A lição é do CEO do Perini Business Park, engenheiro Marcelo Hack, há 18 anos no empreendimento. Nesta entrevista, ele fala de valores de vida e formas de gerir o negócio. Afirma admirar profissionais com coragem para emitir opiniões discordantes das do líder. Entende que a centralização de poder é problema para as organizações e argumenta: “os empreendedores têm de ter capacidade de enxergar o que os outros não veem.”
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Marcelo Hack é presidente do grupo Perini na América Latina. Engenheiro civil com MBA em Gestão Empresarial, também é o presidente para a América Latina da CisaBrasile e presidente da Perville Engenharia. Atua ainda como vice-presidente da Associação Empresarial de Joinville (Acij).
O que significa ser líder?
Acredito na liderança pelo exemplo: faça o que fala. Isso é essencial. O líder tem de ter segurança; o time tem de se sentir protegido, tem de ter um porto seguro no comportamento do líder. O líder deve mostrar a estrada para a resolução de problemas. Sou muito resolutivo; é um defeito meu.
Por que considera um defeito?
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Marcelo – Porque isso impede as pessoas de andarem pelas próprias pernas e de se sentirem mais confiantes para tomar decisões. A gente discute com os problemas; não com as pessoas. Se houver decisões equivocadas, vamos conversar, avaliar o que ocorreu; não punir. Aqui está claro: ninguém é punido por suas decisões. O que temos é que cobrar responsabilidades, o que é outra coisa. Pautamos o comportamento por valores claros: respeito, ética e busca por resultados. Não abrimos mão disso.
O que aprendeu ao empreender, nestes anos à frente do Perini Business Park?
Quanto mais trabalhamos, mais percebemos que conhecemos pouco ao nosso redor neste mundo tão veloz e interdependente. Sempre podemos ter novo benchmarketing. Estou no Perini há 18 anos. Tenho o privilégio de estar num local e num trabalho que abre a cabeça para o que acontece no mundo. Não há negócio que não possa ser melhorado. O bom é transformar o que se tem – e se transformar junto.
O que é fundamental para um jovem ser um empresário de sucesso?
O jovem precisa ter ética. Tanto na vida pessoal, como na profissional. Quem não pratica a ética pode chegar mais rapidamente ao sucesso, mas será um sucesso de vida curta. Gosto de profissionais que defendem seus pontos de vista, que contrariam seus superiores. Tenho apreço grande.
Por quê?
Porque sempre as melhores ideias são as nossas ideias; não a minha ou a tua ideia. O coletivo deve prevalecer. Gosto dos jovens que têm coragem de expor suas ideias. Os jovens e os profissionais em geral têm de ter mente aberta para o novo. As pessoas têm de gostar do que fazem; não apenas fazer o que gostam. Porque quem faz só o que gosta carrega grande potencial de frustração. E transparência também é fundamental.
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O que o empresário não pode fazer – o que dará errado?
Não pode fazer ilícito, é lógico. A centralização é problema sério, mas acredito na estrutura hierárquica, com delegação, mas controle. Delegar, sim. Delargar, jamais. Empresário que delarga está fadado ao fracasso. É como numa obra: você tem de orientar o que deve ser feito no começo do dia e conferir o resultado no fim do dia. A gente não precisa estar inserido no processo, mas acompanhar o desempenho.
Quais oportunidades não se pode desperdiçar?
Feeling é algo pessoal. Há os que sentem que algo pode ser um bom negócio, mas não estão preparados naquele momento. O empreendedor tem de ter a capacidade de enxergar coisas que outros não conseguem ver.
Algum exemplo pessoal?
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Trazer o campus da UFSC para dentro do Perini é o melhor exemplo. Foi o projeto que comandei pessoalmente. Também criar o Ágora Tech Park foi uma oportunidade percebida pelo nosso pessoal. Vimos aí um grande potencial de expansão de negócios.
É possível planejar o sucesso?
O sucesso advém da inteligência, de insights e da velocidade com que se transforma boas ideias em prática. O sucesso não está vinculado ao volume de trabalho. 90% do planejamento estratégico das empresas não saem da gaveta.
Qual teu maior acerto?
Bom, me sinto muito parte de um todo – e pouco chefe. Quem faz e acontece é o time. O grande acerto foi ter vindo trabalhar aqui no Perini, há 18 anos.
E maior erro?
Demorei muito tempo para compreender que as pessoas funcionam de forma diversa. Engenheiro tem dificuldade com gente. Engenheiro tem resposta para tudo. Eu poderia ter melhorado a gestão de pessoas há mais tempo.
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Quem é teu guru?
Ah, o Fábio Perini, sem dúvida. Foi meu mentor nos primeiros cinco anos aqui, de maneira muito intensa. Ele foi muito presente na minha formação em termos conceituais e valores. Hoje, claro, isso já não é mais tão frequente.
O que aprendeu com ele?
O que aprendi com ele? Aprendi que, às vezes, é necessário dar um passo atrás para dar dois passos adiante. Aprendi que é preciso cada um ceder um pouco para ambos poderem ganhar.
Alguma lembrança?
Certa vez, estávamos na fazenda na Bahia discutindo concepção de casas para trabalhadores. Fiz meu projeto; ele fez o dele. E cada um defendendo seu ponto de vista. Ficamos nisso por um dia e meio. Aí estava cansado dessa situação e falei para ele: “faz um dia e meio que estamos nisso aqui sem sair do lugar. Acho que essas tuas ideias são boas, Fábio”. Dez minutos depois, ele me disse: “acho que tuas ideias também são boas”. E entramos no acordo. Ceder é necessário para se conquistar resultados melhores para todos.
O associativismo é importante?
É lógico! Acredito que é importante a gente poder dar de volta à sociedade parte do que se conquistou, parte do sucesso obtido, e ajudar a quem não teria como chegar lá isoladamente. Aliás, o Perini é exemplo acabado de prática associativista que dá certo.
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O que mudou em seu comportamento nestes últimos 20 anos como executivo e empresário?
Mudou a forma como vejo os problemas. Compreendo, hoje, que a resolução deles é só uma questão de tempo. Isso muda muito a forma como se percebe as situações. Eu me estressava muito. Hoje, vejo as coisas com muito mais tranqulidade. O ímpeto de antes diminuiu. Atualmente, com mais maturidade, faço muito mais com menos esforço.
E no aspecto pessoal?
Já não tenho que provar nada aos outros. Não é mais necessário me apresentar com cartão de visitas mostrando que sou CEO do Perini. Meu cartão de visitas pessoal não tem o cargo. Claro que, em circunstâncias de contatos mais institucionais, o cartão com cargo é necessário, mas, no geral, não. A segurança chegou.
Este conteúdo faz parte do projeto que marca os 20 anos da coluna econômica do jornalista Claudio Loetz. Até dezembro, 20 empresários vão compartilhar, neste espaço, conhecimentos, informações e visões em formato de grande entrevista.