Um projeto desenvolvido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com a Univali, desenvolveu sardinhas em cativeiro para engorda que poderão ser uma solução para a indústria enlatadora. O desafio é tornar o custo de produção viável, e estudos recentes apontam para esse caminho. Um trabalho de pós-doutorado, do pesquisador Fábio Sterzelecki, conseguiu reduzir em cinco vezes o investimento por sardinha na aquicultura.

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Hoje, a estimativa é que cada sardinha criada em laboratório custe 10 centavos. Ainda é bastante para concorrer com um recurso pesqueiro que se captura “gratuitamente” no mar, mas o preço já é competitivo _ especialmente se considerada a baixa nas últimas safras de sardinha. No ano passado, o resultado foi o pior dos últimos 20 anos.

A redução de preço para a criação em cativeiro ocorreu através da alimentação: o pesquisador conseguiu criar um sistema que fertiliza a água, e estimula a multiplicação de algas que alimentarão os filhotes. O peixe é reproduzido no laboratório de piscicultura marinha da UFSC (Lapmar), e permanece em tanques até atingir um determinado tamanho.

Então, a sardinha é levada para a área de pesquisa da Univali, em Penha, onde é mantido em gaiolas flutuantes e o processo de engorda é concluído. A última remessa foi de sete mil peixes, e os resultados são positivos.

– Conseguimos baixar muito o custo para chegar à viabilidade econômica – diz Sterzelecki.

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A indústria de enlatados, que hoje absorve 90% da sardinha que é capturada no país, tem interesse na produção em cativeiro. Conseguir produzir o peixe a um baixo custo resolveria os problemas com o estoque, que é diretamente afetado pelas safras.

No ano passado, por exemplo, a Gomes da Costa, que é a maior indústria enlatadora do país, importou 50 mil toneladas de sardinhas _ 95% da matéria-prima utilizada pela empresa em Itajaí. O motivo foi a pesca nacional insuficiente.

A solução foi importar mais, mesmo pagando 30% mais caro do que a sardinha brasileira. Em outubro, no entanto, problemas na importação deixaram a indústria sem sardinhas e obrigaram a indústria a paralisar a produção por 10 dias.

– A alternativa de criar em cativeiro é interessante. Há o desafio dos custos, porque o preço da sardinha é baixo, e é complicado chegar à capacidade (da indústria). Mas se foi possível atender a uma parte, já é um suspiro – diz Ivan Fuchter, diretor industrial da empresa.

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Uma das vantagens da sardinha criada em cativeiro é a possibilidade de controlar o tamanho do peixe, o que pode evitar perdas nas enlatadoras. Sterzelecki diz que o sistema pode ser uma complementação à pesca tradicional, numa “dobradinha” entre pesca e aquicultura.

Isca-viva

O projeto de engorda de sardinhas em cativeiro teve origem em outra pesquisa, iniciada pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Sudeste e Sul (CepSul) há nove anos. O projeto, batizado de isca-viva, iniciou a reprodução das sardinhas em laboratório, para reduzir a demanda por iscas na pesca tradicional.

A sardinha é muito utilizada na pesca industrial com varas, técnica utilizada para a captura do atum. A preferência é pelos juvenis, os filhotes, e a pesquisa conseguiu produzi-los com sucesso em cativeiro. O custo, no entanto, impediu o uso em larga escala. Cada peixe custava, originalmente, de 50 a 60 centavos.

Além de possibilitar a engorda, a nova técnica de alimentação baixou o preço de produção da isca-viva, o que pode viabilizar a comercialização como insumo para a captura de outras espécies.

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O caminho da sardinha

1 – A reprodução ocorre no Lapmar, na UFSC, em Florianópolis

2 – As larvas, que se tornarão os peixes, são colocadas em tanques com água fertilizada

3 – Com alimento abundante, o peixe cresce e pode passar à fase de engorda

4 – Os peixes são levados à estação da Univali, em Penha, onde serão submersos em gaiolas subaquáticas

5 – As sardinhas passam para o período de engorda, e é possível controlar o tamanho dos peixes

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