José Henrique Carneiro de Loyola, ou apenas Henrique Loyola, como prefere ser chamado, é o personagem de estreia de uma série de entrevistas a serem publicadas todas às segundas-feiras nas próximas vinte semanas em comemoração aos 20 anos desta coluna.

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Em meio a quadros, documentos e fotos – uma delas onde ele e a mulher Helga são recepcionados pelo Papa Francisco –, Loyola fez questão de mostrar ofício lhe concedendo a Medalha do Pacificador recebida pelo Exército brasileiro. “A mesma medalha que o presidente Bolsonaro ganhou em maio deste ano”, diz.

Loyola e a mulher Helga recepcionados pelo Papa Francisco
Loyola e a mulher Helga recepcionados pelo Papa Francisco (Foto: Salmo Duarte)

Henrique Loyola foi senador, secretário de Estado e vice-prefeito de Joinville. É controlador de grandes empresas, como a Cia. Fabril Lepper e a Fiação São Bento. Nascido em 1932, em Joinville, presidiu a Acij (onde criou a Fundação Empreender), o Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville e a Escola Técnica Tupy. Foi secretário estadual da Indústria, Comércio e Turismo de 1989 a 1991 e nesse período teve como grande desafio implantar o Prodec. 

Confira a entrevista completa

O senhor é uma das principais lideranças empresariais de SC, ouvido por muita gente, há 50 anos. Quais características têm de ter o líder? 

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Henrique Loyola – O líder tem de ser arrojado, diferenciado e inovador. Arrojo é fundamental. O líder tem de ir pessoalmente difundir seu pensamento, bater e abrir portas. Tem de defender suas opiniões e teses. Ser diferenciado significa estar atento a tudo. O líder não pode ficar parado. Viajo o mundo todo, há anos. Quando chego ao destino alugo um carro e vou conhecendo lugares e conversando com as pessoas. É a forma de aprender e se conhecer povos e sociedades.

O terceiro elemento que o senhor citou é ser inovador. O que quer dizer com isso, já que a palavra é usada para quase tudo, hoje?

Loyola – Quando assumi o comando da Cia.Fabril Lepper eu tinha 29 anos. A Lepper estava na falência. Tinha duplicata vencida há dois anos e que estava na gaveta do gestor anterior. Não tinha nem balanço para se verificar a situação financeira.

E o que fez para sanear as contas?

Loyola – Vendi 10% do capital da companhia. Era um ato corajoso, inovador porque a situação era de caos, a empresa estava insolvente. Os recursos captados com a negociação salvaram a empresa no curto prazo e nos deu tempo para encaminhar o futuro.

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Como a tecnologia ajudou a Lepper?

Loyola – Certa vez fui a uma feira comprar a primeira máquina de tecido de renda. Você lembra daquela propaganda da Rhodia, do senta-levanta/senta-levanta? Era para divulgar peça de tergal, que não amassava. Aí surgiu a ideia de fazer toalhas com fio que comprava da Rhodia. Isso foi inovador.

Juarez Machado fez parte de um projeto da Lepper?

Loyola – Sim. Fui falar com Juarez Machado no Rio de Janeiro, onde ele morava. Pedi para ele pintar bicicletas (à época, Joinville era conhecida como “Cidade das bicicletas”), e a Lepper foi a primeira fabricante de pano a vender seu produto em caixa de papelão, agregando um item de arte. Todas essas iniciativas geraram valor adicional ao que fabricávamos.

Pela sua experiência pessoal, o que um jovem deve fazer para se tornar um empresário de sucesso?

Loyola – O jovem tem de ser destemido. Para mim não tinha barreiras. E, claro, qualquer empreendedor tem de enfrentar os desafios. O empreendedor tem de ter a capacidade de procurar, diretamente, quem manda. Era o que eu fazia.

O que um empresário não pode fazer?

Loyola – Ele não pode desconhecer dados de balanços. Para ser um bom administrador tem de ter experiência na área contábil, tem de entender os números. É fundamental. 

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Qual foi o momento profissional que ficou marcado como o mais relevante de sua história?

Loyola – O momento mais marcante foi quando eu quebrei todas as máquinas de uma fábrica, a Fiação São Bento, em São Bento do Sul, e adquiri todo o maquinário novo, na Alemanha. Com isso, passamos a produção de 80 toneladas/mês para 350 toneladas/mês, na época. Quatro vezes mais. Foi o mais marcante. Nunca tinha feito isso e não conheço ninguém que tenha feito. Foi uma ousadia que permitiu aumentar muito a produção com o mesmo custo fixo.

Ousadia é essencial para empreender? 

Loyola – Exatamente. Antes de trabalhar na Lepper trabalhei em banco, no Banco Comercial do Paraná. Certa ocasião demonstrei aos superiores que o banco precisava recolher um tributo que não era pago há cinco anos por desconhecimento da legislação. E fui promovido a gerente de banco aos 24 anos, em Joinville, num tempo em que o cargo tinha muito mais status do que hoje. O empresário tem de botar a mão na massa!

É possível planejar o sucesso nas empresas?

Loyola – Não. Há fatores externos que são incontroláveis. Como ações de governos, por exemplo. Isso está fora do alcance. 

Loyola também presidiu o Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville
Loyola também presidiu o Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville (Foto: Salmo Duarte)

Quem foi tua referência inicial?

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Loyola – Henrique Douat, do grupo H. Douat. Ele era um exemplo para mim. Ele sempre me dizia que era essencial ter reserva. Eu, garoto, queria entender o que isso significava. Ele tem razão. Ter reserva (financeira) é fundamental; é uma necessidade obrigatória se prevenir para o futuro. E meu pai também era um modelo. Fazia tudo no interesse comunitário. Instalou o primeiro elevador em Joinville – no prédio Pedro Sales. Muita gente acha que foi no edifício Manchester. Não foi. Meu pai abriu a BR-101, eletrificou várias cidades…

O senhor também atuou com uma empresa de informática.

Loyola – Foi na década de 80 com a Manchester Processamento de Dados. Fui procurar o João Hansen Neto, o Wittich Freitag e outros empresários , dizer que as empresas precisavam ter computador para dar agilidade à operação. Algo revolucionário para aquele momento. Em Joinville só a Tupy tinha um computador. 

Qual seu maior erro?

Loyola – O maior problema foi com a Manchester Corretora de Câmbio e Títulos e Valores Mobiliários. Um corretor deu o cano, me deu um grande prejuízo e tive de vender imóvel e outros bens para pagar a dívida. Isso foi superado porque tinha patrimônio. 

Qual o maior acerto?

Loyola – Foi ter casado com a Helga. Ela não deixou eu ir morar em Brasília. Nos negócios o maior acerto sempre foi investir constantemente na empresa. Isso é fundamental. Sempre que podia eu investia no aumento de capital da Lepper.

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O senhor tinha dinheiro quando jovem para comprar ações da companhia?

Loyola – Quando vim para a Lepper eu não tinha nenhuma ação da companhia. Vendi uma motocicleta, e assim comprei as minhas primeiras ações. Um pouco depois, vendi um carro SP2 – o carro da moda naquele tempo – e adquiri mais alguns lotes de ações. 

Quem é teu guru, alguém em quem o senhor se inspira?

Loyola – Sem dúvida, Paulo Medeiros, o advogado. Ele foi meu segundo pai. Ele me orientou muito. Lembro que pensei em sair da Lepper, ir embora de Joinville. Isso foi entre 1962 e 1964. Ele me disse: “Sair é uma decisão tua; voltar é decisão deles, dos outros acionistas.”

O que aprendeu com ele?

Loyola – Aprendi, por exemplo, que só se deve tomar alguma decisão que se pode reverter. Paulo Medeiros me deu soluções práticas no mundo dos negócios. 

Que momento pessoal o senhor considera o mais marcante de sua trajetória pessoal?

Loyola – Foi, sem dúvida, ter recebido a bênção do Papa Francisco, em novembro de 2016, no Vaticano, com a minha esposa Helga. Foi o reconhecimento da Igreja pelas obras feitas em favor dela e dos mais necessitados. Como a doação e transferência da Fundação 12 de Outubro, que construiu dois ancionatos (o Lar Betânia e o Residencial Ventura); recuperou o Lar Abdon Batista integralmente para as crianças. A fundação foi criada há mais de 30 anos para atender a idosos e crianças. Em São Bento do Sul viabilizei, com a doação dos terrenos para a construção, uma escola de formação profissional, e o Caic.

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Qual é a importância dos relacionamentos para a evolução dos negócios?

Loyola – O empresário precisa ter bons relacionamentos. É bom que tenha, também, relacionamentos no meio político. Meu pai, por exemplo, conheceu toda a elite brasileira por estudar na Escola Militar de Barbacena, em Minas Gerais. A rede de relacionamentos abre muitas portas.

Qual o seu livro preferido, que te inspira até hoje?

Loyola – Gosto muito do pensamento do ex-ministro Roberto Campos. Um liberal na essência. O livro “Lanterna na Popa”.

Este conteúdo faz parte do projeto que marca os 20 anos da coluna econômica do jornalista Claudio Loetz. Até dezembro, 20 empresários vão compartilhar, neste espaço, conhecimentos, informações e visões em formato de grande entrevista.

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