O núcleo duro do Palácio do Planalto passou a semana em outra dimensão. Enquanto o Brasil subia degraus no indesejável ranking internacional do coronavírus, os principais generais que cercam o  presidente da República estavam preocupados com a divulgação de um vídeo comprometedor para o governo federal.

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Principal prova na queda de braço com o ex-ministro da Justiça – e ex-amor – Sergio Moro, as imagens e os áudios da reunião ministerial revelam falta de postura, educação e até prioridade nas pautas discutidas. Mas o principal temor é a acusação de que Jair Bolsonaro teve intenção de promover uma intervenção na Polícia Federal do Rio de Janeiro para proteger os filhos.

O vídeo foi entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF). O general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), chegou a classificar como falta de patriotismo a divulgação do material na íntegra. Ele só esqueceu que esse buraco foi cavado pelo próprio presidente, que não pensou no país quando resolveu trocar o diretor-geral da PF, agravando a crise política.

Enquanto isso, estados como Pará e Maranhão amargavam falta de leitos e equipamentos para receber os doentes. No Rio, base eleitoral do presidente da República, a doença se espalha, os médicos estão com salários atrasados e há resistência do isolamento social. Isso sem falar na grave situação das comunidades mais carentes.

No Ministério da Saúde, o novo ministro Nelson Teich, amarga uma fritura precoce. Cargos ainda estão sendo substituídos, técnicos experientes dão lugar a militares, e secretários estaduais e municipais de saúde perdem interlocutores. Conselhos estaduais e municipais de secretários não deram aval ao plano de flexibilização do isolamento apresentado pelo ministro. Sem diálogo e com muito trabalho a fazer, os gestores mandaram um recado: só falam quando os números de casos diminuírem.

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Preocupados em apagar incêndios provocados por Bolsonaro, os  integrantes da ala militar também não conseguem se concentrar no real problema do país. Em meio a tudo isso, bolsonaristas cobram da coluna que destaque as coisas boas feitas pelo governo federal. Há ilhas de excelência, não há dúvida, como os ministérios da Agricultura e da Infraestrutura. Mas neste momento de pandemia, os principais países do mundo contam com lideranças nacionais. O nosso presidente prefere reclamar do STF, do Congresso, do Moro, dos comunistas.