O empresário Luiz Selbach é formado em Economia pela Unisinos e em Direito pela Associação Catarinense de Ensino (ACE),, de Joinville. É oficial militar R2, formado pelo CPOR de Porto Alegre. Foi, durante dez anos, executivo da empresa Olivetti. Ao se desligar, fundou a Selbetti, em 1977. Atualmente, é presidente da Selbetti Gestão de Documentos S/A.
Encontro o empresário Luiz Selbach no escritório, em Joinville, para uma conversa sobre ideias, modos de gerir o negócio e lições de vida. Fundador da Selbetti Gestão de Documentos e à frente da companhia há 42 anos, transformou a organização na maior da região Sul do Brasil no segmento. Com aquisições sucessivas – foram 12 em cinco anos –, a companhia caminha para atingir a liderança nacional.
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Avesso a modismos, gosta do livro “Felicidade”, de Eduardo Gianetti da Fonseca, tem Jim Collins como guru e admira conceitos do filósofo romano Sêneca. Reconhece que ainda se aprende muito com a observação de resultados. Na trajetória como empreendedor, recolheu inúmeros aprendizados. Um para ilustrar a fala dele:
— Não se escolhe as circunstâncias; são elas que empurram o empresário. Por isso, demorar para tomar decisões é um grande equívoco.
Aos jovens empresários, ele deixa uma recomendação: é preciso ter tolerância com o erro.
O que caracteriza a liderança? O que é ser líder?
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O líder deve ser alguém que reúna mais do que hard skills, ou seja graduação, cursos e experiências profissionais de gestão. O líder deve estar conectado aos valores da organização e inspirar os liderados. Um líder deve ter comunicação eficaz, criatividade, resiliência, empatia e ética. Portanto, não é o cargo que habilita a pessoa a ser um líder, mas as competências comportamentais, abertura para a aprendizagem constante, busca por inovação, capacidade de formar líderes vencedores e ousadia. Não pode instigar medo, mas influenciar positivamente as pessoas. Destaco a resiliência: manter o equilíbrio psicológico e emocional nas adversidades e na euforia.
O que aprendeu ao empreender?
Aprendi a estudar mercados para me antecipar para ter vantagens que possam ser determinantes, cruciais em relação à concorrência. Não é possível entregar soluções sem permitir que as equipes tenham espaço para tomar decisões com velocidade.
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Como isso se dá nas relações de negócios?
Isso acontece com a abertura ao diálogo e à inovação. Na relação com cliente, buscamos identificar pessoas capazes de transmitir com eficiência as informações, com capacidade analítica não só nas questões técnicas, como culturais. Mais do que entregar valor para o cliente, buscamos mostrar que somos dignos da confiança dele.
O que é necessário para um jovem se transformar em empresário de sucesso?
Ter ética, empatia, criatividade, tolerância a erros, coragem e capacidade de influenciar pessoas. Precisa ter bons princípios e espírito de solidariedade. Deve estar aberto à aprendizagem constante. E também é necessário formar equipes capazes de se identificarem com os valores e metas da organização.
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O que o empresário não deve fazer? O que dá errado?
Ele não deve ser imediatista. O planejamento é fundamental. Vejo essa nova geração sempre pensando onde aplicar o que aprende no agora, e descartando com muita rapidez ideias e lições valiosas. Não é saudosismo, nem apego ao passado, mas modismos são perigosos. Ainda se aprende muito por observação de resultados. Deve-se estabelecer metas de curto, médio e longo prazos.
Muitos só olham para o curto prazo?
Normalmente o mercado muda e não se está preparado. É possível que consumidores migrem para a concorrência sem que a empresa tenha monitoramento adequado.
Onde estão as oportunidades que o empresário não deve desperdiçar?
Todos os dias as oportunidades estão aí. Aliás, manter controlado o nível da ansiedade faz despertar a atenção para identificar essas oportunidades em todos os momentos. O que não pode fazer é demorar para decidir. Uma frase que gosto muito é: “A demora para decidir também é uma decisão”. Errada, claro.
É possível planejar o sucesso?
Certamente. O sucesso pode ser visualizado. Acredito que as condições para atingi-lo possam ser mapeadas. Os obstáculos também. E, assim, traçar o caminho. Na minha metodologia, isso se chama de fé, trabalho duro e confiança no time.
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Qual foi o maior acerto?
Foi ter tido a ousadia de deixar a função de executivo da Olivetti para empreender e fundar a Selbetti, em 1977. Também vendi imóveis para investir e ter caixa para sustentar o negócio quando entrei no segmento de outsourcing. Foi o momento mais importante porque exigiu grande capital, pois ficar refém de banco é perigoso.
A sucessão está encaminhada?
Outro acerto foi ter feito o encaminhamento adequado para a sucessão da companhia. Continuo como CEO, mas o caminho está dado internamente. Montamos uma holding e tenho filhas no conselho, e sobrinho em cargo executivo. Pensamos na perenização do negócio. O empreendedor não escolhe as circunstâncias. São as situações que vão ao encontro do empreendedor.
Qual foi o maior erro?
Por algum tempo, acumulei funções e centralizei demais as tarefas. Depois de perceber isso e de redistribuir estas missões, as coisas funcionaram muito melhor. E há pessoas que fazem melhor do que eu. É por isso que a Selbetti consta, anualmente, na lista das 150 melhores empresas para se trabalhar.
Quem é o seu guru?
É Jim Collins. Ele fala sobre gestão de pessoas. Trago algumas frases inspiradoras dele:
– As pessoas certas se encaixam nos valores da corporação.
– As pessoas certas não precisam ser gerenciadas de perto.
– As pessoas certas compreendem que não têm emprego; têm responsabilidades.
– As pessoas certas fazem 100% do que realmente se propõem a fazer.
– As pessoas certas têm uma enorme paixão pela empresa e pelo trabalho que exercem.
O que mudou no pensamento e na prática ao longo dos últimos 20 anos?
Aprendi que felicidade significa refletir sobre o que é importante na vida. É ponderar os méritos relativos dos diferentes caminhos. Importante é administrar a tensão entre progresso e felicidade. Na vida, precisamos ter leveza nos relacionamentos pessoais e profissionais.
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Algum livro inspirador?
Gosto muito do livro “Felicidade”, do economista e professor Eduardo Gianetti da Fonseca. Conta a história de quatro personagens diferentes cujas vidas e histórias vão se entrelaçando. Também gosto muito de uma frase do filósofo romano Sêneca: “Nullum officium referenda gratia magis necessarium est”. Em português significa: “Nenhum dever é mais importante do que a gratidão”. O líder deve estar conectado aos valores da organização e inspirar seus liderados. Não é o cargo que habilita a pessoa a ser um líder, mas suas competências comportamentais.
Este conteúdo faz parte do projeto que marca os 20 anos da coluna econômica do jornalista Claudio Loetz. Até dezembro, 20 empresários vão compartilhar conhecimentos, informações e visões em formato de grande entrevista.