A mais nova sugestão de Paulo Guedes é privatizar as praias brasileiras. E o argumento, que ele apresentou num podcast de grande repercussão, é de dar calafrios a quem tem alguma noção do que significa um bem coletivo. Guedes disse o seguinte:

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– O caso do Brasil é um caso clássico de má gestão. Tem trilhões de ativos mal-usados. Por exemplo, tem um grupo de fora que quer comprar uma praia numa região importante do Brasil e quer pagar US$ 1 bilhão. Aí você chega lá e pergunta: “vem cá, vamos fazer um leilão dessa praia?”. Não, não pode. “Por quê?” “Isso é da Marinha”.

E prosseguiu:

– E quanto a gente recebe por isso? Não, a gente pinta lá o quartel deles uma vez por ano. É muito mal gerido o troço. Não é de ninguém. Quando é do governo, não é de ninguém.

Eis o erro conceitual de Paulo Guedes. O que é do governo não é “de ninguém”. É de todos. As praias brasileiras são bens da União, e portanto propriedade de todos os brasileiros – o contrário “de ninguém”.

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Há dezenas de razões para manter as praias públicas, como elas são hoje. Desde o fato de serem um espaço genuinamente democrático, ao qual todo brasileiro tem acesso garantido por lei, até o controle ambiental efetivo desses espaços, que são alvo primário dos efeitos do aquecimento global. A preservação da restinga, por exemplo, é fundamental para segurar o avanço do mar. Privatizar os espaços tende a enfraquecer a fiscalização.

Enquanto representante do governo, o ministro tem legitimidade para propor rediscutir tudo isso se quiser. O que não pode é confundir bem público, de todo brasileiro, com terra de ninguém à espera de um explorador.

Guedes já criticou a ida de empregadas domésticas à Disney, já disse que o país tem mais iPhones que brasileiros, já criticou o FIES por ter levado “até filho de porteiro” à universidade. Chamado de “posto ipiranga”, o ministro da Economia de Bolsonaro merece ficar conhecido como “o que falava demais”.

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