Algumas semanas atrás, Machado de Assis virou notícia nos Estados Unidos depois que a nova tradução para o inglês do romance ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’, um clássico da literatura brasileira, esgotou em apenas um dia. Dave Eggers, o escritor que fez o prefácio, publicou, sem exageros, que se trata de “um dos livros mais inteligentes já escritos”.
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> Novo tributo ameaça encarecer livros e quebrar editoras
Lembrei do episódio outro dia, acompanhando a discussão sobre a proposta mesquinha de taxar os livros no Brasil, que já colecionava na última semana mais de um milhão de assinaturas contrárias em um abaixo-assinado online.
A literatura é um patrimônio nacional, rico e diverso. De Machado a Jorge Amado, de Guimarães Rosa aos Veríssimo, legamos ao mundo recortes e retratos de um Brasil imenso, plural – mas ainda desconhecido por muitos brasileiros.
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> Coronavírus fez mercado de livros perder metade do faturamento em abril
O estudo Retrato da Leitura no Brasil, divulgado no ano passado, apontou que cada brasileiro lê, em média, apenas 2,43 livros por ano. Não há dados específicos sobre os leitores de Santa Catarina nesse levantamento, mas sabe-se que, de acordo com o Censo Escolar, metade das escolas do Estado sequer têm biblioteca.
Os números dizem que o Brasil deveria estar em franca campanha pela popularização do literatura, ao invés de trabalhar para torná-la mais cara. Taxar livros, por entender que são objeto de desejo de classes mais abastadas – como sinaliza o governo – elitiza ainda mais o acesso à cultura e à educação. Um passo que terá consequências graves em um país tão desigual como é o nosso.
Como forma de compensação, o ministro Paulo Guedes fala em doar livros aos mais pobres. Caberia ao Estado, então, decidir o que está acessível à leitura para quem não pode pagar.
É evidente que o país precisa repensar o modelo de aplicação de impostos. Mas a taxação dos livros é um tapa-buracos, uma solução simplista para um problema fiscal mais amplo.
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Num mundo tão midiático, de luzes, sons e cores em todo o lugar, o livro traz uma intimidade, uma cumplicidade, que não se reproduz em outras formas de arte. A literatura está ligada à sensibilidade, e dificultar o acesso aos livros é parte de um processo infeliz de embrutecimento do Brasil. O que prospera, em um país de brutos, é a barbárie.
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