Em conversa de 85 minutos, o empresário jaraguaense Vicente Donini revela a sabedoria que o levou ao êxito. Destaca a importância de focar no negócio e anota: “não devemos perenizar no cargo de comando, sob pena da empresa envelhecer”. E também ensina: “é necessário transformar o conhecimento em ação que gere riqueza e bem-estar social”.
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O que caracteriza uma liderança? Quais atributos deve ter um líder?
Vicente Donini – O líder é aquele que tem seguidores. Aquele que é coerente entre a fala e a prática. Dar exemplo é fundamental para ter credibilidade junto aos demais. Crédito, credibilidade é o maior valor necessário ao líder. Aqueles que pregam, praticam e realizam são observados.
Liderança se constrói, ou é algo inato?
Donini – Acredito no DNA das pessoas. Mas é no exercício cotidiano que se constrói a liderança. Isso se dá, inclusive, junto à comunidade.
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O que o senhor aprendeu ao empreender?
Donini – Sempre quis me cercar de pessoas mais capazes do que eu. Aprendi que temos de absorver, interpretar o que outros dizem e fazem para poder discernir e, então, tomar decisões. Não adianta um poço de sabedoria. É preciso transformar a sabedoria em ação para gerar riqueza.
Como isso repercute junto à comunidade?
Donini – Temos grande responsabilidade para com a sociedade e também em relação às pessoas que nos seguem. O líder tem de ser agente do progresso. Isso deve se dar nos âmbitos econômico e social. O lado econômico é determinante porque, a partir dele, podemos alcançar maior bem-estar social.
é importante ter foco. Não dá para atirar para todos os lados. Se fizer assim, vira aprendiz de tudo e não é profissional de nada
Como um jovem pode se transformar em um empresário de sucesso?
Donini – A vida é sempre feita de escolhas. O profissional tem de se dedicar com afinco. Precisa de muita dedicação, e muita disciplina. Os jovens atuais têm acesso a uma enormidade de informações. Hoje ele tem de estar conectado. Mas, naturalmente, seletivo e filtrar bem a quantidade de dados. E verificar o que pode alavancar o negócio.
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Isso significa?
Donini – Isso significa que é importante ter foco. Não dá para atirar para todos os lados. Se fizer assim, vira aprendiz de tudo e não é profissional de nada.
Paixão pelo trabalho é essencial?
Donini – Sim, é. Mas às vezes as pessoas se apaixonam pelo produto; as pessoas têm de se apaixonar pelo negócio. Digo isso porque a única certeza é que viveremos num mundo com grandes mudanças. E cada vez com maior velocidade. E o negócio precisa acompanhar as transformações.
O que um empresário não deve fazer? O que dá errado?
Donini – Um grande equívoco é quando ele se envolve em múltiplas frentes. Agindo dessa forma, ele dilui a capacidade de fazer benfeito. A dispersão das realizações compromete o resultado final.
Onde estão as oportunidades que não se pode desperdiçar?
Donini – O empresário deve ficar extremamente atento aos movimentos do mercado. Mas o ponto focal é – e sempre deverá ser – o do bem-estar coletivo. Olhar para o que gravita no entorno e com atenção ao bem-estar. Hoje e para os próximos cinco, dez anos. Perceber para onde caminha a humanidade.
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Enxergar o futuro…
Donini – Sim. Perceber como os líderes estão enxergando o futuro. A sociedade vive mais tempo. As pessoas estão ficando mais longevas. Asim, há oportunidades de negócios para atender necessidades desse público. É um segmento com poder aquisitivo e que tem demandas próprias. Gastronomia focada para estes consumidores, por exemplo, é uma ideia. Tudo tem de estar ao alcance das mãos e ser facilitado.
É possível planejar o sucesso?
Donini – Ah, sim. No passado, a sociedade tinha desejo de ter. E sucesso era medido e estava atrelado a patrimônio. Passamos para o conceito de ser. Ser com capacidade para construir. Meu trabalho é para construir. Minha realização está na capacidade de construir, de transformar. Aí, o ter é consequência.
É mais adequado olhar para fortalecer as habilidades e competências ou agir para tentar minimizar as fraquezas?
Donini – Onde você quer chegar daqui a cinco anos? Dez anos? O adequado é procurar saber o que é preciso fazer. Importante é identificar fortalezas e deficiências. As fraquezas são inatas; por isso é relevante desenvolver mais as fortalezas. Sempre fiz meu planejamento de vida.
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A sua trajetória é de êxitos.
Donini – Tenho prazer em realizar. Não para mim; mas deixar para os outros. Vou trabalhar até o último dia de vida porque tenho paixão. Saí do comando executivo da Marisol há alguns anos. Agora estou no conselho da companhia. Posso fazer a viagem junto, mas não preciso estar pilotando.
Qual foi o seu maior acerto?
Donini – Foi me cercar de pessoas capazes. Sou, sempre, um aprendiz. O esforço é para aprender a aprender o novo.
E o maior erro?
Donini – Subestimar o tamanho dos desafios e me envolver em negócio para o qual não estávamos preparados. O exemplo é quando investimos na marca Rosa Chá. A Marisol é focada em produtos para crianças. O público da Rosa Chá não era o nosso público. Não tínhamos vocação para conviver com o mundo das celebridades. A gente só aprende com os erros. Dói na alma, no bolso. Não se deve ultrapassar nossas competências.
Temos que nos reger por regras. A política tem grande influência na vida das organizações. Convivemos com os poderes constituídos – Executivo, Legislativo e Judiciário. O Legislativo é fundamental. Pena que nem sempre seja formado pelas melhores cabeças
Quem é seu guru?
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Donini – É Eggon João da Silva, um dos fundadores da WEG. Me espelhei nele a vida toda. A WEG foi planejada antes de começar a execução. Ele me ensinou que o trabalho tem de ser remunerado pelo trabalho. E o capital tem de ser remunerado pelo resultado. Eu fui o primeiro diretor da WEG. Ele era rígido, mas extremamente justo. Aprendi com ele que onde todo mundo fala, ninguém se entende. Tem de ter um líder.
A política influencia nos negócios?
Donini – Temos que nos reger por regras. A política tem grande influência na vida das organizações. Convivemos com os poderes constituídos – Executivo, Legislativo e Judiciário. O Legislativo é fundamental. Pena que nem sempre seja formado pelas melhores cabeças. Somos, todos, agentes políticos, embora não necessariamente partidários.
O associativismo é importante?
Donini – Participar de associações é importante. As entidades representam interesses de determinada categoria. O convívio com o associativismo ajuda, construtivamente, na tomada de decisões para viabilizar a sustentabilidade das empresas.
O que mudou no seu pensamento – e na prática – ao longo dos últimos 20 anos?
Donini – Nossa geração vivenciou 14 planos econômicos e todas as moedas, à exceção das do tempo da Colônia e do Império. Só por isso, tivemos de nos reinventar continuamente. No topo de uma organização só há uma cadeira. E não devemos ficar nela por muito tempo. Temos que sair dessa posição para outro, mais jovem e preparado assumir o lugar. Não podemos perenizar no cargo. Se não, a empresa envelhece.
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Algum livro inspirador?
Donini – Gosto muito de biografias. São reveladoras. Minha leitura preferida é a história de Atílio Fontana, da Sadia. Também há a do Plínio de Nes; do barão de Mauá; de Francisco Matarazzo; de Chateaubriand. Temos, aqui no país, ricas histórias que podem ser ensinadas nas universidades.