quando você tem a possibilidade de fazer a internação involuntária desse perfil, você começa a tirar da rua esse cara que realmente é o cara que mais incomoda, digamos assim, o resto da sociedade, então é isso que a gente vai fazer agora com essas vagas que nós estamos contratando.

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Como é que está o alinhamento com a Polícia Militar para mais presença no Centro para dar mais sensação de segurança?
A gente tem uma boa relação com a Polícia Militar. O coronel Chierighini, que é o coronel que comanda a primeira região aqui, conhece os problemas da cidade. A nossa vice-prefeita, Maryanne Mattos, é quem faz essa coordenação de toda a integração das forças policiais. Nós estamos agora num convênio com o CDL para instalação de câmeras inteligentes no Centro da cidade, com reconhecimento facial. Deve entrar em breve um convênio com a Polícia Militar, que vai ceder a tecnologia para os prefeitos. E vamos colocar câmeras também na cidade, com inteligência e reconhecimento. A Polícia Militar está totalmente integrada nas nossas ações da cidade. Então eu tenho a convicção, e a gente está trabalhando para isso, de que esse trabalho vai continuar num ritmo acelerado agora. Na questão da assistência social, qual é a dificuldade? A dificuldade é a seguinte: diferente de outras cidades, 85% dos moradores de rua de Florianópolis não são de Florianópolis. Tem cidades aqui no Estado que 90% das pessoas são do município, estão na rua por uma contingência ou por exigência da família. O cara começa a beber demais, começa a bater nos filhos, começa a bater na mulher, dão um pé na bunda do cara e manda ele para fora de casa. Você tem muito mais acesso à família, não é? Não precisa nem falar em internação involuntária, porque a família pode autorizar a internar o cara. Aqui é diferente. A mobilidade do nosso morador de rua é muito alta.

Com esta reorganização, então, o senhor acredita que dá para amenizar o problema?
Dá para amenizar bastante o problema, mas nós vamos ter que investir muito dinheiro nisso, e também muita inteligência e muita tenacidade. Morador de rua não é uma coisa que você faz um vídeo e acha que resolveu o problema. Morador de rua é a rotina, morador de rua é padrão, morador de rua é ter o cuidado, continuar tendo cuidado com isso.

Dá para ver aqui que, com essa nova roupagem da população em situação de rua, deve se exigir também da prefeitura uma organização que envolva segurança, assistência social, saúde, entre outras áreas. Como o senhor está fazendo isso?
Na realidade, organizei isso na vice prefeitura. Então, a vice-prefeita, que também é secretária de Segurança, coordena as nossas atividades com relação à pessoa em situação de rua. Então, sob coordenação dela, no específico das pessoas em situação de rua, estão assistência social, a área da saúde, a limpeza urbana e as forças de segurança. Além da integração com as outras forças. E vamos lembrar que nós somos pioneiros aqui no Estado do que a gente chama de força-tarefa DOA, que inclui o Ministério Público. E isso fica na coordenação da Maryanne. É a pessoa que articula, que define as operações, que todo dia coordena a agenda das nossas equipes que estão na rua, abordando as pessoas, a abordagem social. Tudo isso fica no guarda-chuva dela. E a passarela fica no guarda-chuva da Secretaria de Assistência social, como equipamento da assistência social. A passarela, nessa nova roupagem que nós temos agora, está muito bacana. A gente está refazendo todo o trabalho que a gente tinha lá na passarela. Vai ser um trabalho bem mais organizado, digamos assim, porque nós queremos dar prazo para a pessoa ficar na passarela. Então a nossa ideia, inicialmente, é de 90 a 120 dias. A pessoa vai mostrar que vai querer uma evolução participando dos cursos de capacitação. Ela permanece lá enquanto está se capacitando. Então, o que nós queremos evitar é quando nós temos agora. Hoje, infelizmente temos pessoas que estão ali há três, quatro anos porque não têm para onde ir. Normalmente, isso recai sobre idosos, deficientes físicos, pessoas com deficiência mental avançada. Mas o que nós queremos, inclusive agora, é levar essas pessoas para outros equipamentos. Nós chamamos de instituições de longa permanência, asilos, etc. Quem for o caso, levar para essas instituições, aquelas pessoas de álcool e droga é mais grave, levar para internações involuntárias, para que elas se recuperem.