Admiradora de Barack Obama e Hannah Arendt, Maria Teresa Bustamante (Maitê) tem posições claras. Ensina que o saber tem de levar à ação para ter utilidade e consequência. Entende que o líder precisa estar na linha de frente para ser respeitado. Prega a prudência nas decisões e atitudes. Faz intransigente defesa do associativismo e também afirma que a política é central na vida das organizações.
Continua depois da publicidade
Maitê é chefe de gabinete da presidência da Fiesc e presidente da câmara de comércio exterior da federação. Doutora em administração, é professora universitária. De 1972 a 2009 foi gestora corporativa de comércio exterior e relações institucionais da Whirlpool. Foi negociadora no âmbito das relações econômicas brasileiras com o Mercosul, Alca, União Europeia e China.
Confira todas as entrevistas da série
O que caracteriza um líder? O que é liderança?
Maria Teresa Bustamante (Maitê) – A liderança é exemplo. O líder tem o desafio de conseguir demonstrar que acredita naquilo que busca alcançar e tem conhecimento sobre os temas. O líder sabe como fazer e constrói confiança. Compartilha valores e objetivos. O líder é a soma. Ele sabe que ninguém faz algo sozinho. O líder tem de reenergizar a sua equipe. E estar na linha de frente sempre.
O que a senhora aprendeu ao longo de sua carreira como executiva?
Continua depois da publicidade
Maitê – O profissional tem de ter clareza de aonde quer chegar. Ter um norte. Se não sabe, a carreira vira roleta. Pode acontecer de dar certo, mas pode acontecer de não dar. Aprendi que, como se lida com pessoas dos mais diversos matizes e características, o líder tem de ter um olhar muito sereno.
Por quê?
Maitê – Porque você lida com um emaranhado de situações desconhecidas, complexas. Lidar com gente é um desafio constante.
O que é necessário para um jovem se tornar um executivo, um empresário de sucesso?
Maitê – A chave é, sempre, o conhecimento. Há alguns elementos fundamentais para o êxito. Além de conhecimento, é preciso saber ter jogo de cintura para se relacionar com pessoas, ter clareza de que faz parte de um todo e conseguir trabalhar em conjunto. Também é importantíssimo ter disciplina. Repito: a chave é o conhecimento. Você tem de ser o melhor naquilo que faz.
Às vezes, o cargo que se ocupa está em desacordo com o conhecimento.
Continua depois da publicidade
Maitê – O título do cargo é meramente ilustrativo de um organograma. O executivo, o empresário tem de ter conhecimento internalizado, mas isso, por si só, não basta. O saber tem de te levar à ação consequente.
O que o empresário não deve fazer? O que dá errado?
Maitê – O empresário deve saber que o sucesso não é fácil de se conquistar. Muito menos de manter. Então, ele não deve dormir nos louros obtidos anteriormente. Ele não pode esquecer que todos os dias está aprendendo. Por isso, deve estar atento, sempre, aos desafios que surgem.
Nessa jornada pode acontecer equívocos
Maitê – O erro do empresário é achar que o título que ostenta é tudo o que ele precisa. Uma lição importante: quanto mais alto se chega, mais prudente deve ser. Não pode ser impetuoso, não pode ser ansioso. O individualismo é outro problema grave.
Quais as oportunidades que não se deve desperdiçar?
Maitê – As oportunidades surgem à tua frente a cada instante. Basta você enxergá-las. Para isso, é preciso estar alerta ao que acontece no entorno.
Continua depois da publicidade
É possível planejar o sucesso?
Maitê – Sem dúvida, certamente é possível planejar o sucesso. É possível você planejar o que fazer para alcançar o sucesso e a realização.
Qual foi teu maior erro ao longo da carreira?
Maitê – Não faço ideia. Não consigo identificar. Ao longo da vida precisei tomar decisões drásticas. Mas sempre ouvindo os outros. Talvez tenha julgado algumas situações de modo equivocado. A maturidade auxilia a medir melhor algumas falas. Meço mais as consequências.
E qual te u maior acerto?
Maitê – Foram alguns. A escolha do marido. A escolha da profissão. Sou apaixonada pelo que faço. Vivo com essa paixão. A gente coloca a alma no que faz. Não há cansaço. A minha paixão está em vivenciar o comércio internacional.
O fracasso ensina?
Maitê – O fracasso ensina. E muito! O fracasso é consequência de não ter analisado adequadamente todas as circunstâncias relacionadas ao problema. O fracasso é efeito de agir sem verificar detidamente todos os aspectos. Para buscar as melhores soluções é preciso enxergar e dispor das melhores informações e conhecimento.
Continua depois da publicidade
Quem é teu guru?
Maitê – Admiro muito o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama. Ele deixou um legado de conhecimento e de como se deve agir. É uma referência global, tanto como pessoa, tanto como político. Também tem a escritora israelense Hannah Arendt. Ela é uma inspiração.
Como a política influi na vida empresarial?
Maitê – A política influi 100% na vida das empresas. É o eixo da vida empresarial. E pessoal. Não há como ser apolítico. A política está em você. A política te leva ao relacionamento. E relacionamento é fundamental.
O associativismo é decisivo para os negócios?
Maitê – O associativismo já era muito importante no século passado. No século 21 é essencialíssimo. Lembro que os negócios se tornaram virtuais. O associativismo é fator agregado, de aprendizados recíprocos. Agindo de maneira associativa, o empresário tem melhores condições de avaliar as circunstâncias. Sou defensora intransigente do associativismo.
O que mudou na tua prática e no teu pensamento ao longo dos últimos 20 anos?
Maitê – Mudei muito. E muita coisa mudou também. Mudou por exemplo, a compreensão das coisas. O aprendizado tem de ser contínuo. Vivenciar a nova era digital não é fácil. Nestes 20 anos tornei-me pesquisadora PhD. Mergulhei na vida acadêmica, tanto como aluna como quanto professora. A vida docente e a vida nas empresas se complementam.
Continua depois da publicidade
Algum livro inspirador, marcante?
Maitê – “A Condição humana”, de Hannah Arendt, sem nenhuma dúvida. Ela instiga, mostra que pensar te liga àquilo que o mundo te oferece de melhor. E de pior.
Este conteúdo faz parte do projeto que marca os 20 anos da coluna econômica do jornalista Claudio Loetz. Até dezembro, 20 empresários vão compartilhar, neste espaço, conhecimentos, informações e visões em formato de grande entrevista.