O provável motivo para os ataques criminosos que incendiaram veículos na região da Grande Florianópolis neste sábado (19) é a guerra entre facções pelo domínio do tráfico de drogas – e não é a primeira vez que Santa Catarina se vê refém de bandidos. A polícia agiu rapidamente em um dia particularmente complexo na Capital – e, ao que tudo indica, conseguiu controlar a situação.
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este é um problema nacional, que o Brasil ainda patina na busca por soluções efetivas. Mas algumas perguntas ainda estão sem resposta. Uma delas é por que essa movimentação não foi detectada pela inteligência policial. Se foi identificada, por que não foi contida a tempo.
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Há pouco mais de 10 anos, em 2012, criminosos fizeram 58 atentados em 16 cidades de Santa Catarina. Os ataques, que incluíram passageiros reféns e ônibus carbonizados, foram ordenados por presos, detidos em cadeias do Estado, e levou medo e tensão às ruas.
A origem dos atentados, naquele momento, seria a insatisfação de presos com medidas tomadas na Penitenciária de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis. Alguns anos antes, a guerra de facções pelo comando do tráfico na região do Litoral Norte fez vítimas em série e tornou o Bairro Monte Alegre, em Camboriú, o mais violento do Estado, com assassinatos quase que diários. Foram algumas amostras de que, mesmo no Estado mais seguro do Brasil, o crime organizado é uma ameaça.
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Incêndios bloqueiam vias em vários pontos da Grande Florianópolis
Mais recentemente, casos pontuais atribuídos à guerra entre as facções resultatam em crimes violentos, como o veículo baleado na Meia Praia, em Itapema, há poucas semanas. É o crime organizado mostrando que não está restrito às periferias – pelo contrário. Seus tentáculos são maiores do que se poderia supor.
O fato é que há uma verdade incômoda na segurança pública: o Brasil, como um todo, não tem capacidade para lidar com as facções quando elas se rebelam. E isso está ligado à própria estrutura do sistema, que criou verdadeiras escolas do crime no lado de dentro das prisões.
Talvez você não tenha tido a oportunidade, caro leitor, de visitar as prisões de Santa Catarina. Há alas separadas entre diferentes facções – e, em geral, quem entra precisa escolher para onde vai. Essa separação é levada a sério. Já vi plaquinhas indicando que os presos de um lado do corredor eram da facção x, e os do lado oposto da facção y. O próprio sistema se adapta às regras do crime para que não haja uma carnificina.
O que pode estar por trás dos ataques criminosos na Grande Florianópolis
Muitos dos “líderes “cabeças” já estão presos – mas isso não significa que estão fora de cena. Continuam operando de dentro das prisões, com ajuda de familiares, da corrupção dentro do próprio sistema. Quando são mortos, ou perdem a influência, são substituídos por outros.
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Ouvi certa vez, de um experimentado policial, que o crime funciona como o mito grego da Hidra. A cada cabeça cortada, nascem outras duas. É a lógica perversa por trás um mercado pujante, o das drogas ilegais, que movimenta e financia o crime organizado. Onde há demanda, haverá oferta. A engrenagem não para jamais.
Veja imagens dos ataques:
Entre os atentados de 2012 e os ataques de 2024 em SC não houve, de fato, grandes avanços na maneira como o poder público lida com as facções no Brasil – na verdade, por aqui o Estado contou com um período de “paz” no mundo do crime. E a presença das facções multiplicou enquanto isso.
A segurança pública precisará lidar de forma exemplar com os bandidos envolvidos nos crimes deste sábado – do planejamento à execução. Deve enviar os presos às unidades de segurança máxima, e garantir condenação na Justiça. Mas não será suficiente. Enquanto o Brasil não tiver um caminho para enfraquecer verdadeiramente o poderio dos criminosos – especialmente o financeiro, favorecido pela lavagem de dinheiro – seguiremos reféns.
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