Este texto integra o projeto comemorativo aos 20 anos da coluna no jornal A Notícia e oferece uma abordagem com algumas das principais mudanças de comportamento e das relações econômicas pelas quais passou a cidade de Joinville ao longo dos últimos 20 anos.
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Nestas duas últimas década Joinville se transformou radicalmente. Saiu de uma economia marcadamente industrial para um novo momento, onde a área de serviços já predomina na formação da riqueza. 54% do PIB já advém de negócios de setores de serviços mostra o IBGE. Estamos, agora, a ver o crescimento de empreendimentos voltados a diferentes setores da inovação e tecnologia. E será assim: cada vez mais o campo do conhecimento tecnológico e a ciência, junto com prestadores de serviços ganharão relevância. Elementos indispensáveis para que o município mantenha sua posição de liderança no Estado, e seguir sendo um dos principais polos econômicos do Sul do País.
A transição para um novo modelo mostra suas dores – trânsito difícil, congestionado em muitos momentos e locais; combinado com índice de saneamento ainda muito ruim – só 34% da cidade tem esgoto tratado – e inadequados ou ausência de equipamentos culturais dignos do nome; além de carência absoluta de parques são alguns fatores do chamado "custo Joinville".
Joinville chegou a um momento de sua História o qual obriga empresários, Poder público e lideranças da sociedade a se unirem e promoverem a reflexão decisiva rumo a um futuro que reúna desenvolvimento econômico com ambiente de negócios favorável, associado a uma diversificada matriz de cultura e lazer.
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Em 2019 a riqueza continua concentrada; a cidade se verticaliza, o poder de consumo da população cresce.
Somos a terceira economia do Sul do Brasil, caminhando para ocupar a vice-liderança.
Macroeconomia
Em 1994 o Plano Real veio para estabilizar a economia e domar a inflação. Deu previsibilidade aos investidores por alguns anos.
Passado este período, e com a consequente abertura da economia, vivenciamos a ascensão da China no comércio global, a expansão de mercados de comodities e da construção civil, e do ramo de automóveis.
Anos depois, em 2008, a crise do subprime derrubou todos os mercados globalmente. Aqui vivemos recessão prolongada e profunda. Iniciada em 2008/2009, com respiro depois, e nova queda longa da economia no triênio 2014/2016.
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Nestes anos todos nos governaram o intelectual Fernando Henrique Cardoso; o metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva e a burocrata DIlma Rousseff. Também tivemos o político profissional Michel Temer. E por conta da vontade dos eleitores, a regência atual é do frasista intempestivo Jair Bolsonaro.
Nestes anos todos tivemos diálogo com Estados Unidos; política econômica distributivista e olhar privilegiado para a Venezuela; impeachment e caos, junto com escândalos de corrupção variados e de abrangência quase inacreditável. Em 2018 nova paralisia e fraca recuperação em 2019.
Em 1999 era assim
Em 1999 Joinville já era a principal cidade de Santa Catarina. Em 1999 indústrias metalmecânicas, plásticas e têxteis dominavam os negócios e e os empregos. Em 1999 o setor têxtil era mais relevante do que é hoje. Em 1999, a tecnologia, como conhecemos atualmente, era algo impensável. Em 1999 era tempo de forte domínio de padrões de consumo de produtos básicos. Em 1999, salvo para uma elite, a população vivia para o trabalho, ver a novela e o Jornal Nacional – e dormir cedo para acordar cedo. E trabalhar.
Em 1999 Joinville só tinha um shopping, que surgiu só em 1994. O segundo só chegou há sete anos.
Em 1999 lojas no Centro ainda fechavam no horário do meio dia às 2 da tarde.
Em 1999, no período de 20 de dezembro a 20 de janeiro de 2000 a cidade "morria". Todos na praia. Ou em casa, sofrendo com o calor e o abafamento clássico no verão, porque em 1999 o ar condicionado não era bem de consumo da maioria.
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Em 1999 não tinha congestionamento para ir para as praias de São Francisco do Sul. Em 1999, não tinha congestionamento nenhum nas ruas de Joinville. Em 1999 na praia central de Balneário Camboriú ainda tinha sol às 4 da tarde.
Em 1999, as recreativas das indústrias joinvilenses eram ponto de encontro de famílias e amigos.
Em 1999, a Acij funcionava no velho prédio Manchester, no centro da cidade. Em 1999 a via Gastronômica não existia.
Em 1999 não havia teatro. Bem, ainda não temos um teatro. Em 1999 procurei por parques. Não tinha. E, 20 anos depois, ainda não temos. Em 1999, o celular era caro, grande, pesado e para poucos.
A VENDA DE EMPRESAS
Em 1999/2000 a Akros foi vendida para a Amanco (Mexichem.
A Tupy saiu do controle da família Schmidt em 1995, vendida para fundos de pensão e bancos. A Embraco e Consul se tornaram Brasmotor, e depois Whirlpool. Em 2018, a Embraco foi comprada pela japonesa Nidec.
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A Tupy, já sob comando de fundos e do Bradesco, foi discretamente colocada à venda em 2006, mas o negócio não andou. Cresceu e é a multinacional que conhecemos hoje. Neste mesmo ano, em 2006, Moacir Thomazi vendeu o jornal A Notícia para o grupo RBS. Anos depois, a RBS vendeu todos os seus negócios de Santa Catarina a para o grupo NC, da família Sanchez- do qual o grupo NSC Comunicação. faz parte.
A Tigre enfrentou crises internas e guerra sucessória familiar nos anos 90, profissionalizou a gestão, e permanece líder nacional em seu setor. Em 1999, a Krona não era relevante. Hoje ganha fatias importantes de mercado.
Em 1999, a Busscar era orgulho nacional; faliu em 2013 e se reergue após venda em leilão, realizada há dois anos.
Em 1999, a Ciser, sob comando de Carlos Schneider já era fundamental na história da cidade. Com o filho Carlos Rodolfo Schneider à frente da companhia, se tornou líder latino-americana em fixadores e construiu, há poucos anos, fábrica moderníssima em Araquari.
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A Datasul, nascida em 1978, pelo gênio criativo de Miguel Abuhab transformou-se e foi comprada pela Totvs. Anos depois Abuhab criou também a Neogrid, e que já é referência global em seu setor.
Em 1999, a Salfer era a principal rede de lojas de móveis e eletrodomésticos da cidade. Mais recentemente, a Salfer foi vendida para a rede nacional Ricardo Eletro, em franco declínio.
Em 1999, a Milium era um player pequeno. Em 2019 é um grande competidor no Estado no segmento em que atua – itens para casa.
O CRESCIMENTO
Em 1999, o tradicional Laboratório Catarinense, ainda não recebia propostas de compra. Desde então, foi várias vezes assediado para ser vendido, passou a se chamar Pharma Catarinense, para se adaptar aos novos tempos. Continua com administração familiar e líder nacional em alguns segmentos.de produtos
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Em 1999, comprar remédios era na Drogaria Catarinense, em poucas lojas. Ainda sob gestão dos Bornschein, transformou-se e hoje é o grupo CLAMED, com atuação em vários Estados.
Em 1999, a Schulz, ainda não era a força de agora. Ovandi Rosenstock permanece na presidência, e a empresa deu saltos de qualidade e crescimento.
Em 1999, a Dohler – centenária empresa têxtil – já tinha a fama de hoje. Mantém sua trajetória vitoriosa num mercado difícil, face à concorrência chinesa e de outros players.
Em 1999, o atual Perini Business Park era pouco mais do que uma ideia extravagante numa região de arrozais no então distante distrito de Pirabeiraba.
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Na segunda metade da década de 90 engatinhava a iniciativa de Fábio Perini, e que resultou no grandioso complexo multissetorial conhecido hoje.
Hoje, o Perini, com 200 empresas de mais de 20 nacionalidades instaladas detém 2% do PIB de Santa Catarina e responde por 21% da riqueza gerada em Joinville.
Em 1999, nem se pensava que Joinville teria empresa de cobre. Atualmente já processa grande parte do cobre do país.
Sob comando de Renato Feres, a Cooper já fatura mais de R$ 1 bilhão por ano e está operando outra companhia do mesmo segmento, a Recope, há um ano aproximadamente. Onde? Dentro do Perini.
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Joinville se internacionalizou.
Em 1999 Joinville tinha raras multinacionais. Hoje são dezenas delas instaladas aqui.
Em 1999, o ensino de inglês era exclusivo para a classe média alta.
Hoje aprender em escolas bilíngues se tornou obrigatório desde a pré-infância.
Em 1999, na área de prestação de serviços, hospitais privados (Unimed, Dona Helena não tinham a tecnologia nem dimensão de hoje.
Em 2019 o grupo HapVida inaugurou hospital próprio e chegou para disputar este mercado.
Em 1999, o Martinelli Advogados não constava entre os maiores escritórios de advocacia do país.
Está na lista há anos, entre os dez mais admirados do Brasil, com unidades em vários Estados.
Em 1999, os bairros mais distantes do Centro não tinham vida própria, à exceção do Boa Vista. Agora se tornaram autônomos e seus moradores independem do centro para fazer compras, pagar contas. Aventureiro, Iririú, Vila Nova, são exemplos só para citar alguns.
A ERA DIGITAL
Bem recentemente, Joinville descobriu a área de inovação e tecnologia. Da união entre prefeitura, academia e empresariado, surgiu o Joinvalle,. Também vieram incubadora , e neste ano de 2019 foi inaugurado o primeiro prédio do Ágora Tech Park, dentro do poderoso Perini. Será ele o âncora de uma nova economia emergente.
Ainda estamos longe de praticar inovação disruptiva em Joinville, salvo as exceções. Quase sempre os mesmos ganham prêmios de inovação: Embraco, Whirlpool, Ciser. E pouco mais.
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Iniciamos a era das startups, que eu chamo da era da impaciência e da pressa. A indústria terá de se reinventar, com o advento da indústria 4.0, a inteligência artificial, o uso cada vez maior de robôs. Transformações velozes mudam os estilos de negócios e padrões de vida da sociedade. Estamos hiperconectados e isso transforma tudo.
INFRAESTRUTURA
Em 1999, a cobertura de saneamento em Joinville era de ridículos 15%. Em 2019 é de apenas 33%. Em Santa Catarina estamos só com 20%. O atraso não decorre de acasos; é uma construção, uma decisão política de muitos governos seguidos desinteressados pela causa. Neste campo estamos no quarto mundo.
O FUTURO
Que Joinville se deseja para os próximos 20 anos? Inteligente e humana? Ok. Então é preciso mais do que tecnologias para facilitar a mobilidade. Será preciso espírito público de governantes para garantir qualidade de vida para a população de 900 mil habitantes.
Isso significa valorizar o conjunto trabalho, lazer e cultura.
Está claro que as pessoas precisarão, cada vez mais, de pelo menos dez características e habilidades para se manterem ativas e fundamentais no mercado de trabalho do futuro:
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1. ter pensamento analítico e inovativo
2. praticar a aprendizagem ativa
3. demonstrar criatividade e originalidade
4. ter iniciativa
5. conhecer design de tecnologia e programação.
6. ter pensamento crítico.
7. aprender a solucionar problemas complexos.
8. agir com liderança e ter influência social.
9. Vivenciar as situações com inteligência emocional.
10. Ter capacidade para operar análise de sistemas.
Milhares de empregos serão destruídos. Chegarão novos, e em menor quantidade, mas possivelmente com melhor remuneração estão surgindo.
Joinville se direciona para áreas de negócios como biofármacos, novos materiais, tecnologia da inovação,
O que vai ser decisivo para os negócios bem sucedidos, mesmo, é algo simples, assunto de todos há décadas, mas que será inevitável praticar de fato: antecipar-se e atender necessidades dos consumidores.